Enrique Sáez: “A língua própria é a mais singela e barata ferramenta para o desenvolvimento económico e cultural que Galiza tem e não emprega”

“Negócios internacionais e afinidades culturais”. Contributo de Enrique Sáez na jornada «Notas para intervir em “Galiza na Lusofonia dos anos 20”»

«Case todos admitimos que os falantes de galego e português têm capacidade de perceber-se, falam línguas muito similares. Tive ocasião de aproveitá-lo durante os 12 anos que fui responsável pela presença do Banco Pastor em Portugal, através de uma filial especializada em fornecer crédito ao consumo a clientes de comércios e empresas de serviços. Case todos os meses passava um par de dias na central do Porto. Desde o princípio, empreguei o meu galego, aportuguesado, com clientes, parceiros, empregado, conselheiros, assessores e autoridades bancárias. A equipa humana era local, tomavam-me como um mais e falavam-me com naturalidade na sua língua. Devo acrescentar que, graças a esse contacto periódico, melhorei muito o domínio de um idioma que não é a minha língua materna.

São muitos os que contam com experiências similares e sabem que é muito importante falar o idioma local para fazer negócios e desenvolver estruturas operativas. Acredite muita empatia e faz todo mais singelo. O galego é uma poderosa arma de competência. Da acesso a uma comunidade de 300 milhões de falantes do português, mais numerosa que as do francês, alemão ou russo. Como pessoa com formação em economia e vencelhada ao mundo da empresa, devo destacar que a língua própria, que diz o Estatuto é a mais singela e barata ferramenta para o desenvolvimento económico e cultural que Galiza tem e não emprega.

Estamo-la desaproveitando, mergulhados numa identidade nacional na que o espanhol é o único idioma com projecção mundial. O galego também a tem, mas é prisioneiros de “guerras de religião” sobre como escrever ou como incorporar ao ensino o português. A Lei Valentín Paz Andrade do 2014 é o melhor exemplo de como o sistema político-burocrático pode frenar um processo de trazer riqueza a Galiza.

A magnífica exposição de motivos dessa norma, diz: “No actual mundo globalizado, as instituições galegas, comprometidas com o aproveitamento das potencialidades da Galiza, devem valorizar o galego como uma língua com utilidade internacional…. É preciso fomentar o ensino e a aprendizagem do português, com o objectivo, entre outros, de que empresas e instituições aproveitem a nossa vantagem linguística… Portanto, para a melhora do desenvolvimento social, económico e cultural galego, as autoridades devem promover todas quantas medidas sejam possíveis para melhor valorizar esta vantagem histórica.”

Mas o barco que ia pôr o nosso idioma no mundo leva uma eiva no motor que lhe impede arrancar. Está no artigo 2º que diz “O Governo galego incorporará progressivamente a aprendizagem da língua portuguesa no âmbito das competências em línguas estrangeiras nos centros de ensino da Comunidade Autónoma da Galiza.” Ou seja, ensinar o português aos adolescentes que falam galego como se fora chinês. Eles já sabem que não é necessário perder tanto tempo e não se apontam. A lei fracassou.

Desde a incorporação à União Europeia dos dois países ibéricos erguem-se pontes que nos achegam aos vizinhos do sul. A primeira foi a libertação do trânsito mercantil com a queda dos aranceis. Muitas empresas galegas aprenderam a internacionalizarem-se em Portugal. Galiza integrou-se mais na fachada atlântica de Ibéria, sempre com um balanço comercial favorável. A segunda ponte foi a auto-estrada costeira que se sufragou com fundos europeus e reforçou o funcionamento do comércio. O dinamismo gerado foi a causa principal de que, desde os 90, Galiza tenda crescer mais que a média de Espanha e tenha abandonado o grupo de CCAAs menos desenvolvidas. Séculos depois, voltamos ser norte.

Está pendente a ponte do transporte ferroviário, que já entra nos planos dos governos de Espanha e Portugal, graças a que este é mais sensato e aposta no eixo atlântico em lugar do AVE radial para desenvolver um ferrocarril moderno que inclua o transporte de mercadorias e conecte cidades, portos e aeroportos.

A quarta ponte é a da língua, a mais barata pois chega com reforçar um pouco o que há. Também a mais importante porque nos leva além do Minho, além do Atlântico, além do Sáhara, além do Índico. Compre ensinar português, desde o galego, a 100% dos estudantes de ensino médio. Se se faz bem, chega com dois ou três meses para que possam comunicarem-se, oralmente ao menos. Há outras coisas que se podem fazer, não custariam muito dinheiro e ajudariam à projecção do idioma próprio no plano internacional: abrir a televisão digital a canais de Portugal e outros países lusófonos e que TVG adquira séries populares desses lugares, nomeadamente do Brasil, e, se é preciso, as subtitule em galego “normativo” nos primeiros tempos para melhorar a compreensão.

Como demonstrou a aprovação unânime da Lei Valentín Paz Andrade, há um grande consenso a favor de desenvolver a vertente mundial da língua que aqui nasceu e Portugal espalhou pelo planeta. Não é uma língua estrangeira, necessita-se só um pouco de imaginação e determinação, valores escassos no âmbito público, que perde muito tempo em questões marginais, agitadas quotidianamente por interesses corporativos. Os siareiros da Espanha uniforme aproveitam as pequenas liortas para bloquear-nos. Defendem interesses alheios, não querem que nós sejamos mais competitivos graças a um idioma que menosprezam.

Galiza vai necessitar que a sua sociedade civil faça um grande esforço neste tema. O meu agradecemento à Deputação de Pontevedra e ao Igadi por organizarem estas jornadas para analisarmos e debatermos um problema mais grave que o do chapapote que invadiu as nossas praias há 20 anos, mas muito menos visível. Há demasiados interessados em agachá-lo, deitando-lhe areia acima, em lugar de limpar diferenças menores entre línguas de comum origem.

enrique-saez

Enrique Sáez Ponte (cf. blogue pessoal) é licenciado en Económicas e Dereitos pola Universidade de Santiago de Compostela (USC). Traballou durante trinta anos no Banco Pastor, onde desenvolveu distintas funcións de Dirección os últimos catorce. Actualmente é presidente do Grupo Torres & Sáez e da Fundación Juana de Vega. Tamén é patrón do Museo do Pobo Galego e membro do consello asesor do Instituto Galego de Análise e Documentación Internacional (IGADI).»

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NOTA: Notas para intervir em “Galiza na Lusofonia dos anos 20”, jornada organizada pelo IGADI para a Deputação de Pontevedra. Casa das Campás. 3/11/22

Cf. IGADI

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