«Português nas escolas, português na Galiza»

Associação de professoras e professores de Língua Portuguesa Fomentar o ensino da língua portuguesa, da cultura e a realidade dos diferentes países onde é língua oficial

«A Associação de Docentes de Português na Galiza (DPG) foi constituída em 2008 e representa hoje o conjunto de professores de português de todo o ensino galego.

No entanto, foi o professor Carlos Quiroga numa data recuada como a de 1989, quem pela primeira vez lecionou português na EOI da Corunha, iniciando assim a oferta da matéria fora das universidades.

Língua mundial e pluricêntrica, oficial em 10 estados e em Macau, na China, é língua de mais de 250 milhões de pessoas, encontrando-se entre as 10 mais faladas a nível mundial.

No ensino galego é uma disciplina que tem vindo a reforçar não apenas o contacto e reconhecimento de variedades de português do Brasil, da África ou Europa mas contribuindo também no (re)conhecimento de galego do nosso alunado, e no reforço de áreas gramaticais em declínio por causa do castelhano. Sirvam de exemplo os nomes comuns dos dias da semana ou formas gramaticais únicas como o futuro do conjuntivo ou o infinitivo conjugado, de uso diário em textos portugueses.

Nestes 15 anos da associação muito se tem feito para alavancar políticas públicas em favor do ensino regrado de língua portuguesa e muitas outras restam ainda por fazer em projetos em andamento.

Sendo realistas, o progresso em termos absolutos tem sido relativamente pequeno para um governo que quisesse levar a aprendizagem da língua portuguesa ao conjunto da sociedade.

Por etapas educativas, deveremos começar pelo ensino primário. Nesta área o número tanto de estudantes como de docentes (a maior parte dependentes de um programa do Instituto Camões) tem vindo a diminuir nos últimos anos sem qualquer política de promoção ou permanência, tendo agora um carácter apenas residual: uns 4 docentes e nem meio centenar de estudantes.

No secundário e bacharelado, a matéria pode ser estudada como primeira língua (obrigatória ao mesmo nível do inglês) ou segunda língua (de opção como francês, italiano ou alemão) nuns 70 centros da Galiza, sobre o total aproximado de 300 escolas secundárias. Contudo, continua a ser lecionada maioritariamente por pessoas de outras especialidades (fundamentalmente de Língua e Literatura Galega). Uma situação transitória que se poderá ir resolvendo com a convocatória continuada de oposições onde adquirir a especialidade.

A esta situação de transição devemos em muitos casos a debilidade da matéria: dificuldade em poder manter a oferta de português cada ano no mesmo centro se houver mobilidade de docentes, ausência de departamentos próprios que permitam dotar de recursos e alargar a oferta da matéria (por exemplo como primeira língua) ou a problemática em caso de baixas laborais que podem ser substituídas por pessoal de uma outra especialidade que não português.

Quanto à legalidade vigente, o Parlamento aprovou por unanimidade em 2014 a Lei 1/2014, ou Paz Andrade, definindo três áreas estratégicas: introdução do português no ensino, recepção de meios de comunicação em português e ação exterior focada na Lusofonia. Quase uma década depois este novo quadro legal continua sem desenvolver em normas e decretos menores na área de ensino, pelo que a presença da língua portuguesa nas escolas não é fruto duma planificação de tal nome.

No que diz respeito à consideração do corpo docente e a nossa estabilidade laboral, foi em 2019 quando a administração galega se viu obrigada a convocar as 4 primeiras vagas, oficiais e por concurso público, da especialidade de Português no secundário. Apenas outras 10 foram convocadas em anos posteriores até o de agora; sendo que, entre novas vagas e aquisição de especialidade por docentes já em ativo anteriormente, existe hoje um corpo docente de uns 24 funcionários e 40 substitutos, 64 docentes ao todo, da especialidade no secundário.

Nas EOI lecionam português um conjunto de 23 funcionários e 49 substitutos. O português tem presença em quase todas as escolas e em seções menores, com exceção da EOI de Riba d‘Eu, Viveiro e Monforte de Lemos. Paradoxalmente, apesar de existir uma Eurocidade Verim-Chaves, o português não é lecionado nessa secção.

Na Formação Profissional incluíram-se este ano sete novos ciclos PluriFP em Português, que se juntam aos outros sete iniciados no ano passado. A tendência a implantar cada vez mais cursos nesta língua é claramente crescente vista a evolução desde o início de PluriFP e o interesse do professorado galego em certificar o nível B2 para depois poder ofertar esta modalidade nos seus liceus. Os cursos para preparar os exames de certificação cofinanciados pela DPG no ano passado foram um sucesso de participação.

Já no contexto universitário é notável a consolidação de estudos relacionados, assim como programas Erasmus ou Iacobus nas três universidades galegas. Além disso, nos Centros de Línguas Modernas também se oferece a matéria. No entanto, é importante notar que no currículo do grau de Língua e Literatura Galegas da USC, a disciplina de Língua Portuguesa não é de carácter obrigatório, podendo haver docentes desse grau que nunca tiveram contacto com o português.

Se compararmos Comunidades Autónomas, um número próximo a 6.000 pessoas estudaram português no nosso país em 2023, face a umas 25.000 na Extremadura. Contando com um terço da nossa população, são números que mostram a aposta decidida do governo da Extremadura em contraste com as prioridades do governo galego.

No que diz respeito ao estado espanhol, Espanha entrou para a CPLP em 2021 como Observador, ao que se junta a existência de três entidades galegas reconhecidas: o Conselho da Cultura Galega, a Academia Galega da Língua Portuguesa e a nossa própria associação.

Já quanto ao futuro imediato, a nossa associação entregou recentemente ao governo propostas de desenvolvimento da lei 1/2014 no nosso âmbito, incluindo um rascunho de decreto para o ensino. Pelo seu lado, o governo anunciou um ‘Observatório da Lusofonia’ em que, entre outras entidades, estará a DPG.

A nossa associação entende que a prioridade hoje passaria antes de mais por oferecer de facto a matéria na matrícula de todas as escolas ainda sem português e planificar a sua implementação.

Nota: Este artigo foi escrito pola DPG (Docentes de Português da Galiza) para o Novas da Galiza.»

PGL

 

Comemoraçom da I República Galega

Boa tarde, companheiras:

A iniciativa popular Estreleira convida às  Escolas de Ensino Galego Semente a participar na jornada de comemoraçom da I República Galega que se desenvolverá o dia 29 de junho em quatro lugares do País: Cabo Ortegal, Cabo Fisterra, Salvaterra e Três Bispos, tal e como se pode ver no cartaz anexo.

Como é sabido, dentro dos objetivos da Semente encontra-se a construçom nacional em aliança com outras entidades sociais e culturais. Neste caso, consideramos que a divulgaçom da nossa simbologia contribui positivamente para atingir este objetivo partilhado e por isso fazemos um chamado a todas as comarcas a participarem neste evento, no ponto geográfico de maior proximidade.

Para facilitar a organizaçom do evento, fago-vos o pedido de que cada comarca confirme o número aproximado de pessoas que assistirá, através do correio eletrónico ou do meu telefone.

Com os melhores cumprimentos,

Santiago Quiroga. Coordenador Nacional.

Telf.: 636 525 497

Escolas de Ensino Galego Semente

info@semente.gal

Projeção e debate do filme O Diamante Galego em Ponte Vedra

O evento decorrerá esta sexta-feira, dia 10 de maio, às 20:30 no local do Centro Social A Pedreira (rua Serra 36) em Ponte Vedra.

«N’O Diamante Galego reflete-se sobre o passado, o presente e o futuro dessa relação, adivinhando-se um fortalecimento da mesma, ao qual poderá contribuir também uma maior integração linguística.

Entre muitos outros nomes, n’O Diamante Galego participam políticos e políticas (Teresa Táboas, Pedro Puy, Xesús Gamallo), entre os quais os presidentes das câmaras municipais de Tominho (Sandra González) e Cerveira (Rui Teixeira); analistas (Antón Baamonde, Diego Sande); diretivos de organismos empresariais e institucionais (António Cunha, Xoán Vázquez Mao, Daniel Palau); e empresários e ex-empresários como José Ramón Pichel (de Imaxin-Software) ou Enrique Sanz Ponte (presidente da fundación Juana de Vega e ex-diretivo do Banco Pastor).

O documentário, filmado aos dois lados da raia, conta com apresentação de Tiago Alves e Ana Viqueira e foi produzido por Nós Televisión para a AGAL, sendo uma atividade subvencionada pola Deputação da Corunha.

Menos mal que nos queda Portugal

O Diamante Galego faz parte de um projeto mais amplo chamado Menos Mal que nos Queda Portugal que focava as vantagens do galego-português no âmbito económico e laboral. Neste projeto realizaram-se outras iniciativas, como um grupo de vídeos que exaltam o impacto da língua galego-portuguesa no âmbito profissional ou uma série de entrevistas no Portal Galego da Língua (PGL), realizadas ao longo do ano 2023, em que as pessoas inquiridas, muitas vindas do mundo político e empresarial, foram perguntadas em relação ao novo contexto económico gerado pela eurorregião.»

Cf. PGL

Sónia Engroba: «Não somos conscientes nem conhecedores do poder da nossa própria língua»

«[…] Com as colegas do Brasil o idioma não se tornou nenhum impedimento comunicativo, tudo correu muito bem, com o galego e o português. A minha família adorava falar com as miúdas alegres que enchiam a casa de felicidade e de coisas novas e exóticas que elas contavam de Minas Gerais. Gostei muito dessa interconexão. Eram mundos tão diferentes, tão distantes e ao mesmo tempo tão compreensíveis.

Se tivesses de explicar às tuas amigas e amigos de Cospeito, porque vives o galego como sendo a mesma língua de Portugal e do Brasil, o que lhes dirias?

Dir-lhes-ia que não somos conscientes nem conhecedores do poder da nossa própria língua. Na verdade, temos um tesouro que nos permite comunicar internacionalmente. Isso torna o nosso idioma numa ferramenta comunicativa muito valiosa. Além da comunicação, também nos permite sentir-nos próximos a outras pessoas, a priori distantes, mas com as quais temos na fala muitas coisas em comum. Um exemplo claro está nos meus avós que se comunicaram muito bem com as minhas amigas brasileiras. Uma experiência que por acaso resultou com muito sucesso para todos, quer para os meus avós que ficaram muito cosmopolitas 😊, quer para as minhas amigas que sentiam os meus avós como seus próprios cá na Galiza […].»

Source: Sónia Engroba: ‘Não somos conscientes nem conhecedores do poder da nossa própria língua’ – PGL

Semellanzas gramaticais entre o galego e o portugués brasileiro – AC Alexandre Bóveda

«O xoves 18 de xaneiro, ás 19.30 h, teremos connosco a Victor Hugo da Silva Vasconcellos para falarnos das semellanzas gramaticais entre o galego e o portugués brasileiro. O galego, ademais de falarse na Galiza, conta con outras variedades en Portugal, Brasil, Timor-Leste e países africanos. Así, moitas estruturas lingüísticas son similares tanto no léxico como na gramática destas variedades. Victor Hugo da Silva pretende mostrar estruturas similares nas dúas variedades lingüísticas, rompendo a suposta impresión de que son dúas linguas diferentes aínda que a ortografía segue normas diverxentes. Para exemplificar estas semellanzas, empregaremos textos dos medios de comunicación do Brasil e da Galiza, facendo a presentación máis didáctica e dinámica. Victor Hugo da Silva Vasconcellos é doutorando en filoloxía galega e portuguesa na Universidade da Coruña. Foi profesor de lingua portuguesa e lingüística en colexios e universidades no Brasil.»

Cf.: Semellanzas gramaticais entre o galego e o portugués brasileiro – AC Alexandre Bóveda

“Galicia e o Norte de Portugal compartían a finais do Paleolítico un corpus artístico que revela nexos culturais”

«Dúas investigacións descobren os paralelismos existentes entre representacións de máis de 9.000 anos de antigüidade en Cova Eirós (Triacastela, Lugo) e o val do Côa

Cova Eirós, a única localización en Galicia que alberga manifestacións gráficas paleolíticas, e o núcleo artístico do val do Côa no Norte de Portugal —o conxunto rupestre ao aire libre máis extenso de Europa, conservando tamén unha destacada colección de arte moble— comparten convencións gráficas e un corpus artístico datado a finais do Paleolítico, hai máis de 9.000 anos, segundo revelan dúas novas publicacións científicas.

O artigo ‘El fin del estilo paleolítico: un caso de estudio en el Noroeste peninsular’ —publicado na revista Munibe— e mais o capítulo ‘The Palaeolithic Rock Art of Northern Portugal and Galicia’ —dentro dunha obra colectiva publicada na editorial Routledge— fan unha posta ao día sobre as representacións de finais do Paleolítico en Cova Eirós e o val do Côa, amosando a existencia de convencións e recursos gráficos compartidos nesta rexión.

A pesar da diferenza entre contextos, ambos os dous sitios posúen representacións que se remontan a momentos finais do Paleolítico, hai entre 9.000 e 12.000 anos, segundo as súas características estilísticas e os resultados obtidos das datacións radiocarbónicas —a partir de pinturas ou en contextos arqueolóxicos asociados ao fenómeno gráfico—. Este episodio gráfico tardío maniféstase tamén a través de diversas figuras —zoomorfas e antropomorfas— en varios lugares da Meseta e no leste da Península Ibérica.

Esas novas publicacións revelan a existencia de paralelismos estilísticos que permiten apuntar a existencia de convencións gráficas e un corpus artístico compartido na rexión en momentos finais do Paleolítico, ben sexa ao aire libre, en cova ou sobre plaquetas. Constátase a existencia dunha base estilística asentada, con continuidades e cambios específicos, que permite establecer analoxías entre Cova Eirós  e val do Côa, explorando a existencia de nexos culturais entre os diferentes grupos que habitaron este territorio.

Simultaneamente, estes estudos permiten resaltar o valor das manifestacións de Cova Eirós ao integralas no seo do fenómeno gráfico peninsular, relacionándoas con outros sitios artísticos de relevancia. Aínda que tradicionalmente o Noroeste peninsular se consideraba un territorio á marxe do fenómeno gráfico paleolítico, os achados realizados dende a década de 1980 demostran a presencia de grafismos adscritos ás diversas fases do Paleolítico Superior.

O estudo destas evidencias, tanto de Galicia como do Norte de Portugal resulta esencial para coñecer a esfera artística e simbólica das sociedades cazadoras-recolleitoras que transitaron e decoraron os espazos deste amplo territorio e as relacións entre ambos durante os momentos finais do Paleolítico.

A arte parietal de Cova Eirós (Triacastela, Lugo) e as evidencias gráficas —parietais e mobles— do val do Côa (Vila Nova de Foz Côa, Portugal) configuran o caso de estudo da publicación liderada por Tania Mosquera Castro do Grupo de Estudos para a Prehistoria do Noroeste–Arqueoloxía, Antigüidade e Territorio (GEPN-AAT e CISPAC) da Universidade de Santiago de Compostela, en colaboración cos investigadores Ramón Fábregas Valcarce, do mesmo grupo da USC (GEPN-AAT e CISPAC), André Santos (Universidade de Coímbra e UNIARQ), Xosé Pedro Rodríguez Álvarez (IPHES-CERCA e URV) e Arturo de Lombera Hermida (Universidad de Oviedo e CISPAC).

O artigo publicado na revista ‘Munibe Antropologia-Arkeologia’ focalízase no estudo comparado dun conxunto de representacións animais gravadas e pintadas pertencentes a momentos terminais do Paleolítico —tamén denominado Estilo V—. Un segundo traballo, liderado por Sofia Figueiredo e coa participación de Ramón Fábregas Valcarce, Arturo de Lombera Hermida e Xosé Pedro Rodríguez Álvarez, está integrado no volume ‘The Prehistoric Rock Art of Portugal. Symbolising Animals and Things’ e aborda os achados nas últimas décadas de arte paleolítica no Noroeste peninsular, entre os que destacan xacementos como Cova Eirós ou Foz do Medal —xa no norte portugués—.

Estas investigacións enmárcanse nun proxecto de investigación financiado polo Ministerio de Ciencia e a Consellería de Cultura, Educación, Formación Profesional e Universidades da Xunta de Galicia.»

Cf. Xornal da Universidade de Santiago de Compotela

Bieito Romero: “Portugalicia”

«Unha vez máis volvín de visita a Portugal e de novo quedei abraiado coas similitudes existentes coa nosa Galicia. Con razón o imperio romano delimitou ate o Douro ou quizais un pouco máis a fronteira sur da antiga Gallaecia, e se o fixeron así por algo sería. Estiven de novo por Valença do Minho, Viana do Castelo, Porto e desta volta achegueime ate a histórica Barcelos nun día de feira. Calquera destas poboacións son exemplo claro de que os parecidos son moito maiores que as diferenzas. Quizais entre as que nomeei, Porto como gran cidade teña algunhas características máis diferenciadas que as outras pero depende por que parte da cidade se transite. Xa se sabe que determinadas fronteiras están trazadas por cuestións políticas puntuais que ás veces raian claramente co inconcibible pero que trocan con claridade o trazo da historia e este é un deses exemplos. O parecido nas paisaxes é tan grande que semella unha prolongación na que non hai diferenza algunha. O clima é tamén factor clave no que o océano Atlántico define esa similitude. A pedra granítica é a predominante e condiciona tanto a paisaxe como a propia arquitectura construída de tal xeito que calquera das partes antigas dun lado e do outro da fronteira son indistinguibles.

O carácter das xentes lembra o mesmo xeito de facer as cousas, de comportamentos similares e de vivir a vida dunha maneira que aínda se pode percibir na Galicia máis auténtica. Tamén a gran relixiosidade mesturada con ritos ancestrais de orixe pagá amosados de forma ininterrompida. E como di o cantor Fausto Bordalo: «E assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal», frase á que non lle falta razón. Mais a miña percepción, despois de diferentes visitas en distintos tempos, é a de ver un país que avanza, que mellora, que sinte orgullo de seu, e que non lle dá as costas ás súas tradicións e costumes proxectándoas ao mundo.

Encántame escoitar e aprender dese galego do sur que se deu en chamar portugués que é falado no mundo por máis de 250 millóns de persoas con moi diferentes «sotaques». E coma sempre, Portugal é un magnífico lugar para gozar, aprender e practicar o noso galego tan castelanizado.»

Cf. La Voz de Galicia

Marco Neves e Sam The Kid estarão em Santiago de Compostela no dia 4 de dezembro – PGL

Marco Neves e Sam The Kid visitarão a Escola Oficial de Idiomas de Santiago de Compostela e o IES Xelmires II na segunda-feira dia 4 de dezembro. Estes dois comunicadores da língua portuguesa vêm falar sobre dois dos seus livros, sobre o português, sobre o galego e sobre tudo o que as pessoas quiserem perguntar.

Source: Marco Neves e Sam The Kid estarão em Santiago de Compostela no dia 4 de dezembro – PGL

Begoña Íñiguez: «O coração galego de Lisboa»

«A Lisboa do século XXI, as suas ruas mais movimentadas, alguns dos seus emblemáticos monumentos, canções, novelas e peças teatrais não se poderiam perceber na sua totalidade como os conhecemos sem o grande contributo, esforço e integração ao longo dos últimos três séculos dos numerosos galegos e galegas que cá chegaram, casaram com portugueses e deixaram a sua marca, ainda que 300 anos e picos depois poucos saibam que descendem de galegos ou que o seu apelido é de origem galega.

Os primeiros a chegar vieram no século XVII, procedentes do Sul da Galiza, fugindo da fome e da miséria, para trabalhar na construção do Aqueduto das Águas livres, a fazer o que quase ninguém queria fazer.

Já no século XIX e começos do XX, vieram à boleia dos avanços duma efervescente sociedade burguesa com grande poder económico, instalada na Baixa pombalina. Foi nesse momento que surgiram as primeiras tascas e restaurantes de galegos nessa zona, algumas das quais perduram até hoje com os mesmos nomes e prestígio ainda que, em muitos casos, com diferentes proprietários, como o Gambrinus ou o Solar dos Presuntos, para citar exemplos conhecidos. Poucos sabem que o bacalhau com grão, um prato tão tipicamente português, é galego. Ainda hoje perdura na cultura popular das aldeias do outro lado da fronteira e ficou para sempre na gastronomia lusa. O mesmo acontece com a típica ginjinha, que aparece em todos os guias turísticos e faz as delícias dos visitantes de todo o mundo. No Rossio ainda continua aberta a taberna mais antiga de ginjinha, fundada por um galego em 1840. Mas nem tudo se limita à gastronomia e às tabernas, já que no Teatro Nacional Dona Maria atuaram nessa altura numerosos atores galegos. Além disso, nas conhecidas tertúlias do Café Gelo, também no Rossio, participaram junto com Fernando Pessoa e Almeida Garrett numerosos intelectuais do outro lado do Minho.

Na altura da Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939, e posteriormente, quando se impôs o regime franquista em Espanha, instalaram-se em Lisboa galegos de diferentes estratos sociais, alguns intelectuais de esquerda e profissionais liberais, do bando republicano, fugindo do regime de Franco. Lisboa acolheu-os de braços abertos. Uns ficaram para sempre e outros aproveitaram para viajar até à América e instalar-se por lá, no México, na Argentina ou nos Estados Unidos. Muitos deles instalaram-se no Bairro Alto, onde abriu a primeira sede do Centro Galego de Lisboa, em 1908.

Nos anos 90 do século passado, a imigração galega em Lisboa mudou radicalmente. Os expatriados da Corunha, de Vigo, Pontevedra, Santiago e Ourense, formados nas melhores universidades, excelentes conhecedores de Portugal, dos portugueses e familiarizados com a sua língua pela influência do galego, foram escolhidos pelas suas empresas para se instalarem em Lisboa, dirigir as suas delegações em Portugal e formar os funcionários lusos na política da empresa. A partir de 2010, com a crise internacional e o resgate de Portugal, o expatriado galego em Lisboa diminuiu muito. Mas hoje a situação alterou-se, com a numerosa chegada de investigadores e estudantes de Erasmus galegos às universidades lusas, incentivados pela proximidade da língua e pelas parcerias entre as instituições do Norte e do Sul do Minho.

Quem quiser conhecer in situ a Lisboa mais galega, recomendo calçado cómodo, paciência e curiosidade para fazer um longo percurso a pé, cansativo mas muito interessante, que começa no belo palacete da sede do Centro Galego de Lisboa, na Rua Júlio de Andrade, junto ao Jardim do Torel, cedido pelo milionário de origem galega Cordo Boullosa. Depois, descer pelas numerosas escadinhas até às Portas de Santo Antão, ir até o Rossio e ao Teatro Dona Maria, subir pela calçada do Duque até ao Largo do Carmo, onde culminou a Revolução dos Cravos, em que participaram capitães galegos. Já no Bairro Alto é de paragem obrigatória, na Rua da Rosa, a primeira sede do Centro Galego, onde se realizaram ao longo dos anos muitos casamentos entre galegos e lisboetas, prova da grande integração que perdura até hoje.

Na populosa Bica moravam muitos aguadeiros galegos, na Rua Garrett, no Chiado, encontramos o prédio da livraria Bertrand, que foi propriedade de Cordo Boullosa, fundador da Galp. A rota bem pode acabar na Praça Martim Moniz, onde existiram numerosas casas de hóspedes e hotéis de galegos, além de restaurantes bem conhecidos que ainda perduram como o Ramiro.»

Cf: O coração galego de Lisboa