Carmen Villarino Pardo: «Nélida Piñon: a ponte galego-brasileira de uma ‘mulher de raça’»

Artigo que faz parte do especial “OGALUS: Lusofonia” polo día mundial da lingua portuguesa, 5 de maio do 2023 (Cf. IGADI)

Nélida PiñonNélida Piñon
Por iniciativa do Grupo de docentes de português do Departamento de Filologia Galega da USC, Nelida Piñon foi a primeira mulher nomeada Doutora Honoris Causa pela Universidade de Santiago de Compostela em 1998. Na foto com o Padrinho, o Professor Catedrático José Luís Rodríguez. Fonte: USC

«Nélida Piñon foi uma mulher forte e, de certo modo (e com a necessária cautela), parecia-se com várias personagens de suas obras, tanto de contos quanto de romances. Era também “uma mulher de raça”, como se alude a Marta, a protagonista da novela A casa da paixão (1972).

Esta escritora e intelectual brasileira (Rio de Janeiro, 1937-Lisboa, 2022) sempre manifestou um grande interesse por explicar seu país, sua cultura e, no fundo, por explicar sua singularidade. Foi uma autora ‘herdeira de diversas culturas’ e, muito especialmente, da galega, que lhe transmitiu sua família -procedente de Terra de Montes, em Pontevedra-, e da brasileira, de que sempre se sentiu parte.

Sua presença era habitual, há décadas, em numerosos congressos e encontros internacionais –incluídas feiras internacionais do livro-, para além de em instituições acadêmicas dentro e fora do Brasil. De fato, durante anos viajou com frequência por diferentes lugares do mundo, e não apenas nas últimas décadas em que suas obras foram mais traduzidas e premiadas fora das fronteiras do Brasil (com prestigiadas distinções, como o Prêmio Juan Rulfo -1995- ou o Príncipe de Asturias das Letras -2005) e seus capitais literário e simbólico alcançaram destacada relevância.

A jovem que visitou a terra de sua família na Galiza quando era criança (e onde viveu durante quase dois anos) fez muitas outras vezes essa viagem –física, emocional e ficcional-; mas também descobriu, com apenas dois livros no mercado (Guia-mapa de Gabriel Arcanjo e Madeira feita cruz) e a condição de escritora recém estreada, um mundo diferente para ela em uma viagem aos Estados Unidos em 1965 –convidada pelo Departamento de Estado-, que lhe permitiu conhecer colegas de prestígio e comparar sua situação com a dos/as escritores/as de seu país, já mergulhados nos inícios de uma ditadura que se prolongou até 1985.

Em 1990, e com vários livros já no mercado (o último na altura, Doce canção de Caetana), entrou na Academia Brasileira de Letras (ABL), quem só em 1977 abriu suas portas às escritoras, com a incorporação de Rachel de Queiroz. Nélida Piñon passou a ocupar a cadeira número 30, proferindo um discurso que intitulou “Sou brasileira recente”. Nele, lembrava as origens galegas de sua família quem, com sua ida para o Brasil, lhe “ofertaram um país de presente” (Piñon, 2002: 78). Poucos anos depois, em 1996, tornou-se a primeira mulher a presidir esta instituição, no momento de seu primeiro centenário. Consciente dessa singularidade, em seu Discurso de Posse como Presidente (“A pátria do verbo”), no dia 12 de dezembro de 1996, lembrava que “tinha gosto em servir à literatura com memória e corpo de mulher” (Piñon, 2002: 10), que escrevia por ser sua “a memória coletiva da minha espécie feminina” e assumia o cargo “como mulher, escritora, cidadã brasileira” agradecendo aos membros da ABL que, “libertos de preconceitos confiaram na minha condição feminina” (11).

Uma voz de escritora que mostrou numerosas e diversas marcas (pessoais e literárias) de sua condição de mulher, ao longo de uma trajetória literária de mais de seis décadas, e cujas lembranças ecoam em dois de seus livros de caráter biográfico: Coração andarilho (2009) e Livro das Horas (2012). A autora de obras que abordam o erotismo a partir da perspetiva da mulher –publicadas em momentos muito diferentes da história sócio-política do Brasil- como A casa da paixão (ACP, 1972) e Vozes do deserto (2004) é também a escritora dos contos “Ave de Paraíso” e “Colheita” de Sala de Armas (1973) ou “I love my husband” e “O revólver da paixão” de O Calor das Coisas (1980), em que aborda a situação da mulher no espaço doméstico.

As protagonistas de seus textos são rebeldes (como Esperança de A República dos Sonhos –RS- ou Marta, de ACP), distraídas (Ana, de Madeira feita cruz ou Monja, de Fundador), submissas como Antonia (RS) ou decididas como Breta (RS). Umas e outras, em geral, encontram nessas atitudes modos de contestar aquilo que lhes foi imposto socialmente e atingem assim “um espaço próprio para viver, por vezes, fora do habitual ‘destino de mulher’ a que estavam habituadas” (Villarino Pardo, 2000: 418).

Em várias ocasiões, essas personagens aproximam-se de uma imagem que Piñon usou para se referir à Sara bíblica: “dona de uma memória oficialmente submersa” (Piñon, 1994: 55). Ela, ao casar com Abraão (interlocutor de Deus), “condenara-se ao mutismo, a viver uma memória sem nome, sem arquivo” (57). Através desta figura e de forma metafórica e resumida, a autora apresentou uma visão da história das mulheres no texto “A intriga de Sara” de seu livro O pão de cada dia. Fragmentos (Piñon 1994: 55-60) ou, de modo mais extenso, na conferência “O sorriso de Sara ou a memória clandestina”, proferida na Universidade de Santiago de Compostela (Galiza) em junho de 1996, como convidada do programa de eventos de seu Vº Centenário.

Nélida Piñon, quem já tinha recebido a Medalha Castelao da Xunta da Galicia em 1992 e regressado às terras da família em várias ocasiões, tornou-se -de novo com caráter pioneiro- a primeira mulher a obter a distinção de Doutora Honoris Causa da Universidade de Santiago de Compostela (USC), em 1998. Foi uma distinção que homenageou sua premiada e dilatada trajetória como escritora e intelectual, como evidenciou também um colóquio dedicado a sua obra (“Nélida Piñon: diferentes olhares e leituras”) naquela mesma altura, na Faculdade de Filologia da USC1. Em seu discurso como Doutora Honoris Causa, intitulado “Retorno ao centro”, evocou as memórias galegas -próprias e familiares- para tentar explicar melhor seu percurso literário em que, assinala, “desfruto, como escritora, da pujança e riqueza da língua portuguesa, tenho o Brasil como pátria, sou filha desta amada Galícia” (Piñon, 2002: 66)2.

Como mencionado anteriormente, é também a autora de A República dos Sonhos (1984), uma homenagem ficcional ao papel dos emigrantes (especialmente os galegos e galegas) na construção do Brasil. Escreveu também O livro das horas –com forte presença do ‘eu’ e de seu universo- em que lemos, com o eco do discurso de 1990 na ABL: “Há muito sinto-me antiga no Brasil. Roubei da história pátria os episódios que me faltavam, e sobra-me agora autoridade para crer em uma nação que reparta benesses” (Piñon, 2012: 137).

São várias as marcas que singularizam a autora carioca e algumas as ‘obsessões repertoriais’ mais presentes em seus textos e depoimentos, como a defesa do ofício de escritor ou a presença da memória e do mundo clássico; mas são, sem dúvida, a condição feminina e a “galeguidade” seus traços mais significativos, tanto como mulher quanto como escritora […]».

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Enrique Sáez: “A língua própria é a mais singela e barata ferramenta para o desenvolvimento económico e cultural que Galiza tem e não emprega”

“Negócios internacionais e afinidades culturais”. Contributo de Enrique Sáez na jornada «Notas para intervir em “Galiza na Lusofonia dos anos 20”»

«Case todos admitimos que os falantes de galego e português têm capacidade de perceber-se, falam línguas muito similares. Tive ocasião de aproveitá-lo durante os 12 anos que fui responsável pela presença do Banco Pastor em Portugal, através de uma filial especializada em fornecer crédito ao consumo a clientes de comércios e empresas de serviços. Case todos os meses passava um par de dias na central do Porto. Desde o princípio, empreguei o meu galego, aportuguesado, com clientes, parceiros, empregado, conselheiros, assessores e autoridades bancárias. A equipa humana era local, tomavam-me como um mais e falavam-me com naturalidade na sua língua. Devo acrescentar que, graças a esse contacto periódico, melhorei muito o domínio de um idioma que não é a minha língua materna.

São muitos os que contam com experiências similares e sabem que é muito importante falar o idioma local para fazer negócios e desenvolver estruturas operativas. Acredite muita empatia e faz todo mais singelo. O galego é uma poderosa arma de competência. Da acesso a uma comunidade de 300 milhões de falantes do português, mais numerosa que as do francês, alemão ou russo. Como pessoa com formação em economia e vencelhada ao mundo da empresa, devo destacar que a língua própria, que diz o Estatuto é a mais singela e barata ferramenta para o desenvolvimento económico e cultural que Galiza tem e não emprega.

Estamo-la desaproveitando, mergulhados numa identidade nacional na que o espanhol é o único idioma com projecção mundial. O galego também a tem, mas é prisioneiros de “guerras de religião” sobre como escrever ou como incorporar ao ensino o português. A Lei Valentín Paz Andrade do 2014 é o melhor exemplo de como o sistema político-burocrático pode frenar um processo de trazer riqueza a Galiza.

A magnífica exposição de motivos dessa norma, diz: “No actual mundo globalizado, as instituições galegas, comprometidas com o aproveitamento das potencialidades da Galiza, devem valorizar o galego como uma língua com utilidade internacional…. É preciso fomentar o ensino e a aprendizagem do português, com o objectivo, entre outros, de que empresas e instituições aproveitem a nossa vantagem linguística… Portanto, para a melhora do desenvolvimento social, económico e cultural galego, as autoridades devem promover todas quantas medidas sejam possíveis para melhor valorizar esta vantagem histórica.”

Mas o barco que ia pôr o nosso idioma no mundo leva uma eiva no motor que lhe impede arrancar. Está no artigo 2º que diz “O Governo galego incorporará progressivamente a aprendizagem da língua portuguesa no âmbito das competências em línguas estrangeiras nos centros de ensino da Comunidade Autónoma da Galiza.” Ou seja, ensinar o português aos adolescentes que falam galego como se fora chinês. Eles já sabem que não é necessário perder tanto tempo e não se apontam. A lei fracassou.

Desde a incorporação à União Europeia dos dois países ibéricos erguem-se pontes que nos achegam aos vizinhos do sul. A primeira foi a libertação do trânsito mercantil com a queda dos aranceis. Muitas empresas galegas aprenderam a internacionalizarem-se em Portugal. Galiza integrou-se mais na fachada atlântica de Ibéria, sempre com um balanço comercial favorável. A segunda ponte foi a auto-estrada costeira que se sufragou com fundos europeus e reforçou o funcionamento do comércio. O dinamismo gerado foi a causa principal de que, desde os 90, Galiza tenda crescer mais que a média de Espanha e tenha abandonado o grupo de CCAAs menos desenvolvidas. Séculos depois, voltamos ser norte.

Está pendente a ponte do transporte ferroviário, que já entra nos planos dos governos de Espanha e Portugal, graças a que este é mais sensato e aposta no eixo atlântico em lugar do AVE radial para desenvolver um ferrocarril moderno que inclua o transporte de mercadorias e conecte cidades, portos e aeroportos.

A quarta ponte é a da língua, a mais barata pois chega com reforçar um pouco o que há. Também a mais importante porque nos leva além do Minho, além do Atlântico, além do Sáhara, além do Índico. Compre ensinar português, desde o galego, a 100% dos estudantes de ensino médio. Se se faz bem, chega com dois ou três meses para que possam comunicarem-se, oralmente ao menos. Há outras coisas que se podem fazer, não custariam muito dinheiro e ajudariam à projecção do idioma próprio no plano internacional: abrir a televisão digital a canais de Portugal e outros países lusófonos e que TVG adquira séries populares desses lugares, nomeadamente do Brasil, e, se é preciso, as subtitule em galego “normativo” nos primeiros tempos para melhorar a compreensão.

Como demonstrou a aprovação unânime da Lei Valentín Paz Andrade, há um grande consenso a favor de desenvolver a vertente mundial da língua que aqui nasceu e Portugal espalhou pelo planeta. Não é uma língua estrangeira, necessita-se só um pouco de imaginação e determinação, valores escassos no âmbito público, que perde muito tempo em questões marginais, agitadas quotidianamente por interesses corporativos. Os siareiros da Espanha uniforme aproveitam as pequenas liortas para bloquear-nos. Defendem interesses alheios, não querem que nós sejamos mais competitivos graças a um idioma que menosprezam.

Galiza vai necessitar que a sua sociedade civil faça um grande esforço neste tema. O meu agradecemento à Deputação de Pontevedra e ao Igadi por organizarem estas jornadas para analisarmos e debatermos um problema mais grave que o do chapapote que invadiu as nossas praias há 20 anos, mas muito menos visível. Há demasiados interessados em agachá-lo, deitando-lhe areia acima, em lugar de limpar diferenças menores entre línguas de comum origem.

enrique-saez

Enrique Sáez Ponte (cf. blogue pessoal) é licenciado en Económicas e Dereitos pola Universidade de Santiago de Compostela (USC). Traballou durante trinta anos no Banco Pastor, onde desenvolveu distintas funcións de Dirección os últimos catorce. Actualmente é presidente do Grupo Torres & Sáez e da Fundación Juana de Vega. Tamén é patrón do Museo do Pobo Galego e membro do consello asesor do Instituto Galego de Análise e Documentación Internacional (IGADI).»

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NOTA: Notas para intervir em “Galiza na Lusofonia dos anos 20”, jornada organizada pelo IGADI para a Deputação de Pontevedra. Casa das Campás. 3/11/22

Cf. IGADI

«Lula e Galicia na construción da lusofonía»

«[…] A posibilidade dun punto de inflexión na dinámica da CPLP, un impulso cara diante e un novo namoro entre o Brasil e África será relevante para Galicia. Próximos a cumprir o décimo aniversario da aprobación por unanimidade no Parlamento de Galicia da coñecida como Lei Paz Andrade (Lei 1/2014, do 24 de marzo, para o aproveitamento da lingua portuguesa e vínculos coa lusofonía), a nova etapa que agora abrirá a maior organización lusófona pode ser un novo escenario idóneo para desenvolver a Lei en Galicia con máis intensidade.

Grandes proxectos dos que se fala desde hai anos, como a Casa da Lusofonía, o Observatorio da Lusofonía Paz Andrade (no que traballa a Xunta, derivada da Lei de Acción Exterior e Cooperación ao Desenvolvemento), ou os mecanismos de participación de Galicia na CPLP, (agora que España é observador asociado recoñecendo o peso de Galicia neste proceso), poden ter unha nova onda de oportunidades para maximizar as posibilidades do retorno das nosas accións en todos estos países, que suman os 250 millóns de habitantes…

Non obstante, o prioritario (como no conxunto da prolífica acción exterior de Galicia) é ordear e poñer en común todo o que xa se está facer desde a Xunta, as cidades, as Deputacións. Sumar forzas coa sociedade e trazar unha folla de ruta que máis alá das palabras e os titulares traia novas enerxías ao noso modelo de desenvolvemento do futuro. Poucas cousas darían máis sentido a caracterización de nacionalidade histórica no Estatuto […]».

Cf. IGADI

S.T Guerra, Wesley: “Relações Brasil e Galicia: a Lusofonia entra em campo. A Lusofonia entra em campo”

«Nos dias 3 e 4 de novembro do 2022 teve lugar um ciclo de palestras sobre a “Galicia na lusofonia dos anos 20” organizadas pelo IGADI – Instituto Galego de Análise e Documentação Internacional, dentro do marco de colaboração com a Deputación de Pontevedra e o convenio “Conectar a Deputación de Pontevedra coa Acción Exterior de Galicia”.

O evento que tem como objetivo democratizar o debate em relação a ação exterior da comunidade autônoma espanhola e a participação das diferentes províncias, forma parte de um projeto que elaborou um estudo final sobre a “Deputación de Pontevedra e a Acción Exterior de Galicia”, se somando aos esforços de uma maior representatividade de Galicia no cenário internacional após a aprovação da Lei de ação exterior e a uma maior proximidade da região com os países de língua portuguesa, dentro do marco da Lei Valentim Paz Andrade e da recente adesão da Espanha a CPLP – Comunidade de Países de Língua Portuguesa.» […]

«Multinacionais de origem galega, encontraram no Brasil um importante mercado para seus produtos, importando ou abrindo filiais tais como o grupo Inditex, Estrella de Galicia, ABANCA entre outras, o que levou ao Brasil a ter um consulado honorário na cidade de Coruña para satisfazer a crescente demanda e fluxo entre ambas as regiões.

Por outro lado, existem diversas associações representantes da diáspora galega operando no Brasil, tais como a AEGASP – Associação de Empresários Galegos do Estado de São Paulo e a Associação de Empresários Galegos do Rio de Janeiro, sem contar com a presença de diversos Centro de Estudos Galegos, mantidos pela Xunta de Galicia e presentes nas principais instituições acadêmicas do Brasil.

Outro elemento que atua como um incentivo a essa relação entre Brasil e Galicia é o próprio Caminha do Santiago, refletido nas obras do escritor Paulo Coelho e em coproduções televisivas, que possuí no Brasil o chamado Caminho Atlântico com seu típico monolito em plena praia de Copacabana.

Em relação as empresas brasileiras, somente o Grupo Votorantim (uma das 10 maiores empresas do Brasil) está presente em Galicia, devido ao desconhecimento em geral das vantagens competitivas que oferece a região, ficando muitas vezes limitados ao sul da fronteira com Portugal.

A escassa promoção e representação comercial de Galicia no Brasil em comparação com outras regiões da Espanha presentes no território Brasileiro limita os fluxos de investimento, sendo curioso o fato de que a vantagem atlântica de Galicia é pouco utilizada e que as mercadorias do Brasil são desviadas para a rota do Mediterrâneo, não havendo aproveitamento dos principais portos galegos nem mesmo dos portos portugueses.

Sem embargo a principal rota comercial entre o Brasil e a Europa continua passando por Galicia, já que tem como destino o Porto de Roterdã, havendo possibilidades de usar essa rota para escoamento dentro da Península Ibérica e fortalecimento do chamado Eixo-Atlântico sempre e quando Galicia consiga incrementar sua ação exterior e advogar pelos seus portos.

A inserção da Espanha na CPLP como membro observador, pode atuar como impulso para essa maior projeção internacional de Galicia, usando a mesma como um hub de comunicação e negociação usando suas características regionais como fatores de competitividade para a própria Espanha e uma maior projeção aos países de língua portuguesa (principalmente os países atlânticos) reduzindo as assimetrias em relação ao eixo do Mediterrâneo.

Neste sentido o Brasil tem um papel fundamental para a estratégia de Galicia, já que não somente representa o maior mercado dentro da lusofonia como sua liderança regional permite triangular com países do Mercosul e até mesmo facilitam as negociações com as nações lusófonas da África.

Reiterando sempre que uma maior projeção internacional de Galicia, não necessariamente deve ser vista como uma ameaça a suas relações com o Governo Central, mas como uma forma de incrementar competitividade ao conjunto da nação espanhola e por sua vez fazer uso do potencial competitivo da região.

Por outro lado é importante ressaltar os desafios que enfrentam a comunidade autônoma, tais como a concentração do PIB em áreas do litoral, a perda de empresas e população das zonas do interior e seu papel secundário dentro da estratégia global espanhola, neste sentido a lusofonia vem a ser a saída natural de Galicia e sua projeção a mercados com menor concentração de competidores como pode ser a China, mas que por sua vez oferecem vantagens que podem ser usadas por Galicia na consecução de seus projetos.»

Cf. igadi.gal

XORNADAS “GALICIA NA LUSOFONÍA DOS ANOS 20” | 3-4 NOVEMBRO

Deputación de Pontevedra coa acción exterior de Galicia

«Esta proposta nasce oito anos depois da aprovaçom da Lei Paz Andrade, e desenvolve-se ao abrigo dum convénio entre o IGADI e a Deputación de Pontevedra, ligado também à aprovaçom em março de 2021 da Lei de Acción Exterior e Cooperación ao Desenvolvemento de Galicia, assim como à entrada do Estado Espanhol na Comunidade de Países de Língua Portuguesa coma observador associado, no verao do 2021.
O IGADI é responsável polo Observatorio Galego da Lusofonía e a entidade experta de estudos internacionais no Consello de Acción Exterior da Xunta de Galicia (CAEX)».

Cf. PGL

Conclusións do III Congreso de Estudos Internacionais de Galicia “Galicia e a lusofonía diante dos desafíos globais”

«Galiza e a Lusofonia perante os desafios globais”

Ponte Vedra, 27 e 28 de março de 2019

1. Num mundo cada vez mais globalizado e interconectado, as relações históricas da Galiza com Portugal e os territórios intercontinentais de língua oficial portuguesa, situam-nos ante uma oportunidade histórica para a paradiplomacia e ação internacional galega. Os desafios globais do século XXI encontram na nossa língua, e na nossa identidade, ferramentas com capacidade de retorno e criação de oportunidades para a nossa sociedade.

2. Existe uma relação cada vez mais indivisível entre linguagem, economia e comunicação. A interação da linguagem dentro das relações económicas e culturais permite a fluidez da cooperação e o desenvolvimento de projetos conjuntos, sendo um elemento facilitador. A Galiza e o mundo lusófono têm esta vantagem comparativa. A lingua é, portanto, um ativo para as relações comerciais e económicas no mundo de hoje. O III Congresso de Estudos Internacionais da Galiza achegou-se a estas perspetivas com o objetivo de promover uma visão integral.

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O portugués non é lingua estranxeira, por Enrique Sáez Ponte

Considerar o portugués como lingua estranxeira é un grave problema de diagnóstico. A causa disto, a vantaxe de que o galego e o portugués compartan tronco lingüístico estase convertendo nun obstáculo real para o achegamento da xuventude ao emprego da lingua irmá, cando tiña que ser o contrario.

Enrique Sáez Ponte

O portugués debe ser ensinado desde o galego, aínda que iso pete coa divisoria oficial entre linguas, que neste caso concreto é bastante artificial. No sistema educativo español, hai programas de ensino para linguas propias e para linguas estranxeiras. Calquera deles está estruturado nunha serie de cursos que abranguen un período de formación de varios anos, con profesores e orzamentos específicos. Mais aquí temos unha situación moi nosa: o gris existe. O branco ou o negro non nos serven, porque o portugués é unha lingua que poderíamos denominar semipropia; está nunha categoría inexistente na racionalidade legal dos programas educativos.