Mais de 50% dos trabalhadores transfronteiriços na Europa estão entre Portugal e Galiza

Galiza e Portugal
«Eurorregiões de Portugal, Espanha e França reúnem-se na segunda e na terça-feira para promover e aprofundar a cooperação e reivindicar o estatuto do trabalhador transfronteiriço, adiantou hoje o presidente do AECT Galiza – Norte de Portugal.

“Um dos objetivos do encontro é reivindicar o estatuto do trabalhador transfronteiriço. Faz parte das declarações das duas últimas Cimeiras Luso-Espanholas, mas não foi materializado. A Europa tem 1,3 milhões de trabalhadores transfronteiriços e a Galiza e o Norte de Portugal concentram mais de metade desses trabalhadores”, disse Nuno Almeida.

O responsável falava a propósito do segundo encontro dos Agrupamentos Europeus de Cooperação Territorial (AECT) ibéricos, que é organizado pelo AECT Galiza – Norte de Portugal (GNP), entidade que começou a funcionar em 2010, tendo sido pioneira na Península Ibérica e a terceira europeia.

O encontro realiza-se em Vigo e conta com a participação do AECT Aquitânia/Euskadi/Navarra, do AECT Pirenéus Mediterrâneo, do AECT Rio Minho, do AECT GNP, do AECT Chaves-Verín, do AECT Duero-Douro, do secretário-geral da Associação das Regiões Fronteiriças Europeias (ARFE) e do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), António Cunha.

Nuno Almeida observou que existem, em Portugal, França e Espanha, 16 estruturas com capacidade operacional para trabalhar os temas da cooperação fronteiriça, sendo que “10 dizem respeito a Portugal e Espanha, quatro a Espanha e França, um a Espanha, França e outros países, e outro relativo a Espanha e outros países”.

Ao nível da União Europeia, estão registadas no Comité das Regiões 87 destas estruturas.

O presidente do AECT – GNP destacou a importância do encontro “de entidades públicas de mais do que um país que se unem para resolver problemas e ultrapassar obstáculos administrativos”, como “braços operacionais” de cada uma das eurorregiões.

Numa nota de imprensa, o AECT – GNP esclarece que o encontro pretende continuar a incentivar a cooperação e o intercâmbio de experiências entre os AECT ibéricos “como entidades públicas de cooperação transfronteiriça de referência, essenciais para colocar em marcha”, nomeadamente, projetos cofinanciados pela União Europeia.

Encontrar novas formas de cooperação e de cuidar do espaço comum transfronteiriço ibérico é outro dos objetivos.

Durante o encontro, vai realizar-se uma mesa redonda sobre a Inovação para Enfrentar os Desafíos Comuns e outra sobra A Cultura e o Patrimonio Além Fronteiras.

O AECT GNP destaca que, nesta eurorregião, tem sido levado a cabo o projeto Nortear, com “uma ampla programação de intercâmbio artístico e cultural de um e outro lado da raia”, estando em curso a 8.ª edição do programa, com jovens escritores.

Por outro lado, refere o AECT GNP, o programa Iacobus, gerido desde 2014, promove e fomenta “sinergias e desenvolvimento de atividades de investigação, formação e divulgação entre universidades, institutos politécnicos ou centros tecnológicos da eurorregião”.

O AECT da Eurorregião Galiza – Norte de Portugal é constituído pela Junta de Galiza e pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N).

A Eurorregião Galiza-Norte de Portugal ocupa uma superfície total de 51 mil quilómetros quadrados (29.575 relativos à Galiza e 21.284 ao Norte de Portugal) e concentra uma população de 6,4 milhões de habitantes (2,8 milhões na Galiza e 3,6 milhões na região Norte de Portugal), segundo dados disponibilizados pela instituição.»

Cf. O Minho

Enrique Sáez: “A língua própria é a mais singela e barata ferramenta para o desenvolvimento económico e cultural que Galiza tem e não emprega”

“Negócios internacionais e afinidades culturais”. Contributo de Enrique Sáez na jornada «Notas para intervir em “Galiza na Lusofonia dos anos 20”»

«Case todos admitimos que os falantes de galego e português têm capacidade de perceber-se, falam línguas muito similares. Tive ocasião de aproveitá-lo durante os 12 anos que fui responsável pela presença do Banco Pastor em Portugal, através de uma filial especializada em fornecer crédito ao consumo a clientes de comércios e empresas de serviços. Case todos os meses passava um par de dias na central do Porto. Desde o princípio, empreguei o meu galego, aportuguesado, com clientes, parceiros, empregado, conselheiros, assessores e autoridades bancárias. A equipa humana era local, tomavam-me como um mais e falavam-me com naturalidade na sua língua. Devo acrescentar que, graças a esse contacto periódico, melhorei muito o domínio de um idioma que não é a minha língua materna.

São muitos os que contam com experiências similares e sabem que é muito importante falar o idioma local para fazer negócios e desenvolver estruturas operativas. Acredite muita empatia e faz todo mais singelo. O galego é uma poderosa arma de competência. Da acesso a uma comunidade de 300 milhões de falantes do português, mais numerosa que as do francês, alemão ou russo. Como pessoa com formação em economia e vencelhada ao mundo da empresa, devo destacar que a língua própria, que diz o Estatuto é a mais singela e barata ferramenta para o desenvolvimento económico e cultural que Galiza tem e não emprega.

Estamo-la desaproveitando, mergulhados numa identidade nacional na que o espanhol é o único idioma com projecção mundial. O galego também a tem, mas é prisioneiros de “guerras de religião” sobre como escrever ou como incorporar ao ensino o português. A Lei Valentín Paz Andrade do 2014 é o melhor exemplo de como o sistema político-burocrático pode frenar um processo de trazer riqueza a Galiza.

A magnífica exposição de motivos dessa norma, diz: “No actual mundo globalizado, as instituições galegas, comprometidas com o aproveitamento das potencialidades da Galiza, devem valorizar o galego como uma língua com utilidade internacional…. É preciso fomentar o ensino e a aprendizagem do português, com o objectivo, entre outros, de que empresas e instituições aproveitem a nossa vantagem linguística… Portanto, para a melhora do desenvolvimento social, económico e cultural galego, as autoridades devem promover todas quantas medidas sejam possíveis para melhor valorizar esta vantagem histórica.”

Mas o barco que ia pôr o nosso idioma no mundo leva uma eiva no motor que lhe impede arrancar. Está no artigo 2º que diz “O Governo galego incorporará progressivamente a aprendizagem da língua portuguesa no âmbito das competências em línguas estrangeiras nos centros de ensino da Comunidade Autónoma da Galiza.” Ou seja, ensinar o português aos adolescentes que falam galego como se fora chinês. Eles já sabem que não é necessário perder tanto tempo e não se apontam. A lei fracassou.

Desde a incorporação à União Europeia dos dois países ibéricos erguem-se pontes que nos achegam aos vizinhos do sul. A primeira foi a libertação do trânsito mercantil com a queda dos aranceis. Muitas empresas galegas aprenderam a internacionalizarem-se em Portugal. Galiza integrou-se mais na fachada atlântica de Ibéria, sempre com um balanço comercial favorável. A segunda ponte foi a auto-estrada costeira que se sufragou com fundos europeus e reforçou o funcionamento do comércio. O dinamismo gerado foi a causa principal de que, desde os 90, Galiza tenda crescer mais que a média de Espanha e tenha abandonado o grupo de CCAAs menos desenvolvidas. Séculos depois, voltamos ser norte.

Está pendente a ponte do transporte ferroviário, que já entra nos planos dos governos de Espanha e Portugal, graças a que este é mais sensato e aposta no eixo atlântico em lugar do AVE radial para desenvolver um ferrocarril moderno que inclua o transporte de mercadorias e conecte cidades, portos e aeroportos.

A quarta ponte é a da língua, a mais barata pois chega com reforçar um pouco o que há. Também a mais importante porque nos leva além do Minho, além do Atlântico, além do Sáhara, além do Índico. Compre ensinar português, desde o galego, a 100% dos estudantes de ensino médio. Se se faz bem, chega com dois ou três meses para que possam comunicarem-se, oralmente ao menos. Há outras coisas que se podem fazer, não custariam muito dinheiro e ajudariam à projecção do idioma próprio no plano internacional: abrir a televisão digital a canais de Portugal e outros países lusófonos e que TVG adquira séries populares desses lugares, nomeadamente do Brasil, e, se é preciso, as subtitule em galego “normativo” nos primeiros tempos para melhorar a compreensão.

Como demonstrou a aprovação unânime da Lei Valentín Paz Andrade, há um grande consenso a favor de desenvolver a vertente mundial da língua que aqui nasceu e Portugal espalhou pelo planeta. Não é uma língua estrangeira, necessita-se só um pouco de imaginação e determinação, valores escassos no âmbito público, que perde muito tempo em questões marginais, agitadas quotidianamente por interesses corporativos. Os siareiros da Espanha uniforme aproveitam as pequenas liortas para bloquear-nos. Defendem interesses alheios, não querem que nós sejamos mais competitivos graças a um idioma que menosprezam.

Galiza vai necessitar que a sua sociedade civil faça um grande esforço neste tema. O meu agradecemento à Deputação de Pontevedra e ao Igadi por organizarem estas jornadas para analisarmos e debatermos um problema mais grave que o do chapapote que invadiu as nossas praias há 20 anos, mas muito menos visível. Há demasiados interessados em agachá-lo, deitando-lhe areia acima, em lugar de limpar diferenças menores entre línguas de comum origem.

enrique-saez

Enrique Sáez Ponte (cf. blogue pessoal) é licenciado en Económicas e Dereitos pola Universidade de Santiago de Compostela (USC). Traballou durante trinta anos no Banco Pastor, onde desenvolveu distintas funcións de Dirección os últimos catorce. Actualmente é presidente do Grupo Torres & Sáez e da Fundación Juana de Vega. Tamén é patrón do Museo do Pobo Galego e membro do consello asesor do Instituto Galego de Análise e Documentación Internacional (IGADI).»

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NOTA: Notas para intervir em “Galiza na Lusofonia dos anos 20”, jornada organizada pelo IGADI para a Deputação de Pontevedra. Casa das Campás. 3/11/22

Cf. IGADI

Investimentos de Portugal na Galiza

Inversion de Portugal La Voz de Galicia
Inversion de Portugal La Voz de Galicia
La Voz de Galicia, 19 de xuño de 2023

«Un 12 % del capital que procede de fuera tiene sede en paraísos fiscales. Dicen los portugueses que «onde non hai fariña todo é riña». Tal vez por eso, la relación de vecindad que mantienen las economías de Galicia y Portugal, en especial con la región norte…»


Cf. “Uno de cada tres euros de inversión extranjera en Galicia llega de Portugal”, La Voz de Galicia