Enrique Saez Ponte: “O português é a melhor oportunidade de desenvolvimento do país, e a mais barata”

Enrique Saez Ponte

«Hoje falamos com Enrique Sáez Ponte, economista, empresário e presidente da Fundación Juana de Vega.

As relações económicas com Portugal sempre fôrom um dos teus focos. Porquê?

O meu interesse tem a ver, por um lado com uma atitude pessoal, de interesse, e depois com o meu trabalho. Fum diretor comercial do Banco Pastor, e num cargo assim é importante planificar onde tem mais sentido instalar-se; o Pastor foi um banco com muitíssima presença na Galiza e isso, de alguma maneira, tornou recomendável impulsionar a presença em Portugal, labor que desenvolvim durante 12 anos, de 89 a 2001, aproximadamente. Primeiro através de parceiros portugueses, mas depois fomos nós diretamente, com uma sociedade financeira, que deveria ter dado lugar a novas sucursais, ainda que nom chegasse a produzir-se polas circunstâncias que mudaram a vida do banco. Porém, durante esses 12 anos estivem indo a Portugal quase todos os meses, passava dous ou três dias por mês no Porto. Fum vendo a aproximaçom de empresas galegas a Portugal e a capacidade cada vez maior de ir dum lado para outro, o que me deu uma perspetiva mais completa. Comecei a analisar os dados de comércio exterior e reparei em que estavam a crescer muito as trocas entre as duas partes da raia e que além disso nós exportávamos bastante mais do que importávamos.

Em que momento se encontram as relações económicas entre a Galiza e o Norte de Portugal?

No melhor da história, durante séculos fomos parte da mesma cousa; uma província romana, um reino, mas daquela a gente nom se movia tanto, nom havia meios de transporte, havia menos populaçom e menos atividade económica. O que hoje acontece é outro patamar. Temos uma integraçom muito forte, quase uma integraçom de dous mercados, que se está a produzir pouco a pouco, e estamos no melhor momento, graças à entrada na Uniom Europeia. De facto, foi a própria Uniom Europeia que pagou a autoestrada que nem Lisboa nem Madrid tinham presa em construir.

O dinamismo da economia galega ou da economia portuguesa entendem-se sem a outra parte?

Nom, nom se entende. A partir da entrada na Uniom Europeia, a Galiza começou a crescer mais do que a média espanhola: quando entramos na Uniom Europeia éramos uma das duas ou três comunidades mais pobres do Estado e agora estamos perto da média. Quando eu estudava Económicas parecia impossível, e hoje temos uma renda per cápita na Galiza superior à das Astúrias ou Valência. Isto, em grande medida, tem a ver com o comércio exterior, a Galiza é muito exportadora, e tem duas locomotivas, o setor do automóvel e Inditex; contudo, quando entrou na Uniom Europeia, só o setor do automóvel, ao redor da Citroën, representava mais de 60% da exportaçom galega. Hoje se somas Citroën e Inditex e tudo o que têm ao redor, é menos de 50%, quero dizer, fôrom nascendo muitas mais empresas.

A Galiza é uma comunidade autónoma, a primeira ou segunda, em percentagem de exportaçom sobre o PIB: exportamos muito mais que quase todas as comunidades autónomas. Tem a ver muito com que nós estávamos um pouco isolados dentro de Espanha, entom, com a entrada na Uniom Europeia, era-nos igual mandar cousas a Valência ou a Bordéus, toda a gente começou a exportar com naturalidade. Além disso, a emigraçom e a exportaçom marítima sempre nos fijo estar mais em contacto com o mundo exterior.

Neste sentido, com Portugal, a integraçom foi natural, eu descrevo-a como uma frase, que explica a história económica da Galiza contemporânea: fomos um sul no norte, porque fomos um norte sem sul. Portugal foi mui importante, primeiro, acrescentou-nos algo mais de 10 milhões de habitantes, situados num eixo próximo de nós. Em geral, com menor produtividade do que nós, nesse aspeto fomos norte, por isso exportamos arredor de um 60, 70% mais do que importamos, e começamos a nos sentir norte. Isto implica irmos desenvolvendo pouco a pouco a base industrial. Para além disto, o segundo fator, é que termos aí ao lado um mercado exterior que fala mais ou menos o mesmo, ajudou-nos a muitos a situar-nos em comércio exterior, do ponto de vista da cultura empresarial, sem grandes dificuldades. O primeiro sítio aonde fomos foi uma escola, onde o IVA é diferente, a legislaçom laboral é diferente, a mercantil é diferente… E isso foi-nos adaptando. Depois, uma vez que exportas a um lugar, podes exportar a mais, porque já estás adaptado a mudar as condições de trabalho à área em que te moves, e para isso Portugal foi uma escola próxima, em que muitos aprendêrom a trabalhar fora e logo fôrom a outro sítio. O exemplo paradigmático é a Inditex, a primeira loja que abriu a Zara fora do Estado espanhol foi no Porto.

O dinamismo da área económica galego-portuguesa é já anterior à União Europeia?

Nom, antes havia uma barreira. Obviamente estava perto, mas o dinamismo foi impulsionado pola Uniom Europeia, multiplicou-se muito, a atividade económica anterior a 86 era pequena, nos seguintes quinze anos fôrom desaparecendo tarifas aduaneiras e obstáculos à exportaçom, fôrom-se construindo infraestruturas de comunicaçom e a princípios deste século normalizou-se muito a situaçom.

A Galiza e Portugal conformam um espaço geográfico estratégico no mundo atual (fachada atlântica)?

Com certeza. Já falei um pouco da parte galega, mas também a portuguesa foi beneficiada por esta circunstância, porque apesar de nós exportarmos mais do que eles -sempre o fizemos – em Portugal também exportam cada vez mais, e ademais Portugal é maior, tem mais populaçom e mais superfície. Depois, cumpre falar de aspetos mais locais, da Eurorregiom, especificamente do Norte de Portugal, que conta com dous elementos muito concretos: primeiro, a raia e o dinamismo industrial de Vigo, que leva muitas empresas galegas para o outro lado, por terem melhores condições fiscais, ou melhores condições do solo, e preferem instalar a empresa da parte do Minho português, que estava afastada dos grandes centros de atividade do país vizinho e começou a crescer, a desenvolver-se, a integrar-se com as zonas mais próximas da Galiza que tinham muito dinamismo económico, também ajudado por essa integraçom. Mais um exemplo muito concreto é o chamado Vale do Ave, ao redor de Guimarães: era o centro do setor da confeção têxtil e tivo uma crise muito grande nos anos 80, pola entrada doutros competidores: Turquia, Marrocos; depois a Ásia… Fazendo um paralelismo, na Catalunha praticamente desapareceu o sector da confeção, mas o Vale do Ave, que era nesse sentido a Catalunha portuguesa, sustentou-se com algumas empresas galegas importantes. O setor da moda galego é importante, também para Portugal. Ainda, há uma certa tendência, e isso já é estratégico, a que o peso de Portugal venha para o Norte, cada vez o Porto tem maior peso. O aeroporto do Porto é mui importante, com linhas com Nova York e com outras cidades centrais, e é referencial também para todo o sul da Galiza.

As relações económicas vão à frente das sociais, culturais ou institucionais?

Isso já o dixo há 250 anos Adam Smith. O comércio move quase tudo. O feito de que a Grécia desenvolvesse uma democracia antiga e tivesse um alto nível cultural tem a ver com que tinha muitas ilhas perto e comerciavam… O comércio tende a produzir uma atividade mais liberal, mais aberta, permite conhecer gente, instalares-te noutros lados, aprender línguas… É um motor.

A reintegração linguística tem um papel entre as outras integrações todas que parecem querer avançar?

É mui importante a cultura e a língua, também para estabelecer relações, fazer operações comerciais, vender, comprar, tens que instalar-te, criar e dinamizar equipas humanas… Para isto o idioma é fundamental, porque gera algo vital no mundo comercial: empatia, a empatia gera-se quando falamos. E a gente agradece muito que fales a sua língua. Já sabe que nom és de ali e às vezes cometes erros, mas o vínculo que se cria é fantástico.

Eu som neofalante, criei-me em castelhano na Corunha e aprendi o galego já com anos, a base de ler e escrever e falar. Adoito dizer que aprendi o galego depois do inglês. Na casa nom se falava e eu fui educado na época franquista, nom tínhamos galego na escola, aprendi o galego porque tenho tendência a aprender idiomas e vivo na Galiza, e trabalhando numa entidade galega… Durante a transiçom envolvim-me também em alguma atividade cultural e mesmo política, estivem entre as pessoas fundadoras da AGAL, por exemplo.

O galego em Portugal veu-me mui bem, aos poucos dias já falava. Havia quem me dizia que nom podia ser, “nom podes falar português porque é mui diferente, as silabantes, os falsos amigos…” (risos) eu respondia-lhes: nom sei se falo português, eles pensam que sim.

E a tua conexão com Portugal ajudou-che a valorizares o galego?

Sim, claro, foi fundamental. Eu até dei conferências de imprensa em português, e nunca o estudei, podo lê-lo, leio literatura portuguesa, podo redigir contratos sem ter feito nunca um curso de português, só com o galego. Para escrever preciso um corretor de textos, mas, falando, podo comunicar-me mui bem.

Nesse sentido, uma maior presença do português no ensino poderia ser um incentivo ao um maior fluxo económico entre a Galiza e Portugal?

Esta é uma pergunta chave! Já por cima das relações com Portugal, o português é uma língua internacional, com um volume importante, dizem que 250 milhões, mas só o Brasil som 214 milhões, está a crescer muito. Entom, podemos dizer uns 300 milhões de pessoas, e além disso é idioma oficial da Uniom Europeia. Entom, para mim é uma estratégia competitiva: seríamos mais ricos se o nosso galego se aproximasse do português. Depois, que o escrevam como quiserem, porque afinal vam ser robôs a escrever, mas, no aspeto humano, falar permite-nos criar equipas, amizades, trabalhar melhor, e claro, um idioma que dá aceso a 300 milhões de pessoas é uma vantagem competitiva. Isso é o que nom querem ver a partir da visom mais centralista de Espanha, que de repente, um idioma que consideram secundário se converta em idioma internacional, oficial na Uniom Europeia. Isso, para determinados esquemas simples, nom encaixa.

Já dous anos antes da aprovaçom por unanimidade da Lei Paz Andrade, participei num encontro do Foro Peinador, um jantar de empresários em Lestrove, com Feijoo e o conselheiro de Cultura e Educaçom na altura, Xesús Vázquez. Houve várias perguntas, sobre o sector turístico, sobre pesca… Eu perguntei, “por que nom estudamos português a partir do galego?” Nem Feijoo nem o conselheiro da Economia souberam dar resposta, mas foi a única pergunta que recebeu uma ovaçom do empresariado. O Foro Peinador som empresários com sensibilidade galeguista, mas ainda assim, essa é uma chave. Há que ensinar português a partir do galego, para além de determinados interesses e corporativismos. De facto, a Lei tem uma ótima exposiçom de motivos, que ficam estragados no artigo 2, ao dizer que a Xunta promoverá o ensino do português desde as suas competências como línguas estrangeiras. Aí morreu. E continuam a pôr professorado de português, como se fôssemos a Estremadura, o que é uma parvoíce, já que aqui alunos e alunas que falme bem galego podem aprender português em seis meses. Poderia integrar-se no último ano letivo de galego e seria um incentivo para a rapaziada se preocupar mais de aprender o galego, reparando em que é uma vantagem competitiva. Se saíssemos do bacharelato com o conhecimento de dous idiomas internacionais como espanhol e galego, na versom portuguesa, e ainda inglês, nós seríamos muito mais competitivos. Eles, os espanhóis do centro, o que querem é que nom compitamos melhor, nom é apenas uma questom cultural, de domínio, nom, nom, nom querem é que sejamos melhores do que eles.

Há um ano li-a uma estatística curiosa, que assinalava que as comunidades com melhor nível de inglês, ao finalizar o bacharelato, som a Galiza, a Catalunha e Euskadi. Quando falas dous idiomas tens mais facilidade para aprender um terceiro. O bilinguismo a partir de crianças desenvolve capacidades, e se ademais, esse segundo idioma é outro idioma internacional, é uma oportunidade tremenda. Para nós seria uma mudança revolucionária, a Galiza seria um norte. Há que ser ambicioso, e temos capacidade de fazê-lo. Além disso, é a melhor oportunidade de desenvolvimento do país, e a mais barata, claramente. Dá vergonha é que nom aconteça, é dessas cousas que me chateiam. Estragar recursos parece-me injustificável, é pior do que roubar, nom se deveria poder. Os recursos som sempre poucos. Estamos desaproveitando uma oportunidade histórica.

Neste sentido, foi polémica recente a solicitude da Mesa de pedir a oficializaçom do “galego” no parlamento da Uniom Europeia.

Se já Camilo Nogueira falava galego em Bruxelas! E as tradutoras de português traduzia-no, assim que nós nom necessitamos que nos ponham tradutores novos. Já falamos um idioma oficial ali… O Pinheirismo afetou muito a normalizaçom da língua e da cultura, era demasiado isolacionista.

Eu fum um dos fundadores da AGAL, nom estou no mundo do ensino, da academia… mas foi algo que apoiei porque me pareceu mui interessante. Há um artigo que me marcou bastante neste sentido, daquela época, de Carvalho Calero na Voz de Galicia, que se intitulava O voo do flamengo, onde explica como o idioma do norte da Bélgica começou a descolar, e com ele esse território, que de ser o mais atrassado da Bégica passou a ser o mais desenvolvido, quando decidiu que o flamengo era holandês. É pura lógica. O divide e vencerás é que fazem todos os que querem destruir o idioma, ajudando-se às vezes, inocentemente, ou por puros interesses corporativos, por académicos que o que querem é terem é o seu próprio idioma para mudar de regras, etc, e acontece como o catalám de Valência, ou como o galego das Astúrias, que sei que agora se chama eu-naviego. Se o galego se convertesse numa vantagem competitiva, ao dar acesso ao português, que já dá, de facto, seria revalorizada muito a própria língua. As empresas com contacto em Portugal já se dam conta, e os asturianos começariam a ensinar galego também. Nom sei como veria Oviedo isso de que a parte occidental, que está mais atrassada, de repente tivesse um segundo idioma internacional.

Qual o papel das eurocidades a tentar integrar todas as vias de integraçom?

Por agora servem para coordenar rotas de autocarro e algumas outras cousas, som úteis para ir construindo pontes sobre os Estados. Haveria que trabalhar mais em algumas cousas interessantes, como criar alguma legislaçom europeia para criar planos urbanísticos conjuntos, como Tui e Valença. Ou solucionar problemas: em Verim houvo um problema com o paritório, em 2021, e as mulheres tinham que ir parir a Ourense, porque ali nom conseguiam dar o serviço, mas provavelmente poderia havê-lo em Chaves, porque som dous hospitais, que estám relativamente perto, e poderiam, para os serviços que nom têm volume, uns pô-los num sítio, outros noutro, e depois ter um serviço de comensaçom económico. Isso podem fazê-lo perfeitamente. É só que nom vem que isso pode ser feito.

Outro exemplo poderia ser promover que houvesse denominações de origem que açambarcassem parte de Portugal. Existem já exemplos na Europa. Se reparas, Monterrei, ou Rias Baixas usam uvas que há nas duas beiras do Minho. A uva chama-se Alvarinho, Espadeiro, Loureiro… De facto, em vez de fazer a batota de comprar a uva ali, que é a mesma, e engarrafa-la aqui, podia-se trabalhar para ir eliminando a raia.

Nom é fácil, porque os Estados resistem-se muito. O estado-naçom que construímos nos últimos 250 anos tem tendência a fechar-se, a construir fronteiras. Vimo-lo durante a pandemia, foi muito grave, fechar a fronteira com Portugal. E a gente que vai dum lado para outro todos os dias, tinha horas de espera. Se eram precisos mais controlos, o que tinham era que pôr o dobro de funcionários para o controlo, dedicar mais gente, mas nom se podem tratar as cousas por decreto-lei, a partir duma distância enorme. Disso é que gostam os políticos mais nacionalistas e os burocratas que tampouco pensam demasiado, mas amolam o pessoal, porque as pessoas vam trabalhar com naturalidade dum lado a outro. Há muito que trabalhar no terreno institucional nesse sentido.

A Uniom Europeia é uma tentativa séria de superar as limitações do estado-naçom no século XXI. Quem nom gosta de que venha gente de fora está sempre a tentar recuperar barreiras.

A nossa fronteira, que é das mais antigas da Europa, sempre mo dizem os portugueses, ao que eu respondo que também é das mais artificiais. É curioso, é muito antiga, tem muita história, mas ao mesmo tempo é muito natural andar dum lado para outro.

Instituições como o Eixo Atlântico ou a Comunidade de Tragalho Galiza-Norte de Portugal deviam ser revalorizadas? Deviam possuir mais funções e competências?

Sim, o que comentava na pergunta anterior também vale para responder a isto. Haveria que trabalhar também para que as instituiçons comecem a se integrar no dia-a-dia, superando fronteiras. A Uniom Europeia poderia fazer algo mais. Na fundaçom Juana de Vega estamos colaborando em projetos transfronteiriços em que particiapam empresas e pessoas dos dous lados da raia: a integraçom está a produzir-se. E as instituiçons ajudam, mas muitas vezes som mais cultura espectáculo do que realidade. Mas as empresas solucionam problemas, de maneira que é o comercio, já dixem antes, o que vai por diante.

Portugal apostou na Alta Velocidade para a faixa atlântica e na Galiza essa música soa bem a todos os atores políticos e económicos. Caminhamos para uma megacidade Lisboa-Ferrol?

Portugal tomou uma decisom lógica, Lisboa deu prioridade à linha com a Galiza, com Corunha-Ferrol, porque havia um eixo de cidades. Há portos, aeroportos, plataformas logísticas, muita atividade comercial, e como eles dixérom “O que queira ir a Madrid, que apanhe o aviom”. Há praticamente 10 milhons de habitantes num espaço de 20 km de profundidade, e isso é perfeito para o ferrocarril. O ferrocarril é fundamental em duas circunstâncias: nas áreas metropolitanas e nos eixos de cidades, ou seja, nom é demasiado eficiente para atravessar zonas pouco povoadas. Por exemplo, nos Estados Unidos, os costa-a-costa som só de mercadorias. Ou seja, para distâncias longas, melhor apanhar aviom. Mas este é um sítio perfeito para ferrocarril, e um ferrocarril nom tem que ser uma tolaria como o AVE que fizemos nós, que nom serve para transportar mercadorias.

Agora mesmo estou numa nave industrial, ao lado do apeadoiro do ferrocarril do polígono de Pocomaco. Os meus anteriores, decidírom pôr aqui a nave porque pensavam que as vigas de ferro, que pesam muito, iriam vir de trem, e ainda seguem vindo em camiões. Temos as estradas cheias de camiões, com o custo e impato ecológico que acarreta. Aqui na Corunha, estám a fazer uma linha ao porto exterior, e a ninguém lhe passa pola cabeça fazer mais 500 metros para chegar ao polígono de Sabom, ao qual vam milhares de pessoas todos os dias. De novo os recursos: há que aproveitar o que há. Isso sim, investem 4000 milhões para fazer um túnel para que os das Astúrias podam ir a Madrid. Lisboa, porém, vai desenvolver um eixo ferroviário que permita velocidades algo superiores aos 200 km/hora e que sirva também para mover mercadorias, pois o ferrocarril para mercadorias é fundamental.

Isto do comboio é muito importante para a Galiza, depois da ponte da língua, a ponte do ferrocarril é a mais importante. Há que mudar a mentalidade, e tocar estes temas é necessário.Todos temos que pressionar um pouco. Estamos a pedir que se fagam as cousas com cabeça.»

Cf. Portal Galego da Língua

Enrique Sáez: “A língua própria é a mais singela e barata ferramenta para o desenvolvimento económico e cultural que Galiza tem e não emprega”

“Negócios internacionais e afinidades culturais”. Contributo de Enrique Sáez na jornada «Notas para intervir em “Galiza na Lusofonia dos anos 20”»

«Case todos admitimos que os falantes de galego e português têm capacidade de perceber-se, falam línguas muito similares. Tive ocasião de aproveitá-lo durante os 12 anos que fui responsável pela presença do Banco Pastor em Portugal, através de uma filial especializada em fornecer crédito ao consumo a clientes de comércios e empresas de serviços. Case todos os meses passava um par de dias na central do Porto. Desde o princípio, empreguei o meu galego, aportuguesado, com clientes, parceiros, empregado, conselheiros, assessores e autoridades bancárias. A equipa humana era local, tomavam-me como um mais e falavam-me com naturalidade na sua língua. Devo acrescentar que, graças a esse contacto periódico, melhorei muito o domínio de um idioma que não é a minha língua materna.

São muitos os que contam com experiências similares e sabem que é muito importante falar o idioma local para fazer negócios e desenvolver estruturas operativas. Acredite muita empatia e faz todo mais singelo. O galego é uma poderosa arma de competência. Da acesso a uma comunidade de 300 milhões de falantes do português, mais numerosa que as do francês, alemão ou russo. Como pessoa com formação em economia e vencelhada ao mundo da empresa, devo destacar que a língua própria, que diz o Estatuto é a mais singela e barata ferramenta para o desenvolvimento económico e cultural que Galiza tem e não emprega.

Estamo-la desaproveitando, mergulhados numa identidade nacional na que o espanhol é o único idioma com projecção mundial. O galego também a tem, mas é prisioneiros de “guerras de religião” sobre como escrever ou como incorporar ao ensino o português. A Lei Valentín Paz Andrade do 2014 é o melhor exemplo de como o sistema político-burocrático pode frenar um processo de trazer riqueza a Galiza.

A magnífica exposição de motivos dessa norma, diz: “No actual mundo globalizado, as instituições galegas, comprometidas com o aproveitamento das potencialidades da Galiza, devem valorizar o galego como uma língua com utilidade internacional…. É preciso fomentar o ensino e a aprendizagem do português, com o objectivo, entre outros, de que empresas e instituições aproveitem a nossa vantagem linguística… Portanto, para a melhora do desenvolvimento social, económico e cultural galego, as autoridades devem promover todas quantas medidas sejam possíveis para melhor valorizar esta vantagem histórica.”

Mas o barco que ia pôr o nosso idioma no mundo leva uma eiva no motor que lhe impede arrancar. Está no artigo 2º que diz “O Governo galego incorporará progressivamente a aprendizagem da língua portuguesa no âmbito das competências em línguas estrangeiras nos centros de ensino da Comunidade Autónoma da Galiza.” Ou seja, ensinar o português aos adolescentes que falam galego como se fora chinês. Eles já sabem que não é necessário perder tanto tempo e não se apontam. A lei fracassou.

Desde a incorporação à União Europeia dos dois países ibéricos erguem-se pontes que nos achegam aos vizinhos do sul. A primeira foi a libertação do trânsito mercantil com a queda dos aranceis. Muitas empresas galegas aprenderam a internacionalizarem-se em Portugal. Galiza integrou-se mais na fachada atlântica de Ibéria, sempre com um balanço comercial favorável. A segunda ponte foi a auto-estrada costeira que se sufragou com fundos europeus e reforçou o funcionamento do comércio. O dinamismo gerado foi a causa principal de que, desde os 90, Galiza tenda crescer mais que a média de Espanha e tenha abandonado o grupo de CCAAs menos desenvolvidas. Séculos depois, voltamos ser norte.

Está pendente a ponte do transporte ferroviário, que já entra nos planos dos governos de Espanha e Portugal, graças a que este é mais sensato e aposta no eixo atlântico em lugar do AVE radial para desenvolver um ferrocarril moderno que inclua o transporte de mercadorias e conecte cidades, portos e aeroportos.

A quarta ponte é a da língua, a mais barata pois chega com reforçar um pouco o que há. Também a mais importante porque nos leva além do Minho, além do Atlântico, além do Sáhara, além do Índico. Compre ensinar português, desde o galego, a 100% dos estudantes de ensino médio. Se se faz bem, chega com dois ou três meses para que possam comunicarem-se, oralmente ao menos. Há outras coisas que se podem fazer, não custariam muito dinheiro e ajudariam à projecção do idioma próprio no plano internacional: abrir a televisão digital a canais de Portugal e outros países lusófonos e que TVG adquira séries populares desses lugares, nomeadamente do Brasil, e, se é preciso, as subtitule em galego “normativo” nos primeiros tempos para melhorar a compreensão.

Como demonstrou a aprovação unânime da Lei Valentín Paz Andrade, há um grande consenso a favor de desenvolver a vertente mundial da língua que aqui nasceu e Portugal espalhou pelo planeta. Não é uma língua estrangeira, necessita-se só um pouco de imaginação e determinação, valores escassos no âmbito público, que perde muito tempo em questões marginais, agitadas quotidianamente por interesses corporativos. Os siareiros da Espanha uniforme aproveitam as pequenas liortas para bloquear-nos. Defendem interesses alheios, não querem que nós sejamos mais competitivos graças a um idioma que menosprezam.

Galiza vai necessitar que a sua sociedade civil faça um grande esforço neste tema. O meu agradecemento à Deputação de Pontevedra e ao Igadi por organizarem estas jornadas para analisarmos e debatermos um problema mais grave que o do chapapote que invadiu as nossas praias há 20 anos, mas muito menos visível. Há demasiados interessados em agachá-lo, deitando-lhe areia acima, em lugar de limpar diferenças menores entre línguas de comum origem.

enrique-saez

Enrique Sáez Ponte (cf. blogue pessoal) é licenciado en Económicas e Dereitos pola Universidade de Santiago de Compostela (USC). Traballou durante trinta anos no Banco Pastor, onde desenvolveu distintas funcións de Dirección os últimos catorce. Actualmente é presidente do Grupo Torres & Sáez e da Fundación Juana de Vega. Tamén é patrón do Museo do Pobo Galego e membro do consello asesor do Instituto Galego de Análise e Documentación Internacional (IGADI).»

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NOTA: Notas para intervir em “Galiza na Lusofonia dos anos 20”, jornada organizada pelo IGADI para a Deputação de Pontevedra. Casa das Campás. 3/11/22

Cf. IGADI

XORNADAS “GALICIA NA LUSOFONÍA DOS ANOS 20” | 3-4 NOVEMBRO

Deputación de Pontevedra coa acción exterior de Galicia

«Esta proposta nasce oito anos depois da aprovaçom da Lei Paz Andrade, e desenvolve-se ao abrigo dum convénio entre o IGADI e a Deputación de Pontevedra, ligado também à aprovaçom em março de 2021 da Lei de Acción Exterior e Cooperación ao Desenvolvemento de Galicia, assim como à entrada do Estado Espanhol na Comunidade de Países de Língua Portuguesa coma observador associado, no verao do 2021.
O IGADI é responsável polo Observatorio Galego da Lusofonía e a entidade experta de estudos internacionais no Consello de Acción Exterior da Xunta de Galicia (CAEX)».

Cf. PGL

Sobre o ensino do portugués no ensino

«Desde a aprobación da lei Paz Andrade no 2014, o ensino de portugués no sistema educativo galego foi aumentando e hoxe chega a 5000 estudantes, pero, é suficiente? Estamos aproveitando todo o potencial que ten a proximidade do galego e o portugués?

Falamos co secretario xeral de política lingüística da Xunta de Galicia, Valentín García, co vicepresidente da Associação Docentes de Português na Galiza, Luís Figueroa, e co empresario e ex-director xeral do Banco Pastor, Enrique Sáez Ponte.»

Cf. Té con gotas

Galiza e Portugal, a fronteira do idioma | Enrique Sáez

galiza lusofona

«[…] O portugués deriva do antigo galego, mal que lle pese a algúns en Portugal, e aínda son linguas moi similares. Os que falamos galego e tivemos que traballar en países lusófonos sabemos que, en poucos días, comezamos a comunicamos con naturalidade, aínda que chegar a escribir o portugués custe algo máis (felizmente temos correctores de texto), e no mundo dos negocios falar o idioma do outro é unha enorme vantaxe. Pola súa parte, a xente nova formada en galego, cando viaxa, descobre que se comunica ben, por exemplo, cos brasileiros e os caboverdianos.

Sería fácil e tería moi pouco custo que en Galiza os estudantes saísen da formación escolar cun bo nivel de portugués, como unha curta derivación do estudo do galego. Falarían un idioma oficial da Unión Europea que ten máis usuarios que o francés, o alemán ou o ruso. Mais iso choca con obstáculos mentais (o idioma internacional de España é o castelán) e institucionais. Dentro do ríxido esquema normativo da educación, o portugués non é “lingua propia”, é “lingua estranxeira” e aprendela non é cousa de seis meses senón de cinco anos, o que xustifica moitas horas de profesores cualificados. Aínda que, para os galegos, o idioma luso sexa algo así como “semipropio”. Que mala sorte!, unha categoría inexistente.

Por culpa de rixideces inmateriais Galicia desperdicia a mellor e máis barata oportunidade que ten para ser máis internacional e competitiva.

[…] Este tema vai ser central en Galiza neste 2020 que chega con eleccións autonómicas e que foi dedicado pola Real Academia Galega ao profesor Ricardo Carvalho Calero, quen en vida defendeu a aproximación entre o galego e o portugués. Se conseguimos avanzar por ese camiño, evitaremos a perda de galegofalantes, teremos máis xente coa que compartillar ideas y sentimentos e seremos máis eficaces comprando e vendendo polo mundo adiante […].»

Cf. Orixinal en castelán: “Galicia y Portugal, la frontera del idioma”.

O portugués non é lingua estranxeira, por Enrique Sáez Ponte

Considerar o portugués como lingua estranxeira é un grave problema de diagnóstico. A causa disto, a vantaxe de que o galego e o portugués compartan tronco lingüístico estase convertendo nun obstáculo real para o achegamento da xuventude ao emprego da lingua irmá, cando tiña que ser o contrario.

Enrique Sáez Ponte

O portugués debe ser ensinado desde o galego, aínda que iso pete coa divisoria oficial entre linguas, que neste caso concreto é bastante artificial. No sistema educativo español, hai programas de ensino para linguas propias e para linguas estranxeiras. Calquera deles está estruturado nunha serie de cursos que abranguen un período de formación de varios anos, con profesores e orzamentos específicos. Mais aquí temos unha situación moi nosa: o gris existe. O branco ou o negro non nos serven, porque o portugués é unha lingua que poderíamos denominar semipropia; está nunha categoría inexistente na racionalidade legal dos programas educativos.