«Dos estudos galegos em Portugal. Trajetória e alguns desafios»

Ogalus Especial Lusofonia 2023

«ARTIGO QUE FAZ PARTE DO ESPECIAL “OGALUS: LUSOFONIA” POLO DÍA MUNDIAL DA LINGUA PORTUGUESA, 5 DE MAIO DO 2023

A partir de inícios da década de 90 do século passado, a Xunta de Galicia começou a promover uma rede de Centro de Estudos Galegos (doravante CEG) em várias universidades de Europa e América. Apesar de diferentes casuísticas, em geral o papel dos CEG passa por lecionar diversas matérias de temática galega (mormente aulas de língua) em âmbito universitário; passa também por promover a cultura galega no espaço académico e na sua área de influência…
Para tal, segundo a página web da Secretaría Xeral de Política Lingüística da Xunta de Galicia atualmente “o galego é obxecto de estudo en trinta e nove universidades. Vinte e oito delas contan con lectores – licenciados/as en Filoloxía Galega-, asentados en departamentos coñecidos como Centro de Estudos Galegos” (https://www.lingua.gal/o-galego/proxectalo/rede-de- centros-de-estudos-galegos).
Esta rede de CEG implica, cabe destacar, um importante esforço económico pois, em regra, a Xunta de Galicia atribui um orçamento, mediante a assinatura de um protocolo com cada universidade, que tem por objetivo retribuir o/a leitor/a e custear as atividades culturais. Não sendo, em geral, quantias económicas desorbitadas – apesar das dificuldades económicas que muitos/as leitores/as enfrentam – significam, como dizíamos, um esforço económico notório no sentido de, cabe pensar, internacionalizar a cultura galega.

Em Portugal o primeiro CEG foi criado em 1994 na Universidade Nova de Lisboa. Um ano depois, nasceu a Cátedra de Estudos Galegos da Universidade de Lisboa, hoje sem vínculo institucional com a Xunta de Galicia. De 1997 data a criação do CEG da Universidade do Minho e, alguns anos mais tarde, em 2002, o da Universidade do Algarve. Os estudos galegos em Portugal não se esgotam nesta rede, naturalmente; acreditamos, no entanto, que os CEG de Portugal são um dos espaços privilegiados para a dinamização do que poderíamos chamar a internacionalização da cultura galega no espaço português.

A reflexão acerca do papel dos CEG em Portugal não pode descurar, entendemos que o relacionamento, de variada espécie, entre Galiza e Portugal nunca, em séculos, foi tão intenso e diversificado como na atualidade.

Lembre-se ao respeito a relativa institucionalização da relação Galiza-Portugal derivada do surgimento de, a partir da década de 90 do século passado, diversas organizações galego-portuguesas: a Comunidade de Trabalho Galiza/Norte de Portugal (1991), a partir de 2008 Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial Galiza – Norte de Portugal; o Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular (1992), constituído por mais de 40 cidades e vilas; com dimensão estritamente local, as Eurocidades (até a data: Valença- Tui, Chaves-Verim e Cerveira-Tominho, a partir de 2012, 2014 e 2018, respetivamente); ou, no plano académico, a constituição do Centro de Estudos Eurorregionais Galiza – Norte de Portugal (2004), integrado por 7 universidades galegas e portuguesas.

O até aqui sinteticamente referido, deve ser complementado com outras iniciativas de foco cultural que vão ganhando visibilidade nomeadamente a partir de, grosso modo, 2014 (significativamente data da promulgação no Parlamento galego da Lei Valentim Paz Andrade): o Prémio Literário Nortear (primeira edição em 2015), promovido pela Direção Regional de Cultura do Norte, a Xunta de Galicia e mais o Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial Galiza – Norte de Portugal; o bracarense Festival Cultural Convergências Portugal Galiza (também desde 2015); Arri[t]mar. Prémios Música e Poesia Galego-Portuguesa (a partir de 2016), iniciativa da Escola Oficial de Idiomas de Santiago de Compostela; ou, no âmbito académico, o Programa IACOBUS, cujo objetivo passa por incrementar a cooperação entre as universidades galegas e as do Norte de Portugal replicando em parte o programa Erasmus da Comissão Europeia.

Perante este quadro parece necessário refletir acerca da possibilidade de os CEG portugueses contribuírem para – em termos de diplomacia cultural digamos – o diálogo entre a Galiza e Portugal ou até entre a Galiza e a Lusofonia. Para tal, apontamos alguns desafios, seria preciso repensar a própria rede de CEG. Resulta surpreendente o vazio

desta rede na Universidade do Porto, localizada numa das cidades de referência do Norte português, ou na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; também na pujante Universidade de Aveiro, entre outras. A eventual reformulação da rede e outras iniciativas deve, em nossa opinião, problematizar a lógica central da relação atual: a consequência sobretudo das políticas da União Europeia (de des-fronterização), os termos do relacionamento estão a virar para a dupla Galiza-Norte de Portugal (ou vice- versa), frente ao antes relativamente consolidado Galiza-Portugal (ou Portugal-Galiza). Cabe, portanto, os atores envolvidos repensarem esta incipiente lógica eurorregional.

Por outro lado, com o sentido de otimizar recursos e promover um trabalho significativo, seria esperável os CEG portugueses contarem com planificações alinhadas com estratégias e objetivos previamente definidos. Nesta direção os três CEG portugueses começamos incipientemente a estabelecer programas de atuação conjuntos, tentando articular o trabalho desenvolvido e poder alcançar mais e melhores objetivos. Entre outras atividades destacamos uma linha de investigação en curso que pretende conhecer as ideias e imagens dos/as alunos/as de estudos galegos em Portugal; igualmente a publicação em Galizae(m)nós. Estudos para compreensão do relacionamento cultural galego-português (2021; acessível em http://hdl.handle.net/1822/76402) em que pretendemos dar voz a pessoas da Academia portuguesa que se têm interessado pelos estudos galegos; também a articulação entre os três CEG que terá como cólofon a celebração do próximo congresso da Asociación Internacional de Estudos Galegos em Portugal (Universidade do Minho, 2024).

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Carlos Pazos 6

Pazos-Justo, Carlos é formado em Filologia pela Universidade de Santiago de Compostela. Como bolseiro do Instituto Camões é pós-graduado pela Universidade do Porto (2001). É Mestre em Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa pela Universidade do Minho (2009), Máster en Cultura Española…»

Cf. IGADI

«Dous livros avançam na compreensom do relacionamento cultural galego-português»

Portugal e[m] nós

«Promovidos desde a Universidade do Minho, os volumes “Portugal e(m) nós” e “Galiza e(m) nós“, achegam um conjunto de trabalhos sobre os vínculos históricos e presentes entre a Galiza e Portugal

O primeiro volume sai do prelo em 2019 sob a edição dos professores Roberto Samartim (do Grupo de Estudos Territoriais da Universidade da Corunha e da Rede Galabra) e Carlos Pazos-Justo (do Grupo Galabra-UMinho) e recolhe nove textos da autoria de pessoal investigador ligado à Rede Galabra. Tal como afirmam os seus editores:
Através dos contributos que integram este livro é possível, por um lado, identificar os agentes empenhados na construção identitária da comunidade galega (em relação dialéctica, aliás, com outros grupos com programas diferentes ou até antagónicos) e envolvidos no relacionamento galego-português entre os séculos XVIII e XXI.
Por outro lado, também é possível nos aproximarmos dos programas propostos, dos objetivos procurados e das funcionalidades atribuídas por esses agentes ao relacionamento de duas comunidades peninsulares com alegados vínculos geo-humanos, históricos, étnicos, culturais ou linguísticos.
Com especial destaque para aqueles momentos e estados de campo considerados estratégicos para entendermos os modos e a função atribuída ao relacionamento galego-português, o livro permite ver como Portugal (a sua mera existência como comunidade geo-humana) e as elites culturais, intelectuais ou políticas lusas contribuem para o reforço dos programas ideológicos e para as ações do galeguismo historicamente considerado.
 
Este volume tem o seu espelho no livro publicado em 2021 por pessoal ligado aos três Centros de Estudos Galegos sediados em Portugal. Sob a edição de Carlos Pazos-Justo (Universidade do Minho), Maria Jesús Botana Vilar (Universidade do Algarve) e Gabriel André (Universidade de Lisboa), o volume Galiza e(m) nós recolhe uma dúzia de contributos de outros tantos agentes da Academia portuguesa que se debruçarom sobre diferentes aspetos da Galiza. Assim, organizado em quatro blocos temáticos (Do passado; Das imagens e ideias; Da língua e literatura; e Do passado no presente):

Estão reunidos nesta coletânea, […] um conjunto de trabalhos das Ciências Socias e Humanas que de alguma forma são um indício dos interesses de investigação que a Galiza tem despertado em Portugal. […] Os trabalhos aqui reunidos poderão contribuir, esperamos, para uma necessária reflexão acerca dessa realidade poliédrica que a Galiza e Portugal representa(va)m.»