Projeção e debate do filme O Diamante Galego em Ponte Vedra

O evento decorrerá esta sexta-feira, dia 10 de maio, às 20:30 no local do Centro Social A Pedreira (rua Serra 36) em Ponte Vedra.

«N’O Diamante Galego reflete-se sobre o passado, o presente e o futuro dessa relação, adivinhando-se um fortalecimento da mesma, ao qual poderá contribuir também uma maior integração linguística.

Entre muitos outros nomes, n’O Diamante Galego participam políticos e políticas (Teresa Táboas, Pedro Puy, Xesús Gamallo), entre os quais os presidentes das câmaras municipais de Tominho (Sandra González) e Cerveira (Rui Teixeira); analistas (Antón Baamonde, Diego Sande); diretivos de organismos empresariais e institucionais (António Cunha, Xoán Vázquez Mao, Daniel Palau); e empresários e ex-empresários como José Ramón Pichel (de Imaxin-Software) ou Enrique Sanz Ponte (presidente da fundación Juana de Vega e ex-diretivo do Banco Pastor).

O documentário, filmado aos dois lados da raia, conta com apresentação de Tiago Alves e Ana Viqueira e foi produzido por Nós Televisión para a AGAL, sendo uma atividade subvencionada pola Deputação da Corunha.

Menos mal que nos queda Portugal

O Diamante Galego faz parte de um projeto mais amplo chamado Menos Mal que nos Queda Portugal que focava as vantagens do galego-português no âmbito económico e laboral. Neste projeto realizaram-se outras iniciativas, como um grupo de vídeos que exaltam o impacto da língua galego-portuguesa no âmbito profissional ou uma série de entrevistas no Portal Galego da Língua (PGL), realizadas ao longo do ano 2023, em que as pessoas inquiridas, muitas vindas do mundo político e empresarial, foram perguntadas em relação ao novo contexto económico gerado pela eurorregião.»

Cf. PGL

“Menos mal que nos queda Portugal”

NIEVES NEIRA ROCA (Jornalista (trabalha no jornal El Progreso), bailarina e poeta galega)

«O dia em que se decretou o estado de emergência na Espanha tive pena de não estar em Portugal. Aqui, na Galiza, temos uma expressão com que muitas vezes olhamos o nosso país mais que vizinho. “Menos mal que nos queda Portugal”. O que começou por ser o título de um álbum do grupo Siniestro Total, nos anos oitenta, acabou por ser palavra comum.

O dia em que só divisámos a tragédia que viria, tive pena de não estar em Portugal. Surpreendeu-me essa pena. Não é que quisesse deixar aqui a minha casa, a minha família, não era isso. Foi antes a evidência de uma pertença. A um país? Pensei. Mas, o que é um país? Continuei a pensar. Uma longa história, sim, mas sobretudo uma vontade de estarmos juntos, a maneira larga e litoral de entender essa palavra, juntos.

Estes dias também pronunciamos, aqui na Galiza, e já em toda a Espanha, “menos mal que nos queda Portugal”. Nunca a direita espanhola, ruim, agora também na oposição, nos tinha defendido perante a Europa com a rotundidade como o fez António Costa na Comissão Europeia perante a proposta “repugnante” da Holanda de investigar a Espanha por não ter recursos para enfrentar a crise. Não é tão comum ouvir um político nomear as coisas como são. Obrigada. A mesma proposta repugnante da extrema-direita espanhola de restringir o acesso à saúde aos emigrantes em situação irregular teve o seu contrapeso na decisão, em Portugal, de regularizar estas pessoas. “Menos mal que nos queda Portugal”.


O dia em que se decretou o estado de alarme eu não imaginei que queria estar em Portugal por ser um dos países mais rápidos em tomar medidas, por não impor um quadro sancionador que aqui está a gerar atitudes de violência entre os vizinhos, nem ter o exército a ocupar as ruas. Era mais fácil, isso sim, imaginar como Portugal teria uma maior sensibilidade com a cultura nesta crise. Ouvir a Graça Fonseca dizer quanto “precisamos de artes na nossa vida” e facilitar a criação desse movimento colaborativo #EntraEmCena não é suficiente, mas sim um passo importante. Cultura que também é a do apoio explícito do ministério de agricultura aos produtos locais, aos agricultores e ganadeiros que cuidam uma terra que urge habitar de outra forma.

Menos mal que nos queda Portugal. Menos mal que tenho aí em Portugal uma boa amiga, a Susana Travassos, que me ofereceu escrever estas palavras. Não estou por trás daquela janela pela que tanto olhei as águas do Tejo, naquele ano em que Lisboa me acolheu tão bem, mas esta noite quero sonhar que este texto possibilita estar lá um pouco, o suficiente como para poder dizer obrigada. Talvez parecesse louco esse Agostinho da Silva, quando dizia que Portugal não é um país, mas sim uma ideia para espalhar pelo mundo. Perante a ameaça do vírus e, sobretudo, perante a ameaça das respostas frente ao vírus, eu penso em que sim, que Portugal é uma ideia, que menos mal que nos queda Portugal.»

(Cf. Jornal do Algarve)