Os documentos que certifican que o galego era a lingua máis importante da Península no século XIII

O Arquivo da Real Academia Galega acaba de completar unha importante incorporación aos seus fondos dixitalizados dispoñibles na Rede. A colección de pergameos da institución, 285 escritos do século XII ao XVIII, inclúe bulas, privilexios reais, foros, doazóns, contratos de compravenda, sentenzas xudiciais e outros manuscritos, de orixe pública e privada, agora dispoñibles para todo o público no Arquivo Dixital de Galicia. A RAG celebra así o Día Internacional dos Arquivos e, nas vésperas desta conmemoración, propón unha viaxe desde academia.gal á Idade Media, guiada polos académicos Pegerto Saavedra e Henrique Monteagudo, a través de dous destes pergameos destacados: o máis antigo da RAG e o máis vello dos escritos en galego da institución.

O 10 de maio de 1259 Sancho Fernández e a súa dona, Maior Fernández, asinaban unha venda de eguas ao mosteiro de Caaveiro. O documento que a recolle é, de todos os pergameos datados da RAG, o máis antigo escrito en galego, nun momento en que a nosa lingua aínda empezaba a consolidarse neste tipo de textos. “Aínda que se conservan uns poucos documentos notariais redactados en galego desde a década de 1230-1240, ata 1250 a lingua que se utilizaba nestes textos era o latín, como na xeneralidade dos escritos, con excepción das cantigas trobadorescas. A partir do ascenso ao trono do rei Afonso X O Sabio (1252) comeza a usarse cada vez máis o galego, pero antes de 1260 os documentos nesta lingua aínda son escasos”, explica o académico Henrique Monteagudo.

Samuel Pimenta: «Galego e português: a fala comum»

Samuel Pimenta na Crunha 2016 por Alfredo Ferreiro

Nas viagens que tenho feito pela Galiza, pude confirmar como o reintegracionismo é um movimento sério e sustentado, não apenas através de documentos e do nosso incontornável património cultural – de que são exemplo as cantigas medievais em galaico-português –, mas nas ruas. Hoje assinala-se o Dia da Galiza.

Visitar a Galiza é um reencontro com a matriz da língua que falo. “Aqui ganha-se mais língua”, disse-me um dia a escritora galega Iolanda Aldrei. E logo entendi que se referia à ancestralidade da fala que ambos partilhamos, da cultura que um dia uma fronteira separou e da verdade que ninguém pode negar: é impossível compreender Portugal sem a Galiza, tal como é impossível compreender a Galiza sem Portugal.

O movimento reintegracionista traz alguma luz aos laços de irmandade entre a Galiza e Portugal. O movimento defende que o galego se escreva segundo a grafia histórica, ou seja, como o português, como muito bem o explicou o jornalista Ruben Martins na reportagem do PÚBLICO “O galego vai salvar-se no português?”. Nas viagens que tenho feito pela Galiza, pude confirmar como o reintegracionismo é um movimento sério e sustentado, não apenas através de documentos e do nosso incontornável património cultural – de que são exemplo as cantigas medievais em galaico-português –, mas nas ruas. É uma realidade viva. Basta mergulhar na terra antiga galega para encontrar topónimos que contam a história de como o galego, ou o português, evoluiu ali, e de escutar as gentes a falar.

Se nas cidades é notória a herança da segregação e repressão linguística e cultural promovida até hoje por Espanha, com a imposição do castelhano — havendo já quem não fale galego —, nas aldeias ainda nos podemos maravilhar com as fonéticas das gentes mais antigas, tão próximas do jeito de falar de quem vive no Norte de Portugal e nas Beiras. E apesar do medo que ainda ficou dos tempos do franquismo, em que falar a língua da terra era motivo para perseguição, ainda resistem. Na Galiza ainda se fala a mesma língua que eu falo, apesar de todas as tentativas de eliminar a cultura indígena daquele território. E há muita gente a reivindicá-lo. Dentro e fora da Galiza.

Exemplo disso são os escritores galegos reintegracionistas, cujos livros são escritos tal e qual como nós escrevemos deste lado da fronteira. Procuram eliminar as marcas que a colonização e a segregação castelhana lhes deixaram na língua, por séculos e séculos. Marcas que não são meras escolhas ortográficas inocentes. Representam violência, perseguições, assassinatos e a vontade de eliminar uma cultura e um povo. Não escrevem carballo, mas carvalho. Não escrevem Galícia, mas Galiza. E apesar do trabalho corajoso que têm vindo a levar a cabo, de autêntica restituição da memória da língua, ainda enfrentam muita resistência por parte das instituições, das governamentais às académicas, que continuam a excluí-los por não escreverem no galego dito oficial. Além de haver um grupo maioritário de editoras que os rejeita, ainda estão impedidos de concorrer a diversos prémios literários. Contudo, com a progressiva abertura dos certames literários lusófonos aos escritores galegos, têm conseguido encontrar além-fronteiras o espaço que lhes é negado no seu país, como o escritor Mário J. Herrero Valeiro, que em 2015 venceu o Prémio Literário Glória de Sant’Anna, promovido em Portugal e destinado ao melhor livro de poesia dos países e regiões de língua portuguesa.

Estas lógicas opressivas e intimidatórias, que pretendem isolar os dissidentes, não servem a Galiza, mas o Estado espanhol. Sei como os Estados precisam de mitologias próprias que os justifiquem e legitimem, promovendo discursos que vão ao encontro da supremacia dos impérios. Também sei que os Estados são os primeiros a censurar o que consideram perigoso à ilusão de unidade que querem incutir. E todos os Estados o fazem, de forma mais ou menos evidente. Veja-se o que França fez com o bretão ou com o provençal, por exemplo. Na Galiza, ainda é notória a ferida. Mas os povos nunca precisarão dos Estados para viver. E a Galiza prova-o, pela forma como tem resistido à tirania. Já dizia Afonso Castelão, no seu Alba de Glória: “Afortunadamente, a Galiza conta, para a sua eternidade, com algo mais do que uma história mutilada, conta com uma tradição de valor imponderável, é isso que importa para ganhar o futuro”.

Cf. PúblicoSamuel F. Pimenta Poeta e escritor. Dedica-se ainda à espiritualidade e à promoção dos direitos humanos, LGBTI+ e ambientais – 25 de Julho de 2020

Galiza e Portugal, a fronteira do idioma | Enrique Sáez

galiza lusofona

«[…] O portugués deriva do antigo galego, mal que lle pese a algúns en Portugal, e aínda son linguas moi similares. Os que falamos galego e tivemos que traballar en países lusófonos sabemos que, en poucos días, comezamos a comunicamos con naturalidade, aínda que chegar a escribir o portugués custe algo máis (felizmente temos correctores de texto), e no mundo dos negocios falar o idioma do outro é unha enorme vantaxe. Pola súa parte, a xente nova formada en galego, cando viaxa, descobre que se comunica ben, por exemplo, cos brasileiros e os caboverdianos.

Sería fácil e tería moi pouco custo que en Galiza os estudantes saísen da formación escolar cun bo nivel de portugués, como unha curta derivación do estudo do galego. Falarían un idioma oficial da Unión Europea que ten máis usuarios que o francés, o alemán ou o ruso. Mais iso choca con obstáculos mentais (o idioma internacional de España é o castelán) e institucionais. Dentro do ríxido esquema normativo da educación, o portugués non é “lingua propia”, é “lingua estranxeira” e aprendela non é cousa de seis meses senón de cinco anos, o que xustifica moitas horas de profesores cualificados. Aínda que, para os galegos, o idioma luso sexa algo así como “semipropio”. Que mala sorte!, unha categoría inexistente.

Por culpa de rixideces inmateriais Galicia desperdicia a mellor e máis barata oportunidade que ten para ser máis internacional e competitiva.

[…] Este tema vai ser central en Galiza neste 2020 que chega con eleccións autonómicas e que foi dedicado pola Real Academia Galega ao profesor Ricardo Carvalho Calero, quen en vida defendeu a aproximación entre o galego e o portugués. Se conseguimos avanzar por ese camiño, evitaremos a perda de galegofalantes, teremos máis xente coa que compartillar ideas y sentimentos e seremos máis eficaces comprando e vendendo polo mundo adiante […].»

Cf. Orixinal en castelán: “Galicia y Portugal, la frontera del idioma”.