«Português volta a aproximar partidos no Parlamento»

O português estivo perto de somar um novo consenso no Parlamento galego após uma proposiçom nom de lei apresentada polo BNG na Comissom Quarta (Educação e Cultura). Nela, as deputadas nacionalistas Iria Taibo e Cristina Fernández defendiam que o Parlamento devia instar ao governo galego a “aumentar o número de vagas de professorado de língua portuguesa”, formando também “novo professorado” nesta língua. Ainda, o BNG pedia “incorporar a oferta em língua portuguesa em todos os centros de ensino do país”.

Cf. PGL

Especial 25 de Abril: Cantos de luta | Grupo de acção cultural

Agradecemos ao socio Enrique Sáez este contributo, fornecido desde o seu arquivo persoal.

Antón Baamonde: “A integraçom económica da Galiza e Portugal pode dar lugar a futuras formas de relaçom social, linguística e cultural”

«Entendendo a importância estratégica das ligações comerciais e económicas da Galiza com o Norte de Portugal, bem como as implicações e facilidades com que a língua comum pode contribuir nesse âmbito, a AGAL lança um novo desafio: consultar vozes autorizadas que podam dar alguma luz sobre a importância do estudo do português como ferramenta para as interações transfronteiriças.

Para isso, e com o apoio da Deputación da Coruña, hoje falamos com Antón Baamonde, filósofo e autor, entre outros, do livro Unha Nova Olanda.

As relações socioeconómicas com Portugal som um dos focos do teu último livro Unha nova Olanda. Porquê?

Na realidade, o primeiro que me fascinou, aquilo polo qual tivem interesse desde muito cedo, foi a cidade como carácter e como espetáculo. Continua a ser assim. Parece-me difícil de entender que entre nós o imaginário urbano tenha sido, até há pouco, desatendido e desprezado. O espaço simbólico era ocupado pola visom ruralizante sem atençom nenhuma à história urbana ou aos fenómenos de hibridaçom e mestizagem suburbana. No entanto, “Celtas sen filtro”, uma comédia de Méndez Ferrín, estreada nos anos oitenta, com muito sucesso no seu tempo, caminhava por esse carreiro.

Tanto era assim que nos meus vinte anos estava abduzido pola semiótica – era um fã de Eco&Barthes&co – e se me sentava, por pôr um exemplo, nos jardins de Méndez Núñez na Corunha, ou na Praça do Marqués de Santa Ana em Madrid, ficava com os olhos esbugalhados perante o espetáculo urbano.

Os anos oitenta fôrom o momento de descolagem da moda, por exemplo, como fenómeno social de massas. Uma das consequências, que me fascinava imensamente, era observar como as diferenças de classe através da vestimenta, muito marcadas antes, se desvaneciam em grande medida. A isso colaborárom empresas galegas como Zara, Adolfo Domínguez ou Verino, que nascêrom ao abrigo dessa transformaçom simultânea do gosto, da economia e da sociologia.

Isso parecia-me progresso – a propósito disto, hoje creio que voltam a crescer essas diferenças na moda. Porém, como leitor das Mitologias estava interessado em desentranhar os mistérios da mobilidade social e os novos modos psicossociológicos da conduta de massas. O trânsito duma sociedade atrasada – a espanhola – segundo parâmetros europeus à modernidade. Tenho espírito de flâneur, sem dúvida.

Outras leituras – Simmel, Sennett, Benjamin – aumentárom o meu interesse polo fenómeno urbano em modos que seria longo explicar aqui. Mas tudo isso foi dando um substrato que me levou a tentar pensar sobre o diferente carácter das respetivas cidades galegas fundado nas diferentes histórias e especializações socioeconómicas.

A Portugal, ao Porto, fum, durante muitos anos, regularmente. Quando ainda havia fronteira, nom havia autoestrada, e era uma viagem. Estava “tão perto e tão longe”… Ia comprar livros à livraria Leitura, cear no Mal Cozinhado com fundo de fados e a dar uma volta pola Baixa. Portugal chamava-me a atençom polo ponto “british” e o carácter amável e discreto dos naturais. Essa frase de Thomas Bernhard: “Portugal é o último país educado da Europa”.

Ora bem, a visom de Portugal e da Galiza como um fenómeno entrelaçado, nom num sentido histórico ou cultural, mas como uma eurorregião, uma projeçom de futuro, véu da minha amizade com o urbanista Juan Luís Dalda. Ele estava a par das diretivas europeias sobre a questom – foi a UE que reviveu o assunto – e tinha muita relaçom com arquitetos como Nuno Portas e urbanistas portugueses, especialmente do Norte. Tinha também certa relaçom com o PSdeG e na altura, se a memória nom me falha, a câmara municipal do Porto estava governada polo PS. Absorbim essa perspetiva dele.

Em que ponto se encontram as relações económicas entre a Galiza e o Norte de Portugal?

Devo esclarecer que eu nom sou um economista, antes bem um ensaísta e um curioso que lê dados e estudos. Assim que vozes mais autorizadas do que eu podem oferecer números precisos. Uma vez dito isto, Portugal é o principal investidor forâneo na Galiza e som centenas as empresas galegas que operam em Portugal, atraídas, especialmente, polos baixos salários. Ao mesmo tempo, é evidente que do ponto de vista da logística – e nom é um assunto menor –, a continuidade é absoluta.

O poder de atraçom também deriva do dinamismo do Grande Porto. Nom há muito, um documento da UE situava o Norte de Portugal como uma das regiões europeias com um índice de inovação mais alto. De facto, a olho nu, Portugal mudou talvez mais do que a Galiza nestas décadas, o que nom é pouco. Há que supor que, com a passagem do tempo, as diferenças de salário irám reduzindo-se.

Uma vez eliminadas as fronteiras políticas, é evidente que os nexos nom podiam mais do que crescer, polos imperativos da geografia, polas complementariedades económicas e demográficas, pola dimensom atlântica dos dous países, e, em definitivo, pola proximidade cultural e anímica. E assim aconteceu. E nom cabe dúvida que, salvo catástrofe geopolítica – dissoluçom da UE e retorno das fronteiras – continuará a ser assim.

Obviamente, nom pode ser esquecido o papel da Uniom Europeia, que tentou promover as realidades transfronteiriças. Foi a UE, mais do que os Estados respetivos, que promoveu o fenómeno. Espanha é centralista, Portugal também, ainda que a tensom Lisboa-Porto matiza o asserto.

O dinamismo da economia galega ou da economia portuguesa entendem-se sem a outra parte?

Sim e nom. É evidente que os Estados pesam, e pesam muito. A economia galega evoluiu ou transformou-se ao ritmo das mudanças em Espanha, da rápida desagrarizaçom a partir da década de sessenta à crise do setor naval e a reconversom industrial dos anos oitenta, passando pola rápida extensom do setor serviços como vetor económico e social fundamental a partir dos anos noventa.

Ora bem, a longo prazo, olhando para a frente, as duas economias estám chamadas – até diria condenadas – a combinar-se. Pouco a pouco está-se a desenvolver uma economia de aglomeraçom, na qual as sinergias entre as respetivas empresas e sociedades é cada dia maior.

Tome-se como exemplo paradigmático o papel do aeroporto Sá Carneiro, que se converteu na grande terminal de tráfico aéreo do noroeste penínsular. Os portugueses têm uma área urbana – a do Porto – maior, certamente, mas também decidírom mais depressa, com mais visom, sem o freio dos localismos um pouco absurdos da parte galega. Na parte galega, as diversas cidades som capazes de disparar um tiro no próprio pé só para nom planificarem e/ou colaborarem umas com outras em determinadas infraestruturas. Na realidade, se a Galiza nom se despachar, provavelmente será Portugal quem mais se beneficie dessa interrelaçom.

De resto, se dermos uma olhada à Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, especialmente na epígrafe Os futuros possíveis de Portugal (1) elaborada polo governo português de António Costa, poderá comprovar-se que uma parte do que ali se afirma também se poderia defender para os futuros possíveis da Galiza.

O dinamismo da área económica galego-portuguesa é já anterior à União Europeia?

Até onde sei, a descolagem foi consequência da integraçom de Espanha e Portugal na UE. Na segunda metade do século XX essa interrelaçom era muito pequena. Franco e Salazar desconfiavam um do outro. Nom há nem que dizer que toda a política exterior portuguesa, incluindo a relaçom com o mundo anglosaxom, era uma maneira de afastar o fantasma, existente ao menos desde Aljubarrota, da absorçom espanhola.

Se formos muito atrás no tempo, a interrelaçom existia: havia muita emigraçom galega, sobretudo do sul da Galiza, para Portugal, nomeadamente para Lisboa. Para ir a Madrid de trem a partir de Vigo houve um momento em que a rota preferível era por Lisboa. Pode lembrar-se o caso, tam especial, de Manuel Cordo Boullosa, originário de Ponte Caldelas, uma das grandes fortunas de Portugal com um extraordinário leque de negócios: foi, entre tantas outras cousas, um dos fundadores da GALP. Nunca renunciou à sua identidade galega e, de facto, o palácio onde fica o Centro Galego de Lisboa foi uma doaçom dele. Por outra parte, a instalaçom da refinaria em Arteixo, se a memória nom me falhar, tivo algo a ver com ele.

Na minha experiência, falo dos oitenta, nom lembro que houvesse presença galega do outro lado do Minho. Nem um escritório das caixas, por exemplo. Nada. Já agora, galego em Portugal, como na América latina, era uma expressom depreciativa. Lembro uma certa ocasiom, naqueles anos, em que conheci um casal de portugueses no Porto: quando nos referimos a nós mesmos como “galegos”, desatárom a rir..

A Galiza e Portugal conformam um espaço geográfico estratégico no mundo atual (fachada atlântica)?

A Visão Estratégica portuguesa inclui este parágrafo:

Primeiro, uma economia atlântica, no cruzamento das redes da globalização, potenciando o seu recurso geográfico. Para isso, é necessário o país criar um novo quadro mental, valorizar todos os seus ativos e inseri-los nas redes globais, sintonizando Portugal como novo ciclo de desenvolvimento da Bacia Atlântica, que vai desempenhar um papel importante na geopolítica do século XXI. Para isto ser possível, é muito importante o país ter um planeamento estratégico, definir os objetivos, atribuir os meios e as responsabilidades e monitorizar a execução. Como dizem os anglo-saxónicos: Failing to plan is planning to fail.”

O mesmo vale para Galiza.

As relações económicas vão à frente das sociais, culturais ou institucionais? Qual o papel das eurocidades a tentar todas as vias de integração?

Poderia pensar-se que, do mesmo modo em que a Uniom Europea foi um derivado posterior da originária Comunidade Económica do Carvom e o Aceiro (CECA) essa integraçom económica da Galiza e Portugal pode dar lugar a futuras formas de relaçom social, linguística e cultural. Mas nom deve entender-se essa possibilidade como um jeito de determinismo. Depende da política, em sentido amplo – a evoluçom histórica – e em sentido restrito – as acções de governo – que essa possibilidade poda tonar-se efetiva. Mas poderia dar-se o caso de que a integraçom económica fosse um êxito e a Galiza continuar a perder singularidade.

Além disso, nom se pode deixar de constatar que existem suspicácias. A cidade que mais se sente ameaçada polo desenvolvimento da área do Porto é Vigo. Basta ler o Faro de Vigo – um jornal que dá certa importância às notícias económicas – para entender que, por exemplo, a ampliaçom do porto de Leixões é visto com certo temor a que se repita o êxito do Sá Carneiro. Possivelmente Abel Caballero e outras elites locais julgam que promover uma maior cooperaçom com o Porto e o Norte de Portugal pode ser mais benéfica para essa cidade do que para Vigo.

Penso, no entanto, que no caso particular de Leixões, nom existe muito perigo, entre outras coisas porque as condições naturais do porto de Vigo som muito melhores do que as do cais português. E a especializaçom de Vigo em congelados e distribuiçom de fruta é difícil que venha a ser comprometida.

No cômputo total, a Galiza tem muito que ganhar a promover as relações mútuas – é a tese que defendo em Unha Nova Olanda , mas é certo que Portugal provavelmente ganhe mais. Nom deveria haver problema. A alternativa, a falta de integraçom, é ostensivelmente pior.

A reintegração linguística tem um papel entre as outras integrações todas que parecem querer avançar?

Tem um papel. Se em Portugal falassem swahili talvez fosse diferente. Mas qualquer galego é muito fácil entender-se em Portugal e vice-versa. Mesmo a falar castelhano, que é o idioma com o qual os portugueses costumam dirigir-se a nós, ainda que o interlocutor lhes fale em galego.

Ora bem, é perfeitamente possível que a interrelaçom nom implique uma maior valorizaçom do galego em Portugal, ou mesmo do português na Galiza.

A comunidade de interesses deveria ser um bom substrato para trabalhar as afinidades, também no plano antropológico, linguístico, cultural, etcétera. Mas seria ingénuo pensar que sem certa predisposiçom, sem atitudes e políticas expressas, isso vai acontecer sem mais.

Pola parte positiva, fica, obviamente, que é mais fácil implementar essas afinidades com uma mais profunda interrelaçom do que a viver de costas. Isso é evidente.

Uma maior presença do português no ensino poderia ser um incentivo ao um maior fluxo económico entre a Galiza e Portugal?

A Extremadura espanhola tem mais aulas em português do que a Galiza. É uma anomalia evidente. A Iniciativa Paz Andrade – defendida no Parlamento galego polo meu amigo Xosé Carlos Morell – deveria ser levada mais a serio. Por outro lado, talvez houvesse que explorar, para além dos vínculos económicos, os mediáticos.

Que opinas de instituições como o Eixo Atlântico ou a Comunidade de Trabalho Galiza-Norte de Portugal?

Som instituções muito precárias e de escasso peso. Nom há por parte dos Estados respetivos uma aposta contundente. Como sempre, tudo depende da vontade política. Da vontade política dos Estados em primeiro lugar – Espanha e Portugal. E, em segundo lugar, também da vontade e visom das instituções galegas e portuguesas – Xunta, concelhos, empresários, câmaras municipais e outras entidades do norte português. Ainda, evidentemente, é importante o papel das sociedades civis respetivas, signifique “sociedade civil” o que significar.

Portugal apostou na Alta Velocidade para a faixa atlântica e na Galiza essa música soa bem a todos os atores políticos e económicos. Caminhamos para uma megacidade Lisboa-Ferrol?

A prioridade de Portugal, antes do AVE Lisboa-Madrid, é conectar Portugal com a fachada Atlântica. Para norte com a Galiza e para sul com a Andaluzia, especialmente Algeciras, o grande porto ibérico de contentores. Olhando o mapa pode observar-se que existe um contínuo de populaçom na faixa atlântica até Sétubal, nom mais abaixo, nem para o interior. A Galiza e Portugal partilham um padrom nesse sentido.

Existe um interesse objetivo português por desenvolver uma península ibérica em rede que favorecerá – mas estamos a falar de décadas – o desenvolvimento dessa conurbaçom costeira que nom eliminará as singularidades das diversas culturas urbanas, nem das galegas nem das portuguesas.

Ao mesmo tempo, essa oportunidade de desenvolvimento é uma alternativa a que a economia e a sociedade galegas podam ficar fagocitadas até um determinado nível polo extraordinário imã centrípeto da capital espanhola.

O hinterland de Madrid tem um extraordinário poder de atraçom – um magnetismo derivado da concentraçom de recursos e de determinados fenómenos associados à globalizaçom. Ora bem, esse carácter de cidade global de Madrid dá uma base económica ao centralismo. Em sentido contrário, o policentrismo, uma certa difusom da atividade económica, favorece soluções federais, mais equilibradas territorialmente.»

Cf. PGL

Fernando González Laxe: “Certamente os vínculos históricos e culturais são a base do desenvolvimento dos povos”

Xoán Vázquez Mao e Fernando González Laxe falam para o PGL sobre as ligações entre Galiza e Portugal

Entendendo a importância estratégica das ligações comerciais e económicas da Galiza com o Norte de Portugal, e as implicações e facilidades que a língua comum pode achegar nesse âmbito, a AGAL lança um novo desafio, consultar vozes autorizadas que possam deitar luz sobre a importância do estudo do português como ferramenta para as interações transfronteiriças.

Para isso, e com o apoio da Deputación da Corunha, hoje falamos com o secretário-geral do Eixo Atlântico, Xoán Vázquez Mao e mais com o diretor do informe socioeconómico do Eixo Atlântico, Fernando González Laxe.

Nos últimos tempos tem crescido o interesse no Eixo Atlântico -como instituição e como coesão- ou é só aparência?

Xoán Vázquez Mao: “Quando falamos do interesse do Eixo, há que diferenciar dois aspetos, o interno e o externo. O interesse do Eixo no aspeto interno mantem-se em alta, e cada vez mais, como demonstra o facto de que segue havendo pedidos de Municípios para o integrarem, que nem todos são aprovados porque dependem de vários fatores, mas neste momento já há um novo Município português que se incorpora no mês de janeiro com o que alcançaremos o número de 42”.

“No que se refere ao interesse externo, tem muito que ver com as atividades e com a parte mediática. Por exemplo, quando há Jogos, são mais de 2000 participantes, o que implica tanto eles como as suas famílias, que fazem acompanhamento das atividades em que participam os filhos. Porque os Jogos são algo singular. Logicamente o interesse das pessoas cresce quando se refere a atividades como a deste ano, a Capital Cultural do Eixo em Lugo, pois obviamente Lugo tem estado em primeira linha do foco. Ou quando os meios de comunicação reproduzem informações nossas e, aí, aos meios de comunicação o que lhes interessa são sempre as infraestruturas. Portanto, o interesse no âmbito externo depende destes fatores”.

A teu ver, em que ponto/momento se encontram as relações económicas entre a Galiza e o Norte de Portugal?

Fernando González Laxe: “Com grande intensidade, reflexo de uma maior confiança mútua entre ambas as formações. Não só se constatam investimentos de um lado ou do outro, mas também existem alianças interempresariais robustas que reforçam a mencionada combinação de interesses de forma a aproveitar as vantagens comparativas e locais”.

No mundo da pesca existem uns interesses compartilhados ou contrapostos entre a Galiza e Portugal?

Fernando González Laxe: “O sector das pescas está regulado pela Comissão Europeia. Por vezes, os interesses manifestados pelas frotas galegas e portuguesas não são bem explicitados ou não são aceites pela Comissão Europeia. Deveria existir uma melhor aliança sectorial para defender os interesses em Bruxelas. Não existem, pois, contraposições; existe uma falta de cooperação”.

O dinamismo da economia galega ou da economia portuguesa entendem-se sem a outra parte?

Fernando González Laxe: “São economias bem distintas, pois correspondem a realidades sociais e territoriais diferentes. Mas, têm características comuns: são economias atlânticas, marítimas e periféricas no quadro europeu. Possuem, também, uma ampla dependência dos recursos naturais, uma forte densidade populacional e uma estrutura empresarial singular onde predominam as pequenas empresas”.

O dinamismo da área económica galego-portuguesa é já anterior à União Europeia?

Fernando González Laxe: “Sem dúvida nenhuma, fazem parte de um espaço próprio e singular dentro da Europa policêntrica e diversa. Ao longo destes últimos anos melhoraram em termos de convergência, mas ainda são dependentes da evolução dos ciclos económicos. Ou seja, têm baixos índices de resiliência. Mas não significa que estejam apenas apostando por na liberdade do que é denominado “armadilhas do desenvolvimento”. Agora encaram o futuro com base em apostas tecnológicas e logísticas que deveriam permitir melhorar a competitividade e o posicionamento exterior”.

A Galiza e Portugal conformam um espaço geográfico estratégico no mundo atual (fachada atlântica)?

Xoán Vázquez Mao: Há que diferenciar Galiza e Portugal de Galiza e Norte de Portugal. Se falamos de Galiza e Portugal tudo, sim, configuramos um espaço estratégico porque somos a fachada marítima atlântica da Península Ibérica. E, dentro do que é o Atlântico Europeu ―que a seguir vem logicamente o atlântico africano― constituímos um dos quatro grandes eixos de referência, que são o espaço Báltico, toda a zona de Roterdão, a zona francesa de Le Havre ―quase podíamos dizer de Le Havre a Cherbourg― e, a nossa zona, mas logicamente também com o interesse da zona cantábrica entre Xixón e Bilbo. Mas, face ao Mercosul, face à América do Norte e face ao canal do Panamá, nós temos uma posição estratégica que, em termos de logística marítima, Portugal sabe gerir muito melhor do que Espanha e também muito melhor do que a Galiza. Se falamos de Galiza e o Norte de Portugal, então estamos a falar de uma eurorregião com grandes potencialidades em todos os âmbitos, porque 7 milhões de habitantes nos configuram como a terceira área urbana da Península Ibérica e estamos entre as 10 áreas urbanas mais importantes da Europa, com Lisboa à frente, o que não quer dizer que os poderes políticos nem da Galiza, nem de Espanha o entendam.

As relações económicas vão à frente das sociais, culturais ou institucionais? Qual o papel das eurocidades a tentar todas as vias de integração?

Fernando González Laxe: “Certamente os vínculos históricos e culturais são a base do desenvolvimento dos povos. Nos nossos casos são muito evidentes e sublinham os nossos comportamentos. Estamos, pois, em dívida com a história e as tradições. Ou seja, mantemos o legado herdado”.

Os vínculos culturais e históricos são importantes para fortalecer os laços económicos? E vice-versa?

Xoán Vázquez Mao: “Os vínculos culturais e históricos são a argamassa e a base da Eurorregião desde que éramos Galaecia, e são importantes para fortalecer os laços económicos? Bem, os laços económicos movem-se por outras vias, num mundo globalizado, onde a história e a cultura não têm necessariamente uma relação direta. Têm uma relação, pois, de competitividade, da inovação, da complementaridade. E o reforço dos laços económicos vai reforçar os laços e os vínculos culturais e históricos? Não, porque, insisto, estamos a falar de uma economia globalizada. Se se pergunta se vai reforçar os laços sociais, diria que sim, mas os históricos estão escritos, não têm que ser reforçados com nenhum elemento novo e os culturais lamentavelmente não têm uma relação direta com a economia”.

A reintegração linguística tem um papel entre as outras integrações todas que parecem querer avançar?

Xoán Vázquez Mao: “Vamos ver, aqui a integração que avança é a europeia e, portanto, o âmbito europeu é o que nos está a permitir desenvolver políticas que eu não chamaria integração, fomos a mesma gente, somos a mesma gente, portanto pouco temos que integrar. Dentro disso, pois há uma batalha na União Europeia por reforçar as chamadas línguas minoritárias, e aí a temática, a orientação das línguas, já é outro tema que neste momento não está sobre a mesa. É evidente que, há anos, quando se apresentou a normalização linguística e se reestruturou o galego, se se apresentasse o que chamamos a integração de outra maneira mais afastada da política provavelmente poderíamos estar numa posição de convergência que seria muito benéfica para o galego e para o português, mais para o galego, porque chegaríamos a uma comunidade importantíssima entre os países em que se fala galego e português. Apenas os PALOP representam um volume muito importante. Agora, neste momento, acho que o tema da integração linguística não está sobre a mesa. Pelo menos não ao nível que se pergunta. Tem interesse? Claro, tudo o que signifique a convergência entre o galego e o português tem interesse, mas neste momento não está sobre a mesa e, portanto, não tem um papel relevante, poderia tê-lo, mas não o tem agora”.

Uma maior presença do português no ensino poderia ser um incentivo a um maior fluxo económico entre a Galiza e Portugal?

Fernando González Laxe: “Para os países avançarem são necessárias dinâmicas que incrementem o fluxo entre ambos. Não são exclusivamente populacionais, comerciais, financeiras, tecnológicas, relacionadas com a informação…, mas também os idiomas e as línguas deveriam ser objeto de uma maior interrelação entre os países. As universidades públicas da Galiza assim o entendem”.

Instituições como o Eixo Atlântico ou a Comunidade de Trabalho Galiza-Norte de Portugal deviam ser revalorizadas? Deviam possuir mais funções e competências?

Xoán Vázquez Mao: “O Eixo Atlântico está suficientemente valorizado e como não é uma instituição pública, mas sim uma associação voluntária de municípios, tem todas as competências que deseja e que pode ter; portanto, não temos nenhum problema. Aliás, consideramos que, como dizia na primeira pergunta, no nosso âmbito estamos muito valorizados. Inclusivamente, se levamos na conta que não somos um serviço público para os cidadãos, mas que resolvemos problemas que nos apresentam os cidadãos, como foi o exemplo da mobilidade entre Norte e Galiza na pandemia, creio que estamos muito bem valorizados sem sermos um serviço público.

O nosso problema não é de competência, mas o que executamos são incumbências. A Comunidade de Trabalho é outra história, a Comunidade de Trabalho hoje em dia praticamente não existe porque a Xunta de Galicia não tem ação exterior e sim, era muito importante que se refundasse completamente, com os passos necessários, com outros atores à frente que entendam e compreendam o que é a ação exterior. Há anos apresentámos uma modificação da Comunidade de Trabalho em que estivéssemos todos (nós somos membros e não somos convocados, nem nós, nem os restantes membros), e sim, deveriam ser cumpridas as normas fundacionais e o regulamento da Comunidade de Trabalho, que não estão a ser cumpridos. Em todo o mandato de Feijó primeiro e de Rueda depois, não foram cumpridos, e nós propusemos há muito tempo que a Comunidade de Trabalho fosse um fórum de discussão e debate dos assuntos relevantes da Eurorregião, e não um conjunto de conferências que não interessam a ninguém. Mas deveria ser um Fórum com todos os atores sentados numa mesa a discutirmos desde questões de economia até questões de infraestruturas, de cultura, de política social, enfim, tudo o que nos afeta. Esta AECT que criaram e que não serve para nada deveu Secretaria executiva da Comunidade de Trabalho, numa entidade que tenta permanentemente contra programar os demais agentes no território”.

Portugal apostou na Alta Velocidade para a faixa atlântica e na Galiza essa música soa bem a todos os atores políticos e económicos. Caminhamos para uma megacidade Lisboa-Ferrol?

Xoán Vázquez Mao:Aqui há duas questões. Na primeira, entendo que estamos a falar da Alta Velocidade em que Portugal é a locomotiva, mas também a Galiza, não é uma ou outra, não é uma contra outra. É uma linha entre, na atualidade, Corunha e Lisboa, e esperemos que não em demasiado tempo Ferrol e Lisboa. Portanto, aí não há comparação, porque aí o governo espanhol não se preocupava nada. Agora está a desbloquear as fases, pela pressão do Governo Português.

A questão é se caminhamos para uma megacidade Lisboa-Ferrol. Bem, isso não existe, Lisboa e Ferrol não podem ser uma megacidade em nenhum caso, estamos a falar de aproximadamente 500 km entre elas, e com 500 km não se pode construir uma megacidade. Se o que estamos a falar é de um contínuo urbano que vai desde Ferrol, eu não diria até Lisboa, mas até Sines, que ligue os três portos de águas profundas que existem na fachada marítima ibérica ―Ferrol, Corunha e Sines― então sim, há evidentemente esses objetivos, um sistema portuário, um sistema aeroportuário.

Megacidades não, do que estamos a falar exatamente é de policentrismo, isto é, de constituir redes e sistemas de cidades médias que têm mais qualidade de vida e são mais governáveis. As megacidades são fontes de problemas como todos sabemos. Se falamos de um sistema urbano, sim, estamos a falar do sistema urbano do Eixo Atlântico, e se estamos a falar de um contínuo urbano, sim, podemos falar de toda a fachada marítima. Mas claro, cuidado, não deixemos de lado o interior, que precisamente por ser deixado de lado historicamente agora tem mais problemas demográficos que afetam a coesão do território. Portanto, eu não falaria de Ferrol-Lisboa, eu falaria desde o norte da Galiza até ao sul de Lisboa ou inclusivamente, até ao Alentejo. Já chegar até ao Algarve apresenta outras questões que seriam objeto de outras particularidades”.

Cf. PGL

MAIS GALEGO NA EUROPA: um modelo integrador para a língua

«O galego já está a ser utilizado na União Europeia por meio do português. Agora poderíamos conseguir um maior reconhecimento, incluindo as nossas próprias palavras, o nosso sabor local para termos melhor voz nas instituições europeias. Já há precedentes. Pode-se fazer.

O porquê desta petição

O governo espanhol solicitou este ano 2023 à União Europeia que catalão, basco e galego passem a ser novas línguas oficiais da União Europeia. Uma proposta de ‘novas’ línguas que deve ser defendida no caso do catalão ou do basco, mas que não seria necessária no caso do galego. Porque nós somos um sítio distinto e a nossa língua, com as suas variedades, fala-se um pouco por todo o planeta.

Nesse contexto, um grupo de cidadãs e cidadãos europeus decidimos elaborar este manifesto para encontrar uma solução adequada ao caso galego. Entendemos que um modelo integrador, que permita o reconhecimento do galego sem afastá-lo do sistema linguístico ao que pertence, tem espaço no seio da UE […].»

Cf.: MAIS GALEGO NA EUROPA

«Dos estudos galegos em Portugal. Trajetória e alguns desafios»

Ogalus Especial Lusofonia 2023

«ARTIGO QUE FAZ PARTE DO ESPECIAL “OGALUS: LUSOFONIA” POLO DÍA MUNDIAL DA LINGUA PORTUGUESA, 5 DE MAIO DO 2023

A partir de inícios da década de 90 do século passado, a Xunta de Galicia começou a promover uma rede de Centro de Estudos Galegos (doravante CEG) em várias universidades de Europa e América. Apesar de diferentes casuísticas, em geral o papel dos CEG passa por lecionar diversas matérias de temática galega (mormente aulas de língua) em âmbito universitário; passa também por promover a cultura galega no espaço académico e na sua área de influência…
Para tal, segundo a página web da Secretaría Xeral de Política Lingüística da Xunta de Galicia atualmente “o galego é obxecto de estudo en trinta e nove universidades. Vinte e oito delas contan con lectores – licenciados/as en Filoloxía Galega-, asentados en departamentos coñecidos como Centro de Estudos Galegos” (https://www.lingua.gal/o-galego/proxectalo/rede-de- centros-de-estudos-galegos).
Esta rede de CEG implica, cabe destacar, um importante esforço económico pois, em regra, a Xunta de Galicia atribui um orçamento, mediante a assinatura de um protocolo com cada universidade, que tem por objetivo retribuir o/a leitor/a e custear as atividades culturais. Não sendo, em geral, quantias económicas desorbitadas – apesar das dificuldades económicas que muitos/as leitores/as enfrentam – significam, como dizíamos, um esforço económico notório no sentido de, cabe pensar, internacionalizar a cultura galega.

Em Portugal o primeiro CEG foi criado em 1994 na Universidade Nova de Lisboa. Um ano depois, nasceu a Cátedra de Estudos Galegos da Universidade de Lisboa, hoje sem vínculo institucional com a Xunta de Galicia. De 1997 data a criação do CEG da Universidade do Minho e, alguns anos mais tarde, em 2002, o da Universidade do Algarve. Os estudos galegos em Portugal não se esgotam nesta rede, naturalmente; acreditamos, no entanto, que os CEG de Portugal são um dos espaços privilegiados para a dinamização do que poderíamos chamar a internacionalização da cultura galega no espaço português.

A reflexão acerca do papel dos CEG em Portugal não pode descurar, entendemos que o relacionamento, de variada espécie, entre Galiza e Portugal nunca, em séculos, foi tão intenso e diversificado como na atualidade.

Lembre-se ao respeito a relativa institucionalização da relação Galiza-Portugal derivada do surgimento de, a partir da década de 90 do século passado, diversas organizações galego-portuguesas: a Comunidade de Trabalho Galiza/Norte de Portugal (1991), a partir de 2008 Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial Galiza – Norte de Portugal; o Eixo Atlântico do Noroeste Peninsular (1992), constituído por mais de 40 cidades e vilas; com dimensão estritamente local, as Eurocidades (até a data: Valença- Tui, Chaves-Verim e Cerveira-Tominho, a partir de 2012, 2014 e 2018, respetivamente); ou, no plano académico, a constituição do Centro de Estudos Eurorregionais Galiza – Norte de Portugal (2004), integrado por 7 universidades galegas e portuguesas.

O até aqui sinteticamente referido, deve ser complementado com outras iniciativas de foco cultural que vão ganhando visibilidade nomeadamente a partir de, grosso modo, 2014 (significativamente data da promulgação no Parlamento galego da Lei Valentim Paz Andrade): o Prémio Literário Nortear (primeira edição em 2015), promovido pela Direção Regional de Cultura do Norte, a Xunta de Galicia e mais o Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial Galiza – Norte de Portugal; o bracarense Festival Cultural Convergências Portugal Galiza (também desde 2015); Arri[t]mar. Prémios Música e Poesia Galego-Portuguesa (a partir de 2016), iniciativa da Escola Oficial de Idiomas de Santiago de Compostela; ou, no âmbito académico, o Programa IACOBUS, cujo objetivo passa por incrementar a cooperação entre as universidades galegas e as do Norte de Portugal replicando em parte o programa Erasmus da Comissão Europeia.

Perante este quadro parece necessário refletir acerca da possibilidade de os CEG portugueses contribuírem para – em termos de diplomacia cultural digamos – o diálogo entre a Galiza e Portugal ou até entre a Galiza e a Lusofonia. Para tal, apontamos alguns desafios, seria preciso repensar a própria rede de CEG. Resulta surpreendente o vazio

desta rede na Universidade do Porto, localizada numa das cidades de referência do Norte português, ou na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; também na pujante Universidade de Aveiro, entre outras. A eventual reformulação da rede e outras iniciativas deve, em nossa opinião, problematizar a lógica central da relação atual: a consequência sobretudo das políticas da União Europeia (de des-fronterização), os termos do relacionamento estão a virar para a dupla Galiza-Norte de Portugal (ou vice- versa), frente ao antes relativamente consolidado Galiza-Portugal (ou Portugal-Galiza). Cabe, portanto, os atores envolvidos repensarem esta incipiente lógica eurorregional.

Por outro lado, com o sentido de otimizar recursos e promover um trabalho significativo, seria esperável os CEG portugueses contarem com planificações alinhadas com estratégias e objetivos previamente definidos. Nesta direção os três CEG portugueses começamos incipientemente a estabelecer programas de atuação conjuntos, tentando articular o trabalho desenvolvido e poder alcançar mais e melhores objetivos. Entre outras atividades destacamos uma linha de investigação en curso que pretende conhecer as ideias e imagens dos/as alunos/as de estudos galegos em Portugal; igualmente a publicação em Galizae(m)nós. Estudos para compreensão do relacionamento cultural galego-português (2021; acessível em http://hdl.handle.net/1822/76402) em que pretendemos dar voz a pessoas da Academia portuguesa que se têm interessado pelos estudos galegos; também a articulação entre os três CEG que terá como cólofon a celebração do próximo congresso da Asociación Internacional de Estudos Galegos em Portugal (Universidade do Minho, 2024).

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Carlos Pazos 6

Pazos-Justo, Carlos é formado em Filologia pela Universidade de Santiago de Compostela. Como bolseiro do Instituto Camões é pós-graduado pela Universidade do Porto (2001). É Mestre em Teoria da Literatura e Literatura Portuguesa pela Universidade do Minho (2009), Máster en Cultura Española…»

Cf. IGADI

Miguel Anxo Bastos: “Galego na Europa? Não é preciso, já está”

Miguel Anxo Bastos

«Uma das grandes conquistas do nacionalismo catalão nas suas negociações para a constituição da Mesa do Congresso é conseguir a oficialidade da língua catalã e do resto das línguas co-oficiais espanholas nas instituições europeias. No caso de tal iniciativa poder ser levada a cabo, algo bem mais complicado do que parece, não podemos deixar de felicitar os catalães e os bascos pela medida, mas a questão é saber se nos devemos felicitar na mesma medida. Digo isto por duas razões, uma porque a língua galega já é oficial na Europa e a outra porque se estabeleceria a ideia de que a língua que falamos é uma língua diferente da portuguesa, a ponto de necessitar de tradução oficial, algo com que não concordo, pois entendo que o galego e o português são a mesma língua falada aqui e ali com características peculiares. Aliás, não se trata apenas de uma posição de reintegracionistas radicais ou de romanistas como o Eugenio Coseriu, mas também a dum famoso (por ser acusado de espanholista) linguista, D. Gregorio Salvador, no seu livro sobre as línguas de Espanha, que se espantava com a divisão artificial que aqui se fazia entre o galego e o português, conhecendo ele bem as duas línguas. Se seguirmos esta lógica de diferenciação linguística, suponho que também teremos de traduzir o catalão por valenciano e o maiorquino por menorquino nas instituições da UE uma vez que, segundo alguns, são também línguas diferentes. Se, pelo contrário, determinarmos que o galego e o português são a mesma coisa, já podemos utilizá-los oficialmente, como fez Camilo Nogueira quando foi deputado europeu, falando o que nós chamamos galego e pedindo um intérprete português sem qualquer problema, e já dispomos de toda a documentação necessária na nossa língua na sua variante internacional.

Algo semelhante está a acontecer com a rotulagem dos produtos na nossa língua, pedida neste jornal há alguns dias. Quando vou às compras, vejo que cada vez mais produtos estão corretamente rotulados, suponho que porque muitas empresas utilizam a Península Ibérica como unidade de distribuição dos seus produtos, o que me ajuda a conhecer os nomes corretos de muitos novos produtos alimentares ou de limpeza que não tinham um nome tradicional, mas que agora o têm seguindo o génio da nossa língua e sem ter de recorrer ao espanhol. Suponho que o que se está a defender é a rotulagem na variante territorial da língua portuguesa aqui falada e não vejo a necessidade de fazer as empresas incorrerem em mais custos só porque alguns teimam em querer diferenciá-la. Insisto em que o principal é estabelecer a definição do que é a nossa língua, e reitero-o porque parece haver uma certa ambiguidade no mundo nacionalista, pelo menos na maioritaria, a este respeito. As forças não nacionalistas parecem ser mais claras e defendem que se trata de mais uma das línguas espanholas, exclusivamente confinada ao território do Estado. Por um lado, “a nossa língua vive e floresce em Portugal” e, por outro, pedimos coisas que já nos estão disponíveis, como plataformas audiovisuais com programação em galego, que basta um clique para obter, ou o já referido estatuto oficial na Europa. Este debate de definição é muito relevante, não só porque afeta a nossa estratégia política e as nossas relações internacionais, mas também porque, se a ideia de unidade linguística for correta evitaria não só que fizéssemos exigências com pouca utilidade, mas evitaríamos contribuir ainda mais para enfraquecer a nossa língua, afastando-a do tronco comum e dialectalizando-a. Se nós próprios não somos claros a este respeito, não podemos esperar que os atores políticos externos o sejam».

Cf. Nós Diario: Galego na Europa? Não é preciso, já está

«Lula e Galicia na construción da lusofonía»

«[…] A posibilidade dun punto de inflexión na dinámica da CPLP, un impulso cara diante e un novo namoro entre o Brasil e África será relevante para Galicia. Próximos a cumprir o décimo aniversario da aprobación por unanimidade no Parlamento de Galicia da coñecida como Lei Paz Andrade (Lei 1/2014, do 24 de marzo, para o aproveitamento da lingua portuguesa e vínculos coa lusofonía), a nova etapa que agora abrirá a maior organización lusófona pode ser un novo escenario idóneo para desenvolver a Lei en Galicia con máis intensidade.

Grandes proxectos dos que se fala desde hai anos, como a Casa da Lusofonía, o Observatorio da Lusofonía Paz Andrade (no que traballa a Xunta, derivada da Lei de Acción Exterior e Cooperación ao Desenvolvemento), ou os mecanismos de participación de Galicia na CPLP, (agora que España é observador asociado recoñecendo o peso de Galicia neste proceso), poden ter unha nova onda de oportunidades para maximizar as posibilidades do retorno das nosas accións en todos estos países, que suman os 250 millóns de habitantes…

Non obstante, o prioritario (como no conxunto da prolífica acción exterior de Galicia) é ordear e poñer en común todo o que xa se está facer desde a Xunta, as cidades, as Deputacións. Sumar forzas coa sociedade e trazar unha folla de ruta que máis alá das palabras e os titulares traia novas enerxías ao noso modelo de desenvolvemento do futuro. Poucas cousas darían máis sentido a caracterización de nacionalidade histórica no Estatuto […]».

Cf. IGADI

‘O que está a faltar’: mais língua portuguesa na escola?

«Valentín García, secretario xeral de Política Lingüística, e Eliseu Mera, diretor do IES Plurilíngüe de Valga e vice-presidente da Associaçom Galega da Língua (AGAL) conversárom recentemente sobre a progressiva e ainda tímida introduçom do português nas aulas, analisando a oportunidade de avançar com o português em todos os centros do ensino, uma oportunidade que nem o galego como língua nem os galegos como pessoas deviam desaproveitar, pois tornaria a nossa sociedade numa privilegiada em termos idiomáticos.

Esta conversa forma parte dunha série de conversas promovidas pola AGAL e realizadas por Nós Televisión que refletem sobre o ensino do/em galego sob o mote “Ensino do Galego. O que está a faltar?”. A iniciativa contou com o apoio económico da Deputación da Coruña […]».

Cf. PGL