Denis Vicente : «Onde quer se fale a língua portuguesa, de um modo peculiar a cada região, fala-se também o galego»

NATÁLIA CORREIA (C/ RUI CARDOSO), CANTIGAS DE AMOR E DE AMIGO DOS TROVADORES GALEGO-PORTUGUESES. 1974, GUILDA DA MÚSICA; Vinil LP, PT, DP038

«[…] Como já afirmamos anteriormente, o mero estabelecimento de fronteiras políticas, por si só, não estabelece uma fronteira linguística. Hoje, séculos após a Reconquista e o colonialismo do século XVI, o galego e o português ainda possuem enormes semelhanças. Semelhanças que não se restringem apenas a variante do português falado na Europa.

Uma familiaridade que atravessou mares e continentes. Onde quer se fale a língua portuguesa, de um modo peculiar a cada região, fala-se também o galego. Assim a iniciativa de conhecer mais a língua galega torna-se instrumento de aproximação de povos que compartilham cultura e identidade.

É comum que desde sempre estudemos a língua portuguesa através de suas reminiscências mais óbvias. A tradição formalista da maioria das gramáticas do português no Brasil não nos deixa mentir. Mas tornou-se insustentável continuarmos a dirigir nossos olhares somente para a Lusitânia e para a Península Itálica. É preciso lembrarmos da Gallaecia.

Um de nossos maiores poetas cantou a língua portuguesa como a “última flor do Lácio”. Uma perspectiva um pouco lúgubre, a meu ver. Prefiro imaginar que a língua que falamos aqui no Brasil é uma folha nova. Uma folha de uma árvore que tem suas raízes assentadas não em Roma ou em Lusitânia, e que continua florescendo e frutificando. Uma folha da árvore da Galiza».

Cf. Quilombo Noroeste

 

10 de xuño: Dia de Camões no Círculo de Artesáns da Coruña

Por segundo ano celebraremos o dia de Camões no Círculo de Artesãos da Corunha (também conhecido por Circo de Artesáns e com nome oficial de Sociedad Recreativa e Instructiva de Artesanos), sociedade fundada em 1846 e sempre sediada na rua Sto. André, número 36, da cidade de Hércules. O evento de novo conta com a colaboração da revista Palavra Comum.

Com esta instituição, a mais velha da Galiza e uma das mais antigas de Espanha na sua categoria, tivo colaborado um dos grandes vultos do teatro e a cultura galegas no século XX: Jenaro Marinhas del Valhe. Nas suas palavras nos apoiamos para defender a necessidade de celebrar Camões e com ele o interesse dos galegos polos clássicos portugueses:

«Havemos de acentuar a nossa atenção sobre as publicações dedicadas aos escritores clássicos da literatura portuguesa, já que atingem marcadamente a nossa própria literatura galega. Toda literatura que se preze assenta-se sobres um seu período de madurez que apelidamos clássico, e a ele deve dirigir a mirada todo o que pretenda estudá-la ou ocupar um lugar no estamento das letras. Mas não de nenhum jeito para imobilizar-se nos seus esquemas ou cânones estilísticos, unicamente para não se perder de si, para não outrizar-se em expressões estranhas».

E nos mesmo quadro de referencias, o professor Marinhas fazia constar dous aspetos muito relevantes da História da literatura galega, que poucas vezes se reconhece como faz falta: que carecemos de clássicos próprios e que os nossos maiores vultos literários se têm expressado total ou maioritariamente em castelhano.

Todas estas razões, e outras mais, muito melhor exprimidas foram já gravadas por mim na homenagem a Jenaro Marinhas de 2008:

VII Festival Internacional de Poesia de Moçambique convida autoras galegas

As galegas Concha Rousia e Iolanda Aldrei, junto com o galego Alexandre Brea Rodríguez e o português Samuel Pimenta, participarão como talentos convidados

Galiza-Moçambique Numa linguagem e numa sinfonia
Precedente destas relações galego-moçambicanas

Como convidados de Moçambique figuram: Francisco Noa (escritor e crítico literário), Nelson Saute (escritor, jornalista e editor), Paulina Chiziane (escritora), Sónia Sultuane (escritora e artista plástico), Marcelo Panguana (escritor), Cheina (escritor e irmão do poeta-mor Sebastião Alba), Lino Mukurruza (escritor e coordenador do Clube de Leitores de Quelimane e director da revista Kilimar), Alerto Bia (poeta), Andes Chivangue (escritor), Dom Midó das Dores (escritor e presidente do conselho municipal da cidade de Xai-Xai), Elísio Miambo (escritor), Lahissane (poeta), Suely Vasconcelos (professora brasileira radicada em Moçambique), Almeida Cumbane (escritor), Deusa d’Africa… e outros.

«A Associação Cultural Xitende em parceria com o Conselho Municipal da Cidade de Xai-Xai, convidou um grupo de autoras e autores galegos a participar do VII Festival Internacional de Poesia (FIP) 2023, que realiza-se-à de 23 a 30 de Abril de 2023 no átrio do Conselho Municipal da Cidade de Xai-Xai e nas sessões de workshops a decorrem nas escolas de acordo com o programa anexo [Cf. Programa SESSÕES DO CMCXX e programa WORKSHOPS NAS ESCOLAS].

EMERGENTE Novos poetas lusófonos
Mais um prededente, idealizado por Samuel Pimenta integrando Alexandre Brea Rodríguez

De referir que a Associação Cultural Xitende, uma agremiação juvenil moçambicana, criada em 1996, sem fins lucrativos, composta por mais de trinta jovens, cujo objectivo principal é desenvolver a cultura e promover as identidades culturais, realizará a 7ª edição do FIP que irá decorrer nos espaços escolares ao período da manhã a citar as escolas envolvidas: Escola Secundária Joaquim Chissano, Escola Secundária de Xai-Xai, Instituto de Formação de Professores

Concha Rousia

Eduardo Mondlane e Universidade Save. As sessões do período da tarde realizar-se-ão no átrio do Conselho Municipal da Cidade de Xai-Xai, abertas ao público em geral, a partir das 17 horas.

Iolanda Aldrei

O FIP, é uma edição de periodicidade anual que junta escritores nacionais e internacionais em Moçambique, na cidade de Xai-Xai, no próximo ano irá contar com a parceria da ALCA Angola, Alcance Editores, Ethale Publishing, Editora Kulera, livraria Mivany Shop e com o patrocinador exclusivo, o Conselho Municipal da Cidade de Xai-Xai.

De referir que a edição deste ano será presencial e poderá contar com a participação especial de Portugal, Brasil, Bolívia, Perú, Galiza, São Tomé e Príncipe, Angola, África-do-Sul e Moçambique (país anfitrião).

Alexandre Brea Rodríguez
Alexandre Brea Rodríguez

Outrossim, irá decorrer em concomitante no átrio do Conselho Municipal a feira do livro que será inaugurada no dia 23 de abril, dia mundial do livro, e estará patente das 9.00 até as 19.00 horas durante a semana toda onde iremos expor os livros dos autores presentes no FIP.

Samuel Pimenta

A Xitende traçou este projecto em parceria com o Conselho Municipal da cidade de Xai-Xai, onde se exaltam as artes moçambicanas, preserva-se a cultura ao desconstruir os estereótipos sócio-culturais em prol da construção de cidadania. A equipa organizadora não dispõe de meios para a aquisição da passagem aérea, no entanto, fará a cobertura logística dos convidados, especificamente no que se refere ao combustível para o transporte de Maputo à Xai-Xai e vice-versa, alojamento e refeições durante o festival em Xai-Xai.»

[Associação Cultural Xitende]

Cf. Revista Palavra Comum

Mario Regueira: “O segredo melhor guardado do país”

«[…] Editar literatura portuguesa em galego?

Estas semanas a generosidade duma editora galega punha nas minhas mãos outro clássico da literatura portuguesa “traduzido” para galego. Por mais que a edição fosse tão formosa como costuman ser estas coleções e que a adaptação ortográfica fosse encarregada a uma pessoa que admiro, soube imediatamente que não o leria, ainda que o livro despertasse a minha curiosidade o suficiente como para encomendar uma edição portuguesa no dia seguinte […].

Há quem diga que justamente essa é a questão: que algumas pessoas, por razões profissionais ou familiares, temos um contacto com a língua portuguesa que a maioria das pessoas não tem. Cresci numa casa com livros em português que o meu pai lia para mim pronunciando “à galega”. Interessei-me logo pelas línguas e a literatura e quando tive curiosidade por Antero de Quental, Clarice Lispector ou Saramago fiz questão de procurar os livros em português, apesar de todas as livrarias da minha cidade fazerem esforços para me vender traduções em castelhano. Talvez seja uma coisa minha, ainda que a experiência também me diga outras coisas: durante anos voltava das minhas viagens a Portugal carregado de livros infantis para as crianças dos amigos que estas devoravam sem quase notarem, no máximo perguntando por algum termo solto, mais ou menos como quando liam com ortografia galega. Sei que nos dias de hoje uma minoria de galegos e galegas continua a fazer o mesmo, oferecendo este tipo de produtos culturais às suas crianças, também com audiovisual na variante brasileira. Por outro lado, uma parte nada desprezível das editoras do país que se dedicam à língua galega publica numa ortografia convergente ou mesmo com idêntica grafia ao que conhecemos por português. Pode ser uma teima, mas também tenho a sensação, muitas vezes, de que o segredo melhor guardado da Galiza é que a imensa maioria das pessoas galego-falantes podem ler em português com um esforço mínimo. E isto é, em boa medida, independente da guerra de fundo que às vezes se manifestou vandalizando alguns livros.

Tradução e edição nas relações culturais

É certo que igual que uma língua não é só uma ferramenta de comunicação, uma tradução não serve só para fazer algo intercompreensível. Quando se traduziu o Quixote para galego foi um ato mais simbólico do que uma necessidade linguística. Muitas vezes, estas “traduções” do português cobrem um papel de aproximação entre os dois países, e às vezes mesmo estão financiadas por fundos relacionados com a integração europeia. Penso, porém, que muitos desses esforços bem intencionados teriam melhor fortuna noutra direção: uma edição adaptada para o público galego de certas obras não pasa necessariamente por uma adaptação ortográfica supérflua. A maior parte das vezes pode ser mais relevante saber o seu contexto histórico e literário, entender a sua relevância. Compreender o outro no que é diferente, não nas coisas que são praticamente iguais ou simples variantes da nossa realidade. E, obviamente, não ignorar a vantagem de que esse galego do sul devolva parte do vigor perdido ao minguado e arbitrário vocabulário que sancionam instituções como a Academia.

[Este artigo foi publicado originariamente no Nós Diario]».

Cf. PGL: “O segredo melhor guardado do país”.

aRi[t]mar celebrou a lusofonía

«O festival aRi[t]mar fechou esta cuarta feira en Compostela a súa sétima edición cunha gala na que a música e a poesía conviviron en harmonía, bañadas pola defensa da lusofonía, como é meta orixinal desta iniciativa. Sabíanse de antemán os nomes das e dos premiados, mais nin ese avance que lle restaba o efecto sorpresa foi quen de quitarlle brillo a gala da convivencia e a ruptura de fronteiras entre a Galiza e Portugal.

A “abrumadora vitoria feminina” foi seguida por un auditorio ao máximo da súa capacidade (600 persoas) […].»

Source: aRi[t]mar celebra a lusofonía que esvaece as fronteiras

aRi[t]mar​ – Música e Poesia

aRi[t]mar​ 2021 – Os mais de cinco mil votos do público emitidos no certame aRi[t]mar galiza e portugal promovido pela Escola Oficial de Idiomas de Santiago de Compostela  que promove a música e a poesia produzidas na Galiza e em Portugal.

 

Guadi Galego, com Cólico e Cláudia Pascoal, com Quase Dança são as grandes vencedoras da categoria música desta edição. Estes prémios, juntamente com os prêmios de poesia, e o prêmio da embaixada da amizade,  serão entregues na Gala aRi[t]mar 2021.

Segundo explicou o diretor da Escola Oficial de Idiomas, Gonzalo Constenla, o Prêmio voltou a gerar muitas boas expectativas, durante todo o processo de votação foi muito equilíbrado, quer nas músicas ganhadoras quer nas segundas e nas terceiras mais votadas até ao último minuto. Batemos o recorde de votação neste ano, com a participação popular mais alta de todas as edições anteriores.

Continuar lendo “aRi[t]mar​ – Música e Poesia”

Samuel F. Pimenta: “O canto da sereia”

Samuel Pimenta com Pedro Casteleiro na Corunha, por A. Ferreiro (2016)

«[…] Apesar de todo o reconhecimento da Galiza como parte fundamental — e genética — da Língua Portuguesa, não é a legitimação estatal e institucional a definir a importância daquele território no seio da história e do futuro da nossa Língua, até porque tais reconhecimentos são, frequentemente, motivados por movimentos estratégicos, que facilmente podem conduzir à instrumentalização em função de agendas de interesses. A Galiza já era indispensável para a consciência linguística do português antes de todo o reconhecimento institucional dos últimos anos, reconhecimento esse que considero importante, mas jamais um substituto das relações vivas que sempre existiram entre galegos e outros falantes da Língua, nomeadamente com os portugueses. Sabemos como os Estados tendem a apropriar-se da memória, e a CPLP é, antes de mais, uma representação dos Estados, por isso lembro que os Estados e as instituições só se viram na inevitabilidade de reconhecer o valor da Galiza para o português porque, antes de nós, homens e mulheres, durante séculos de História, resistiram para que a memória da Língua não se perdesse — e continuarão a fazê-lo. A adesão da AGLP à CPLP é apenas mais um ponto na longa cronologia da resistência da Galiza dentro do Estado Espanhol. Sim, porque é disso que se trata, de resistência.

Começou com Castela a dominar o Reino da Galiza. O franquismo deu continuidade à opressão, proibindo o ensino do galego nas escolas, em benefício do castelhano. Hoje, ainda há uma política violenta por parte de Espanha para eliminar qualquer brecha que ponha em causa a ideia de “hispanidade”: além da forte orientação do Estado para uma política linguística na Galiza, em que o galego ainda é menorizado, somam-se os episódios de repressão policial à sociedade civil, com revistas policiais a algumas casas pela noite dentro e sem mandato; detenções pela posse de certos livros; acusações de terrorismo com base no uso do lema que Castelão inscreveu no escudo que criou para a Galiza, e com o qual iniciei este texto; intimidações a quem defende a terra da avidez das corporações; e as agressões policiais em manifestações, como as que ocorreram em Compostela, em Maio deste ano, quando vários cidadãos da cidade decidiram protestar contra a ordem de despejo da associação Escárnio e Maldizer. Convém, ainda, apontar a exclusão de que são alvo os escritores galegos que escrevem em galego internacional — ou português –, tanto por parte de instituições públicas, como a Real Academia Galega e o Conselho da Cultura Galega, como por parte de editoras e organizações de prémios literários, subservientes que são ao poder.

Em 2016, tive oportunidade de passar o mês de Outubro na Galiza, onde me confrontei com muitos destes casos. Mais do que o choque pelo que me foi relatado, surpreendeu-me o silêncio, tanto por parte da União Europeia, que parece ignorar a violência policial do Estado Espanhol — violência essa legitimada pela chamada “Lei Mordaça” –, como por parte de Portugal, que tendencialmente vive virado para os países e regiões que dominou, imerso numa narrativa imperial saudosista que lhe tolda a visão, e raramente se volta para os povos que vivem do outro lado da fronteira e com quem partilha um território comum, a Península Ibérica. A minha surpresa — e tristeza, confesso — não vem tanto pelo silêncio das nossas instituições estatais ou dos media, que esses só têm vindo a perpetuar uma narrativa em que a Galiza não tem lugar. Surpreende-me, acima de tudo, o silêncio por parte da sociedade civil, em especial o dos escritores, que pelo seu ofício deveriam conhecer o valor da Galiza para a memória e o futuro da nossa Língua. E, mais do que isso, deveriam questionar as narrativas que o Estado Português e os seus elementos de propaganda nos impõem há séculos […].»

Cfr. Caliban – Revista de Letras, Artes e Ideias

Don Ricardo Carballo Calero desde os tempos da «Lúa Nova»

Carvalho Calero, en 1978 © http://deferrolparaelmundo.blogspot.com.es/

Xulián Maure Rivas (cf. Praza Pública): «Don Ricardo Carvalho Calero (nacido Carballo Calero) merece unha explicación. Non son eu o máis indicado para dala, pero si podo achegar pequenas luces que iluminen escuras preocupacións de quen traballou pola súa terra sen deixar de sorprender cada día a alumnos e colegas. Cando cheguei a universidade de Compostela, para moitos D. Ricardo era o profesor máis culto da Facultade; as súas licenciaturas en Dereito (1931) e en Letras con premio extraordinario (1935) foron as portas que lle abriron un longo camiño, onde corenta anos máis tarde seguía pisando con autoritas nas aulas compostelás.

Ademais de ser alumno seu, tiven relación con D. Ricardo como editor, cando en Galicia había a necesidade de dispoñer dun sistema ortográfico para poder editar libros en galego, destinados fundamentalmente ás novas xeracións. Faltaba máis dun lustro para termos a Lei de Normalización Lingüística de 1983 e os editores galegos tiñan que escoller entre as normas da Real Academia, elaboradas por Carballo Calero, e os métodos de galego que editaran no Instituto da Lingua Galega. A falta de unidade nas teorías lingüísticas, nos intereses de grupo, na visión do futuro e nos criterios pedagóxicos facía imposible que os editores chegasen a ter unha norma segura, con varios lustros de estabilidade, para o traballo editorial que cumpría en Galicia tras a ditadura que rematara en 1975.

Como editor para Galicia da editorial Anaya, programei os primeiros libros de lectura en lingua galega destinados aos cinco primeiros cursos de EXB, serie que levou o nome de «Lúa Nova». Para poder editalos convencín aos responsables do Instituto da Lingua Galega da necesidade de promover un seminario para a unificación das normas lingüísticas do galego. Foi un longo traballo desde decembro de 1976 a xuño de 1977. Así foi recollido por Manuel Rivas na revista Teima de maio de 1977: “Ante a necesidade inmediata de ter un galego fixado prós textos escolares denantes das eleccións, e a traveso do Instituto da Lingua Galega (ILG), convocáronse en decembro unhas xuntanzas que se viñeron celebrando hastra agora e nas que participaron lingüistas, escritores, mestres, etc. Xa hai uns acordos mínimos, acordos que, ó estaren presentes representantes de diversas «tendencias» veñen ser unha base moi importante para acada-la tan desexada normativización”. Rivas titulou o seu artigo “Poñerlle pés á escrita” e deu conta dos participantes nas reunións do seminario, primeiro quincenais e de contado semanais, distinguindo entre os que levaban o peso do traballo e asistían practicamente a tódalas reunións e os que participaron nalgunhas das sesión. No primeiro grupo estaban “Constantino García, Antón Santamarina, Camilo Flores, Xosé L. Rodríguez, M. González González, Charo Álvarez, Francisco Fernández Rei, Xosé-Martiño Montero Santalla, Torres Queiruga, Paco Martín, X. L. Méndez Ferrín, Bernardino Graña, Xulián Maure, Xoan Babarro, X. Alonso Montero, Arturo Reguera, X. Mª Lema Suárez e Felipe Martínez Marzoa”. No segundo grupo estaban incluídos “Carballo Calero, Paco del Riego, Ramón Piñeiro, Carlos Casares, Rábade Paredes, Valentín Arias, Ramón Lorenzo, Xosé Chao Rego, Xosé Fortes Bouzán, Manuel Espiña, Mª Camino Noia, Salvador García Bodaño, Alfredo Conde, Ramón Fraga, Carlos García Martínez, Guillermo Rojo, Harguindey Banet, Manuel Vidán, Masó, Ricardo Palmás, Ríos Panisse e Baltar”. Algúns deste último grupo asistiron soamente unha ou dúas veces, cando coincidía o seu paso por Santiago cunha xuntanza do seminario.

Don Ricardo asistiu ás primeiras reunións e deixou de asistir xustificando a súa ausencia por ter convocado, tamén para os sábados, un curso de doutoramento. O certo é que o protagonismo dos membros máis novos do ILG, que dispoñían de toda información recollida para o Atlas Lingüístico de Galicia, reduciu as actuacións dos académicos a pouco máis que a súa presencia. Antigos alumnos de quen era o único catedrático de Lingüística e Literatura Galegas elaboraban as propostas que despois entre todos –lingüistas, académicos, profesores, escritores, editores, mestres, xornalistas– discutían, modulaban e finalmente votaban. Se había unha boa maioría, acordaban e pouco a pouco en seis meses entre todos aprobaron as Bases pra unificación das normas lingüísticas do galego. Estas cousas das normativas ortográficas, comentou xa desde fóra D. Ricardo, non se poden facer con votacións democráticas.

Os distintos autores da serie de lecturas escolares «Lúa Nova», todos eles participantes no seminario, tiveron que esperar a que as Bases pra unificación fosen publicadas e apoiadas polas institucións. Segundo o académico D. Ramón Piñeiro, que participou ata o final no seminario, a urxencia da publicación e distribución non aconsellaba solicitar da Real Academia Galega unha coedición das Bases co ILG da Universidade de Santiago, pois a RAG crearía unha comisión interna, que dirixiría Carballo Calero, e tardarían máis dun ano en dar resposta.

Xa estabamos no último trimestre de 1977 e como editor de Anaya decidín facer unha edición non venal das Bases para distribuír entre o profesorado de Galicia como agasallo de Nadal. Propúxenlle a D. Ramón Piñeiro que polo menos conseguise do Presidente de RAG un limiar para esta edición. Pediume un borrador e a volta de correo García Sabell devolveuno co engadido do adverbio “fundamentalmente” para destacar o “valor experimental das normas propostas”. A edición saíu polo Nadal dese ano, con 16.000 exemplares que se repartiron entre xornalistas, escritores e o profesorado galego. En poucos días D. Ricardo Carballo Calero xestiona tamén unha reedición de Normas ortográficas e morfolóxicas do idioma galego que publicara a Real Academia Galega seis anos antes (1971).

Para os que elaboraran as Bases o futuro de Galicia estaba na alfabetización das novas xeracións galegas. A normativa ortográfica proposta estaba destinada máis para poder escribir a nosa lingua que para ler os nosos escritores, pois lendo non se cometen fallos ortográficos. Este paso atrás de D. Ricardo afastou vidas e afectos, ruptura que aínda hoxe moitos lamentan. Pero sobre todo creou unha polémica que invadiu xornais, revistas, libros de conversas e loitas académicas que ninguén ten ánimos de celebrar.

Cando un se achega a esta literatura polémica sobre a ortografía aparecen os distintos obxectivos que moven o debate: desde buscar un instrumento de comunicación escrita para a comunidade lingüística galega, ata facilitar unha aproximación política entre Galicia e Portugal dentro dunha futura “Confederação Ibérica”; desde facilitar a aprendizaxe da lectoescritura mediante unha ortografía guiada pola fonoloxía da lingua oral ou, pola contra, retornar a criterios etimolóxicos que resuciten formas arcaicas sen correspondencia coa lingua actual. Non é infrecuente que nestes debates aparezan sintagmas, que nada teñen que ver coas disciplinas lingüísticas, como “ortografía patriótica” ou “escritores traidores”. Estas expresións esconden soamente sentimentos de autoestima feridos ou de defensa de grupos de militancia singular, moi lonxe de planificar un instrumento de futuro para a creación e comunicación escrita.

Era 1980 e os cinco libros escolares da serie de lecturas galegas «Lúa Nova» estaban xa repartidos por moitas escolas de Galicia. Grazas ás Bases pra unificación das normas lingüísticas do Galego os editores tiñamos unha incipiente normativa ortográfica, pero que aínda non era oficial. Xa había un ano que fundara Edicións Xerais e estaba preparando co grupo de mestres Avantar a serie «O noso galego» para os oito niveis de EXB. Levaba a Consellería de Educación da Xunta de Galicia o profesor Alexandrino Fernández Barreiro e había pouco tempo que nomeara a D. Ricardo Carballo Calero presidente da Comisión Lingüística da Xunta de Galicia. Nesta Comisión tamén estaban dos profesores amigos polos que souben que as normas que Carballo intentaba aprobar eran do tipo “pódese escribir A, pero tamén se pode escribir B” como resumiu na súa tese Serafín Alonso [Serafín Alonso Pintos (2006): O proceso de codificación do galego moderno (1950-1980). A Coruña: Fundación Pedro Barrié de la Maza, 276]. Cada quen tiña liberdade para escoller entre varias posibilidades. Achegueime a Santiago para falar co conselleiro e, mesmo na porta do seu despacho, cadrei co meu vello profesor Carballo Calero. “Teñen que comprender, díxome, que a máis alta autoridade académica universitaria da lingua galega son eu”. Insistiume en que as normativas non se deben á democracia senón a aptitude e competencia dos redactores. Tentei sen éxito que o conselleiro evitase aquela deleiba. Pouco tempo necesitaron estas Normas ortográficas do idioma galego para demostrar a súa inviabilidade.

Cando en 1983 se aprobou a Lei de Normalización Lingüística da Xunta de Galicia, centos de miles de libros de O Noso Galego dos oito niveis de EXB estaban xa repartidos por case todos os fogares con crianzas de Galicia. Todos estaban escritos coa normativa oficial das institucións académicas e políticas; as Bases elaboradas en 1977 pola lista de colaboradores que está ao comezo destas letras foron un paso que D. Ricardo non quixo dar coa maioría de colegas e antigos alumnos.

O Día das Letras Galegas de 1984 dedicouse a D. Armando Cotarelo Valledor. Tiña eu a responsabilidade, como subdirector xeral do libro, bibliotecas e arquivos, de editar un libro homenaxe a D. Armando e había de escoller os colaboradores. D. Ricardo xa levaba uns anos xubilado, pero conservaba un despacho na Facultade. Neste tempo aínda non firmaba Carvalho, pero na prensa e nalgunha revista xa usaba heterografías, sendo membro da Real Academia Galega. Citoume no seu despecho e agradoulle que lle pedise a súa colaboración para o libro que xa levaba título: A presencia de Armando Cotarelo en Galicia. Como non se podían admitir variantes fóra da norma oficial só quedaba a posibilidade que lle propuxen. “Entón que quere que lle faga sobre Cotarelo?” preguntou D. Ricardo. Pois, unha pequena antoloxía da obra literaria de D. Armando. “Moi intelixente, señor Maure”. E botou un sorriso. E en poucos día entregoume a súa “Escolla de textos galegos de Armando Cotarelo Valledor”.

Quen coñeza a súa vida de compromiso cultural e político, de prisión e represión administrativa, e sobre todo quen teña aproveitado o labor literario deste polígrafo, ten que recoñecer que ben merece a homenaxe do Día das Letras Galegas. Tamén é comprensible que os que sufriron atrancos no seu traballo de alfabetización das novas xeracións, os antigos alumnos e colegas de D. Ricardo que botaron a andar unhas Bases pra normalización en 1977, cando o primeiro catedrático de Lingüística e Literatura Galega non recoñeceu a grande sorte de poder ser un de tantos, o “primus inter pares”, é comprensible que a memoria non lles axude a celebrar este ano a nosa festa das letras.

D. Ricardo nos cinco últimos anos da súa vida deixouse converter no referente dos que mesturaban a crítica a administración galega coa defensa dunha heterografía teoricamente máis europea e presuntamente con máis futuro porque estaba próxima a ortografía portuguesa. Estes días, xentes que non naceran cando aparecera a «Lúa Nova», aproveitan o Día das Letras de D. Ricardo para defender unha escrita galega de presunta difusión universal, con marca de partido ou de sindicato, científica e patriótica ao mesmo tempo. O malo é que esta festa en este ano foi atacada por unha pandemia; en portugués, uma pandemia; e umha en que, D. Ricardo?

Val de Miñor, nadal 2020 .-X. M. Rivas»