28 de setembro: Convívio galego-brasileiro na Semente Corunha!

Convívio galego-brasileiro
«Esta quinta-feira, a Semente homenagea a comunidade brasileira da Corunha com um convívio galego-brasileiro desde às 18:30 no nosso local (após a atividade semanal de música e baile galego).
Às 18:30 será a quenda das crianças, para quem Suellen Balado, professora bilingue, pedagoga e responsável do grupo ” Mamães brasileiras em Corunha” fará um contacontos brasileiro.
Às 19:30 será o investigador da UDC, linguista e doutorando por partida dupla em análise do discurso e gramática galega, Victor Hugo Da Silva Vasconcellos, quem dará uma palestra sobre a importância do galego coma porta para comunicar-se com 270 milhões de pessoas.

Também ofereceremos um pequeno petisco brasileiro como merenda.

Esperamos que esta atividade seja do teu interesse e poder contar contigo!

Denis Vicente : «Onde quer se fale a língua portuguesa, de um modo peculiar a cada região, fala-se também o galego»

NATÁLIA CORREIA (C/ RUI CARDOSO), CANTIGAS DE AMOR E DE AMIGO DOS TROVADORES GALEGO-PORTUGUESES. 1974, GUILDA DA MÚSICA; Vinil LP, PT, DP038

«[…] Como já afirmamos anteriormente, o mero estabelecimento de fronteiras políticas, por si só, não estabelece uma fronteira linguística. Hoje, séculos após a Reconquista e o colonialismo do século XVI, o galego e o português ainda possuem enormes semelhanças. Semelhanças que não se restringem apenas a variante do português falado na Europa.

Uma familiaridade que atravessou mares e continentes. Onde quer se fale a língua portuguesa, de um modo peculiar a cada região, fala-se também o galego. Assim a iniciativa de conhecer mais a língua galega torna-se instrumento de aproximação de povos que compartilham cultura e identidade.

É comum que desde sempre estudemos a língua portuguesa através de suas reminiscências mais óbvias. A tradição formalista da maioria das gramáticas do português no Brasil não nos deixa mentir. Mas tornou-se insustentável continuarmos a dirigir nossos olhares somente para a Lusitânia e para a Península Itálica. É preciso lembrarmos da Gallaecia.

Um de nossos maiores poetas cantou a língua portuguesa como a “última flor do Lácio”. Uma perspectiva um pouco lúgubre, a meu ver. Prefiro imaginar que a língua que falamos aqui no Brasil é uma folha nova. Uma folha de uma árvore que tem suas raízes assentadas não em Roma ou em Lusitânia, e que continua florescendo e frutificando. Uma folha da árvore da Galiza».

Cf. Quilombo Noroeste

 

Mais de 50% dos trabalhadores transfronteiriços na Europa estão entre Portugal e Galiza

Galiza e Portugal
«Eurorregiões de Portugal, Espanha e França reúnem-se na segunda e na terça-feira para promover e aprofundar a cooperação e reivindicar o estatuto do trabalhador transfronteiriço, adiantou hoje o presidente do AECT Galiza – Norte de Portugal.

“Um dos objetivos do encontro é reivindicar o estatuto do trabalhador transfronteiriço. Faz parte das declarações das duas últimas Cimeiras Luso-Espanholas, mas não foi materializado. A Europa tem 1,3 milhões de trabalhadores transfronteiriços e a Galiza e o Norte de Portugal concentram mais de metade desses trabalhadores”, disse Nuno Almeida.

O responsável falava a propósito do segundo encontro dos Agrupamentos Europeus de Cooperação Territorial (AECT) ibéricos, que é organizado pelo AECT Galiza – Norte de Portugal (GNP), entidade que começou a funcionar em 2010, tendo sido pioneira na Península Ibérica e a terceira europeia.

O encontro realiza-se em Vigo e conta com a participação do AECT Aquitânia/Euskadi/Navarra, do AECT Pirenéus Mediterrâneo, do AECT Rio Minho, do AECT GNP, do AECT Chaves-Verín, do AECT Duero-Douro, do secretário-geral da Associação das Regiões Fronteiriças Europeias (ARFE) e do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), António Cunha.

Nuno Almeida observou que existem, em Portugal, França e Espanha, 16 estruturas com capacidade operacional para trabalhar os temas da cooperação fronteiriça, sendo que “10 dizem respeito a Portugal e Espanha, quatro a Espanha e França, um a Espanha, França e outros países, e outro relativo a Espanha e outros países”.

Ao nível da União Europeia, estão registadas no Comité das Regiões 87 destas estruturas.

O presidente do AECT – GNP destacou a importância do encontro “de entidades públicas de mais do que um país que se unem para resolver problemas e ultrapassar obstáculos administrativos”, como “braços operacionais” de cada uma das eurorregiões.

Numa nota de imprensa, o AECT – GNP esclarece que o encontro pretende continuar a incentivar a cooperação e o intercâmbio de experiências entre os AECT ibéricos “como entidades públicas de cooperação transfronteiriça de referência, essenciais para colocar em marcha”, nomeadamente, projetos cofinanciados pela União Europeia.

Encontrar novas formas de cooperação e de cuidar do espaço comum transfronteiriço ibérico é outro dos objetivos.

Durante o encontro, vai realizar-se uma mesa redonda sobre a Inovação para Enfrentar os Desafíos Comuns e outra sobra A Cultura e o Patrimonio Além Fronteiras.

O AECT GNP destaca que, nesta eurorregião, tem sido levado a cabo o projeto Nortear, com “uma ampla programação de intercâmbio artístico e cultural de um e outro lado da raia”, estando em curso a 8.ª edição do programa, com jovens escritores.

Por outro lado, refere o AECT GNP, o programa Iacobus, gerido desde 2014, promove e fomenta “sinergias e desenvolvimento de atividades de investigação, formação e divulgação entre universidades, institutos politécnicos ou centros tecnológicos da eurorregião”.

O AECT da Eurorregião Galiza – Norte de Portugal é constituído pela Junta de Galiza e pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N).

A Eurorregião Galiza-Norte de Portugal ocupa uma superfície total de 51 mil quilómetros quadrados (29.575 relativos à Galiza e 21.284 ao Norte de Portugal) e concentra uma população de 6,4 milhões de habitantes (2,8 milhões na Galiza e 3,6 milhões na região Norte de Portugal), segundo dados disponibilizados pela instituição.»

Cf. O Minho

Carmen Villarino Pardo: «Nélida Piñon: a ponte galego-brasileira de uma ‘mulher de raça’»

Artigo que faz parte do especial “OGALUS: Lusofonia” polo día mundial da lingua portuguesa, 5 de maio do 2023 (Cf. IGADI)

Nélida PiñonNélida Piñon
Por iniciativa do Grupo de docentes de português do Departamento de Filologia Galega da USC, Nelida Piñon foi a primeira mulher nomeada Doutora Honoris Causa pela Universidade de Santiago de Compostela em 1998. Na foto com o Padrinho, o Professor Catedrático José Luís Rodríguez. Fonte: USC

«Nélida Piñon foi uma mulher forte e, de certo modo (e com a necessária cautela), parecia-se com várias personagens de suas obras, tanto de contos quanto de romances. Era também “uma mulher de raça”, como se alude a Marta, a protagonista da novela A casa da paixão (1972).

Esta escritora e intelectual brasileira (Rio de Janeiro, 1937-Lisboa, 2022) sempre manifestou um grande interesse por explicar seu país, sua cultura e, no fundo, por explicar sua singularidade. Foi uma autora ‘herdeira de diversas culturas’ e, muito especialmente, da galega, que lhe transmitiu sua família -procedente de Terra de Montes, em Pontevedra-, e da brasileira, de que sempre se sentiu parte.

Sua presença era habitual, há décadas, em numerosos congressos e encontros internacionais –incluídas feiras internacionais do livro-, para além de em instituições acadêmicas dentro e fora do Brasil. De fato, durante anos viajou com frequência por diferentes lugares do mundo, e não apenas nas últimas décadas em que suas obras foram mais traduzidas e premiadas fora das fronteiras do Brasil (com prestigiadas distinções, como o Prêmio Juan Rulfo -1995- ou o Príncipe de Asturias das Letras -2005) e seus capitais literário e simbólico alcançaram destacada relevância.

A jovem que visitou a terra de sua família na Galiza quando era criança (e onde viveu durante quase dois anos) fez muitas outras vezes essa viagem –física, emocional e ficcional-; mas também descobriu, com apenas dois livros no mercado (Guia-mapa de Gabriel Arcanjo e Madeira feita cruz) e a condição de escritora recém estreada, um mundo diferente para ela em uma viagem aos Estados Unidos em 1965 –convidada pelo Departamento de Estado-, que lhe permitiu conhecer colegas de prestígio e comparar sua situação com a dos/as escritores/as de seu país, já mergulhados nos inícios de uma ditadura que se prolongou até 1985.

Em 1990, e com vários livros já no mercado (o último na altura, Doce canção de Caetana), entrou na Academia Brasileira de Letras (ABL), quem só em 1977 abriu suas portas às escritoras, com a incorporação de Rachel de Queiroz. Nélida Piñon passou a ocupar a cadeira número 30, proferindo um discurso que intitulou “Sou brasileira recente”. Nele, lembrava as origens galegas de sua família quem, com sua ida para o Brasil, lhe “ofertaram um país de presente” (Piñon, 2002: 78). Poucos anos depois, em 1996, tornou-se a primeira mulher a presidir esta instituição, no momento de seu primeiro centenário. Consciente dessa singularidade, em seu Discurso de Posse como Presidente (“A pátria do verbo”), no dia 12 de dezembro de 1996, lembrava que “tinha gosto em servir à literatura com memória e corpo de mulher” (Piñon, 2002: 10), que escrevia por ser sua “a memória coletiva da minha espécie feminina” e assumia o cargo “como mulher, escritora, cidadã brasileira” agradecendo aos membros da ABL que, “libertos de preconceitos confiaram na minha condição feminina” (11).

Uma voz de escritora que mostrou numerosas e diversas marcas (pessoais e literárias) de sua condição de mulher, ao longo de uma trajetória literária de mais de seis décadas, e cujas lembranças ecoam em dois de seus livros de caráter biográfico: Coração andarilho (2009) e Livro das Horas (2012). A autora de obras que abordam o erotismo a partir da perspetiva da mulher –publicadas em momentos muito diferentes da história sócio-política do Brasil- como A casa da paixão (ACP, 1972) e Vozes do deserto (2004) é também a escritora dos contos “Ave de Paraíso” e “Colheita” de Sala de Armas (1973) ou “I love my husband” e “O revólver da paixão” de O Calor das Coisas (1980), em que aborda a situação da mulher no espaço doméstico.

As protagonistas de seus textos são rebeldes (como Esperança de A República dos Sonhos –RS- ou Marta, de ACP), distraídas (Ana, de Madeira feita cruz ou Monja, de Fundador), submissas como Antonia (RS) ou decididas como Breta (RS). Umas e outras, em geral, encontram nessas atitudes modos de contestar aquilo que lhes foi imposto socialmente e atingem assim “um espaço próprio para viver, por vezes, fora do habitual ‘destino de mulher’ a que estavam habituadas” (Villarino Pardo, 2000: 418).

Em várias ocasiões, essas personagens aproximam-se de uma imagem que Piñon usou para se referir à Sara bíblica: “dona de uma memória oficialmente submersa” (Piñon, 1994: 55). Ela, ao casar com Abraão (interlocutor de Deus), “condenara-se ao mutismo, a viver uma memória sem nome, sem arquivo” (57). Através desta figura e de forma metafórica e resumida, a autora apresentou uma visão da história das mulheres no texto “A intriga de Sara” de seu livro O pão de cada dia. Fragmentos (Piñon 1994: 55-60) ou, de modo mais extenso, na conferência “O sorriso de Sara ou a memória clandestina”, proferida na Universidade de Santiago de Compostela (Galiza) em junho de 1996, como convidada do programa de eventos de seu Vº Centenário.

Nélida Piñon, quem já tinha recebido a Medalha Castelao da Xunta da Galicia em 1992 e regressado às terras da família em várias ocasiões, tornou-se -de novo com caráter pioneiro- a primeira mulher a obter a distinção de Doutora Honoris Causa da Universidade de Santiago de Compostela (USC), em 1998. Foi uma distinção que homenageou sua premiada e dilatada trajetória como escritora e intelectual, como evidenciou também um colóquio dedicado a sua obra (“Nélida Piñon: diferentes olhares e leituras”) naquela mesma altura, na Faculdade de Filologia da USC1. Em seu discurso como Doutora Honoris Causa, intitulado “Retorno ao centro”, evocou as memórias galegas -próprias e familiares- para tentar explicar melhor seu percurso literário em que, assinala, “desfruto, como escritora, da pujança e riqueza da língua portuguesa, tenho o Brasil como pátria, sou filha desta amada Galícia” (Piñon, 2002: 66)2.

Como mencionado anteriormente, é também a autora de A República dos Sonhos (1984), uma homenagem ficcional ao papel dos emigrantes (especialmente os galegos e galegas) na construção do Brasil. Escreveu também O livro das horas –com forte presença do ‘eu’ e de seu universo- em que lemos, com o eco do discurso de 1990 na ABL: “Há muito sinto-me antiga no Brasil. Roubei da história pátria os episódios que me faltavam, e sobra-me agora autoridade para crer em uma nação que reparta benesses” (Piñon, 2012: 137).

São várias as marcas que singularizam a autora carioca e algumas as ‘obsessões repertoriais’ mais presentes em seus textos e depoimentos, como a defesa do ofício de escritor ou a presença da memória e do mundo clássico; mas são, sem dúvida, a condição feminina e a “galeguidade” seus traços mais significativos, tanto como mulher quanto como escritora […]».

Ler máis en IGADI

 

Enrique Sáez: “A língua própria é a mais singela e barata ferramenta para o desenvolvimento económico e cultural que Galiza tem e não emprega”

“Negócios internacionais e afinidades culturais”. Contributo de Enrique Sáez na jornada «Notas para intervir em “Galiza na Lusofonia dos anos 20”»

«Case todos admitimos que os falantes de galego e português têm capacidade de perceber-se, falam línguas muito similares. Tive ocasião de aproveitá-lo durante os 12 anos que fui responsável pela presença do Banco Pastor em Portugal, através de uma filial especializada em fornecer crédito ao consumo a clientes de comércios e empresas de serviços. Case todos os meses passava um par de dias na central do Porto. Desde o princípio, empreguei o meu galego, aportuguesado, com clientes, parceiros, empregado, conselheiros, assessores e autoridades bancárias. A equipa humana era local, tomavam-me como um mais e falavam-me com naturalidade na sua língua. Devo acrescentar que, graças a esse contacto periódico, melhorei muito o domínio de um idioma que não é a minha língua materna.

São muitos os que contam com experiências similares e sabem que é muito importante falar o idioma local para fazer negócios e desenvolver estruturas operativas. Acredite muita empatia e faz todo mais singelo. O galego é uma poderosa arma de competência. Da acesso a uma comunidade de 300 milhões de falantes do português, mais numerosa que as do francês, alemão ou russo. Como pessoa com formação em economia e vencelhada ao mundo da empresa, devo destacar que a língua própria, que diz o Estatuto é a mais singela e barata ferramenta para o desenvolvimento económico e cultural que Galiza tem e não emprega.

Estamo-la desaproveitando, mergulhados numa identidade nacional na que o espanhol é o único idioma com projecção mundial. O galego também a tem, mas é prisioneiros de “guerras de religião” sobre como escrever ou como incorporar ao ensino o português. A Lei Valentín Paz Andrade do 2014 é o melhor exemplo de como o sistema político-burocrático pode frenar um processo de trazer riqueza a Galiza.

A magnífica exposição de motivos dessa norma, diz: “No actual mundo globalizado, as instituições galegas, comprometidas com o aproveitamento das potencialidades da Galiza, devem valorizar o galego como uma língua com utilidade internacional…. É preciso fomentar o ensino e a aprendizagem do português, com o objectivo, entre outros, de que empresas e instituições aproveitem a nossa vantagem linguística… Portanto, para a melhora do desenvolvimento social, económico e cultural galego, as autoridades devem promover todas quantas medidas sejam possíveis para melhor valorizar esta vantagem histórica.”

Mas o barco que ia pôr o nosso idioma no mundo leva uma eiva no motor que lhe impede arrancar. Está no artigo 2º que diz “O Governo galego incorporará progressivamente a aprendizagem da língua portuguesa no âmbito das competências em línguas estrangeiras nos centros de ensino da Comunidade Autónoma da Galiza.” Ou seja, ensinar o português aos adolescentes que falam galego como se fora chinês. Eles já sabem que não é necessário perder tanto tempo e não se apontam. A lei fracassou.

Desde a incorporação à União Europeia dos dois países ibéricos erguem-se pontes que nos achegam aos vizinhos do sul. A primeira foi a libertação do trânsito mercantil com a queda dos aranceis. Muitas empresas galegas aprenderam a internacionalizarem-se em Portugal. Galiza integrou-se mais na fachada atlântica de Ibéria, sempre com um balanço comercial favorável. A segunda ponte foi a auto-estrada costeira que se sufragou com fundos europeus e reforçou o funcionamento do comércio. O dinamismo gerado foi a causa principal de que, desde os 90, Galiza tenda crescer mais que a média de Espanha e tenha abandonado o grupo de CCAAs menos desenvolvidas. Séculos depois, voltamos ser norte.

Está pendente a ponte do transporte ferroviário, que já entra nos planos dos governos de Espanha e Portugal, graças a que este é mais sensato e aposta no eixo atlântico em lugar do AVE radial para desenvolver um ferrocarril moderno que inclua o transporte de mercadorias e conecte cidades, portos e aeroportos.

A quarta ponte é a da língua, a mais barata pois chega com reforçar um pouco o que há. Também a mais importante porque nos leva além do Minho, além do Atlântico, além do Sáhara, além do Índico. Compre ensinar português, desde o galego, a 100% dos estudantes de ensino médio. Se se faz bem, chega com dois ou três meses para que possam comunicarem-se, oralmente ao menos. Há outras coisas que se podem fazer, não custariam muito dinheiro e ajudariam à projecção do idioma próprio no plano internacional: abrir a televisão digital a canais de Portugal e outros países lusófonos e que TVG adquira séries populares desses lugares, nomeadamente do Brasil, e, se é preciso, as subtitule em galego “normativo” nos primeiros tempos para melhorar a compreensão.

Como demonstrou a aprovação unânime da Lei Valentín Paz Andrade, há um grande consenso a favor de desenvolver a vertente mundial da língua que aqui nasceu e Portugal espalhou pelo planeta. Não é uma língua estrangeira, necessita-se só um pouco de imaginação e determinação, valores escassos no âmbito público, que perde muito tempo em questões marginais, agitadas quotidianamente por interesses corporativos. Os siareiros da Espanha uniforme aproveitam as pequenas liortas para bloquear-nos. Defendem interesses alheios, não querem que nós sejamos mais competitivos graças a um idioma que menosprezam.

Galiza vai necessitar que a sua sociedade civil faça um grande esforço neste tema. O meu agradecemento à Deputação de Pontevedra e ao Igadi por organizarem estas jornadas para analisarmos e debatermos um problema mais grave que o do chapapote que invadiu as nossas praias há 20 anos, mas muito menos visível. Há demasiados interessados em agachá-lo, deitando-lhe areia acima, em lugar de limpar diferenças menores entre línguas de comum origem.

enrique-saez

Enrique Sáez Ponte (cf. blogue pessoal) é licenciado en Económicas e Dereitos pola Universidade de Santiago de Compostela (USC). Traballou durante trinta anos no Banco Pastor, onde desenvolveu distintas funcións de Dirección os últimos catorce. Actualmente é presidente do Grupo Torres & Sáez e da Fundación Juana de Vega. Tamén é patrón do Museo do Pobo Galego e membro do consello asesor do Instituto Galego de Análise e Documentación Internacional (IGADI).»

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NOTA: Notas para intervir em “Galiza na Lusofonia dos anos 20”, jornada organizada pelo IGADI para a Deputação de Pontevedra. Casa das Campás. 3/11/22

Cf. IGADI

Miguel Anxo Bastos: “Galego na Europa? Não é preciso, já está”

Miguel Anxo Bastos

«Uma das grandes conquistas do nacionalismo catalão nas suas negociações para a constituição da Mesa do Congresso é conseguir a oficialidade da língua catalã e do resto das línguas co-oficiais espanholas nas instituições europeias. No caso de tal iniciativa poder ser levada a cabo, algo bem mais complicado do que parece, não podemos deixar de felicitar os catalães e os bascos pela medida, mas a questão é saber se nos devemos felicitar na mesma medida. Digo isto por duas razões, uma porque a língua galega já é oficial na Europa e a outra porque se estabeleceria a ideia de que a língua que falamos é uma língua diferente da portuguesa, a ponto de necessitar de tradução oficial, algo com que não concordo, pois entendo que o galego e o português são a mesma língua falada aqui e ali com características peculiares. Aliás, não se trata apenas de uma posição de reintegracionistas radicais ou de romanistas como o Eugenio Coseriu, mas também a dum famoso (por ser acusado de espanholista) linguista, D. Gregorio Salvador, no seu livro sobre as línguas de Espanha, que se espantava com a divisão artificial que aqui se fazia entre o galego e o português, conhecendo ele bem as duas línguas. Se seguirmos esta lógica de diferenciação linguística, suponho que também teremos de traduzir o catalão por valenciano e o maiorquino por menorquino nas instituições da UE uma vez que, segundo alguns, são também línguas diferentes. Se, pelo contrário, determinarmos que o galego e o português são a mesma coisa, já podemos utilizá-los oficialmente, como fez Camilo Nogueira quando foi deputado europeu, falando o que nós chamamos galego e pedindo um intérprete português sem qualquer problema, e já dispomos de toda a documentação necessária na nossa língua na sua variante internacional.

Algo semelhante está a acontecer com a rotulagem dos produtos na nossa língua, pedida neste jornal há alguns dias. Quando vou às compras, vejo que cada vez mais produtos estão corretamente rotulados, suponho que porque muitas empresas utilizam a Península Ibérica como unidade de distribuição dos seus produtos, o que me ajuda a conhecer os nomes corretos de muitos novos produtos alimentares ou de limpeza que não tinham um nome tradicional, mas que agora o têm seguindo o génio da nossa língua e sem ter de recorrer ao espanhol. Suponho que o que se está a defender é a rotulagem na variante territorial da língua portuguesa aqui falada e não vejo a necessidade de fazer as empresas incorrerem em mais custos só porque alguns teimam em querer diferenciá-la. Insisto em que o principal é estabelecer a definição do que é a nossa língua, e reitero-o porque parece haver uma certa ambiguidade no mundo nacionalista, pelo menos na maioritaria, a este respeito. As forças não nacionalistas parecem ser mais claras e defendem que se trata de mais uma das línguas espanholas, exclusivamente confinada ao território do Estado. Por um lado, “a nossa língua vive e floresce em Portugal” e, por outro, pedimos coisas que já nos estão disponíveis, como plataformas audiovisuais com programação em galego, que basta um clique para obter, ou o já referido estatuto oficial na Europa. Este debate de definição é muito relevante, não só porque afeta a nossa estratégia política e as nossas relações internacionais, mas também porque, se a ideia de unidade linguística for correta evitaria não só que fizéssemos exigências com pouca utilidade, mas evitaríamos contribuir ainda mais para enfraquecer a nossa língua, afastando-a do tronco comum e dialectalizando-a. Se nós próprios não somos claros a este respeito, não podemos esperar que os atores políticos externos o sejam».

Cf. Nós Diario: Galego na Europa? Não é preciso, já está

Terreiro galego da Lusofonia: Batuko Tabanka

DJUNTA MÔ, de Batuka Tabanka

«Temos dedicado atenção quer a Cabo Verde, quer à Galiza, dois países irmãos, duas culturas intimamente ligadas a Portugal – a galega a montante, nos alvores da nossa identidade, a cabo-verdiana a jusante, consequência das nossas navegações e do povoamento que fizemos das terras que achámos. Ligações entre essas duas culturas? Existem e não são poucas».

«Há uma colónia de cabo-verdianos na Galiza, maioritariamente constituída por homens do mar. Um grupo de doze cabo-verdianas, residentes em Burela (Lugo), ensaia desde há cerca de uma dezena de anos, recuperando ritmos ancestrais como a «Batuka». Vamos falar destas corajosas mulheres que não querem que a memória e a voz da sua cultura se percam. O grupo nasceu durante um jantar em Burela. Uma das actuais componentes do grupo, perguntou: por que não batucamos como as velhas da nossa terra? E a pergunta, floresceu, resultando no «Batuko Tabanka».

Diz Antonina de Cangas, a solista do grupo: «As mulheres não podiam falar e, comunicavam, batendo no peito como manifestação de protesto. Depois utilizaram um trapo molhado» e depois, acrescentou, um saco de couro colocado entre as pernas. A «batuka» é uma música de trabalho, como a da «pandereteira» galega ou a das adufeiras portuguesas; está à margem das dolentes mornas que Cesária Évora internacionalizou.»

Cf. Estrolábio