«Retomo a posição onde concluí a minha última coluna de opinião nestas páginas: o breve e valioso livro de Ramón Villares, recentemente publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. “Galiza – Terra irmã de Portugal” é um daquelas obras que iluminam tanto a memória quanto o futuro. O autor traça uma arqueologia brilhante da “irmandade existente entre a Galiza e Portugal”, irmandade “atlântica”, natural e cultural, que foi historicamente “dividida” por dois reinos e estados, mas para onde o presente e o futuro sempre apontam. “Subjacente a esta realidade cultural e política, está a continuidade das suas paisagens e as frequentes relações transfronteiriças das suas gentes, que não percebem de fronteiras ou que as atravessam sem disso se dar conta”, nota Villares, referindo-se aos milhares de nortenhos e galegos que ainda hoje “cruzam a raia” quotidianamente, cujas famílias se miscigenaram, na esteira do que aconteceu na Galécia e até aos dias de hoje. “Essa divisão – nota Villares – nunca chegou a concluir-se por completo. (…) As semelhanças são indeléveis, os diálogos nunca cessaram”.
O futuro sempre aponta em direção à nossa identidade, à condição territorial e histórica, à nossa vocação coletiva. Não é possível traçar horizontes e políticas de sucesso sem o conhecimento da matriz sociocultural e económica dos territórios, e nunca a recalcando.
Justamente amanhã reúne, em Vila Nova de Gaia, a Comissão Luso-Espanhola de Cooperação Transfronteiriça, para aprovar contributos para a agenda da Cimeira Ibérica, que se realizará, também a Norte, em outubro, na qual se definem as grandes agendas e dinâmicas políticas da cooperação entre os dois países.
Como explica Villares, “a integração europeia e o desaparecimento parcial das fronteiras de Estado favorecem que se pense esta irmandade atlântica em termos mais culturais do que políticos, com um maior peso atribuído a uma estratégia europeia que ultrapassa os estados nacionais”. E remata: “parece claro não só que o futuro aumentará a integração destas regiões [Galiza e Norte] outrora divididas, mas também que os seus valores identitários comuns poderão alcançar uma nova dimensão e um importante peso regional no quadro da União Europeia, dada a sua condição de países atlânticos, densamente povoados, economicamente ativos e com uma grande atração patrimonial e turística”.»