«“Galiza e a Lusofonia perante os desafios globais”
Ponte Vedra, 27 e 28 de março de 2019
1. Num mundo cada vez mais globalizado e interconectado, as relações históricas da Galiza com Portugal e os territórios intercontinentais de língua oficial portuguesa, situam-nos ante uma oportunidade histórica para a paradiplomacia e ação internacional galega. Os desafios globais do século XXI encontram na nossa língua, e na nossa identidade, ferramentas com capacidade de retorno e criação de oportunidades para a nossa sociedade.
2. Existe uma relação cada vez mais indivisível entre linguagem, economia e comunicação. A interação da linguagem dentro das relações económicas e culturais permite a fluidez da cooperação e o desenvolvimento de projetos conjuntos, sendo um elemento facilitador. A Galiza e o mundo lusófono têm esta vantagem comparativa. A lingua é, portanto, um ativo para as relações comerciais e económicas no mundo de hoje. O III Congresso de Estudos Internacionais da Galiza achegou-se a estas perspetivas com o objetivo de promover uma visão integral.
3. O quinto aniversário da Lei «Paz-Andrade», Lei do Parlamento da Galiza 1/2014 de 24 de Março para o Aproveitamento da Língua Portuguesa e Vínculos com a Lusofonia, serviu de contexto para o III Congresso, como oportunidade para avaliar o seu desenvolvimento e seus significados, valorizando as suas possibilidades de futuro.
4. A grande conclusão do III Congresso de Estudos Internacionais da Galiza é que existe um reconhecimento total ao marco que representa a Lei, e das suas imensas possibilidades para o desenvolvimento socioeconómico da Galíza no horizonte do S.XXI, mas fortes divergências entre as diferentes forças políticas e agentes sociais quanto ao ritmo e direção das medidas para o desenvolvimento da lei. Assim, as sensações de sucesso e fracasso em torno dos passos da Galiza para o encontro com o mundo da língua oficial portuguesa são coexistentes.
5. As fórmulas para a introdução generalizada da língua portuguesa no ensino na Galiza ou o eventual ingresso da Galiza na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), identificaram-se ao longo das diversas sessões como os desafios imediatos e os pontos de partida estruturais para dotar a Lei dum desenvolvimento em próprio, que transcenda o simbólico e que aspire a mobilizar a sociedade galega e os seus agentes económicos e socioculturais mais dinâmicos.
6. Ao mesmo tempo, foi um lugar comum entre as diferentes participantes nas distintas sessões do Congresso, identificar a necessidade de uma maior participação dos agentes chaves na internacionalização da Galiza, nas medidas que, a partir da Xunta de Galícia, se impulsionem. Assim, o papel das Universidades, das Câmaras de Comércio, associações de empregadores ou de clusters económicos e culturais, entendem-se como chave e catalisadores para um real desenvolvimento da Lei e aproveitamento das suas oportunidades.
7. Além da Galiza, a própria institucionalização da Lei posicionou-nos de maneira diferencial no âmbito do Estado espanhol e da União Europeia, abrindo-nos a oportunidade de criar e normalizar mecanismos de relação internacional que permitam ultrapassar estereótipos estabelecidos nas visões geopolíticas tradicionais de Espanha e Portugal. Neste sentido, a possibilidade da criação de uma Casa da Lusofonia na Galiza dentro da estratégia de Casas geográficas e temáticas promovidas pelo Ministério de Assuntos Exteriores espanhol, observa-se como uma interessante linha de trabalho para a Lei «Paz-Andrade», bem como um valor agregado não esperado para a ação internacional, espanhola e europeia.
8. Ao mesmo tempo, a presença institucionalizada da Galiza no espaço da lusofonia e a CPLP já é uma via de renovação e refundação da própria ideia lusófona em si, enriquecendo-a e dotando-a de novos sentidos e significados no horizonte do S.XXI. O mundo lusófono atual não poder ser centrípeta ou provido de rigidez centralista; é policéntrico e com sentido multilateral, e assim deve estimular-se em toda a parte, como ficou demonstrado no III Congresso.
9. Esta condição proporciona uma dimensão particularmente estratégica para a abordagem galaico-lusófona para um mundo cada vez mais global, multipolar e multilateral neste século XXI. Assim, a necessária reinvenção da lusofonia como espaço de encontro intercontinental tem na participação da Galiza uma oportunidade pedagógica e real de inovação e consolidação.
10. Atualmente, mais de 250 milhões de pessoas falam português em todo o mundo. Até 2050, estima-se os países africanosde língua oficial portuguesa cheguem aos 400 milhões de habitantes, ultrapassando o Brasil, como o continente com o maior número de falantes de português. O III Congresso revelou que, sermos capazes de exercer como galegos na sociedade global atual, nos obriga a tomar medidas urgentes para materializar essas vantagens comparativas antes que seja tarde demais, no âmbito e na natureza do S.XXI.
11. A maior identidade galega, maior vantagem competitiva, comercial, cultural, desportiva, social, colaborativa, etc. terá nosso país para aliviar seu declínio, não apenas demográfico. Isto parece mais necessário do que nunca dada a permanente desvalorização de nosso caráter como nacionalidade histórica […].»
Cf. Instituto Galego de Análise e Documentación Internacional